A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) iniciou nesta sexta-feira (18) uma missão na Nicarágua e pediu ao governo do presidente Daniel Ortega que “pare imediatamente” com a repressão a manifestantes e que tome medidas “urgentes” para garantir as liberdades públicas.
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“Pedimos ao Estado da Nicarágua o fim imediato da repressão dos protestos”, afirmou a relatora para o país centro-americano da CIDH, a chilena Antonia Urrejola, em uma declaração lida em coletiva de imprensa.
A CIDH reiterou no início de sua visita sua condenação “às mortes, aos desaparecimentos e às detenções arbitrárias de manifestantes, ativistas e jornalistas que têm sido registradas no país desde o início dos protestos”, em 18 de abril.
“Pedimos às autoridades que investiguem diligentemente esses fatos, julguem e sancionem os responsáveis, e reparem as vítimas”, pediu a Comissão.
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Enquanto a CIDH realizava seu trabalho na Nicarágua houve confrontos entre as forças de seguranças e manifestantes na cidade de Jinotega, localizada ao norte do país.
A missão da CIDH chegou na tarde quinta-feira a Manágua depois de obter a anuência do governo para realizar uma visita de campo de quatro dias para observar a situação de direitos humanos no contexto dos protestos cidadãos, que deixaram 63 mortos e mais de 500 feridos após quase um mês de protestos, segundo organismos humanitários.
A entidade autônoma da Organização de Estados Americanos (OEA) levou o governo a adotar medidas de caráter urgente para garantir o livre exercício da liberdade de expressão, a reunião pacífica e a participação política de todas as pessoas.
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A CIDH também expressou sua “preocupação” com os desaparecidos e disse que “é obrigação do Estado colocar todos os meios a seu alcance até encontrar o paradeiro” dessas pessoas.
Dezenas de pessoas foram a uma janela que a CIDH abriu em um hotel para receber denúncias, entre elas dos familiares de Javier Munguía, de 19 anos, que desapareceu em 8 de maio e cujo corpo foi encontrado nesta sexta-feira no necrotério, disse à AFP a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez.
“Vários presos políticos que saíram (da prisão) de El chipote disseram que (Javier) estava lá, e agora ele aparece aqui morto”, disse a repórteres Donald Mendoza, avô do falecido.
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A missão da CIDH se encontrará nessa sexta-feira com autoridades do Estado nicaraguense, a sociedade civil e as pessoas que foram vítimas da repressão.
“A CIDH recolherá testemunhos de estudantes, indivíduos e parentes que foram afetados” pelos protestos em Manágua, nas cidades de Masaya, León e Matagalpa, disse a comissária.
A Comissão informou que tem “uma reunião não confirmada com o presidente” Ortega e que também se reunirão com os bispos que mediarão o diálogo entre o governo e a oposição.
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– Novos confrontos –
Novos protestos e enfrentamentos votaram a ser registrados nesta sexta-feira na Nicarágua, quando se completa um mês dos protestos antigovernamentais que deixaram 63 mortos, enquanto uma missão da CIDH instava o governo a cessar a repressão e garantir as liberdades públicas.
Os confrontos entre manifestantes e antimotins e grupos de choque continuam em alguns pontos do país apesar do diálogo nacional entre o governo do presidente Daniel Ortega e estudantes, empresários e grupos da sociedade civil com mediação da igreja católica.
Um adolescente de 16 anos morreu atropelado por um ônibus, supostamente dirigido por um paramilitar que atacou sua posição atrás de uma barricada nas imediações da Universidade Politécnica (Upoli), denunciaram jornalistas e dirigentes estudantis nas redes sociais.
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Os estudantes permanecem entrincheirados na Upoli desde 19 de abril e montaram blitzes nos arredores para evitar ataques de grupos de choque na aproximação da polícia, segundo dirigentes estudantis e vizinhos do local.
A Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) também está ocupada por seus estudantes, enquanto o transporte público é escasso na capital e as aulas estão suspensas nas escolas públicas e privadas.
A crise política afeta a economia, principalmente o comércio e o setor do turismo.
O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) registrou 63 mortos desde o início das manifestações, incluindo o cineasta guatemalteco Eduardo Spiegeler, falecido na quarta-feira enquanto filmava a derrubada, durante protestos, de uma das árvores da vida, monumentos simbólicos do governo.
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* AFP