Cidades de Santa Catarina estão determinando o corte e medidas para conter o cultivo da Espatódea (Sphatodea campanulata), uma árvore com flores tóxicas prejudiciais a insetos e pássaros. Apesar da lei estadual que proíbe o plantio de novas mudas, alguns municípios propuseram leis mais duras para extinguir de vez a espécie de solo catarinense. 

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Conhecida como Bisnagueira, a planta tem origem africana e foi introduzida no Brasil como árvore ornamental e integra o paisagismo de muitas cidades de Santa Catarina. O grande número de botões, com aberturas sucessivas, garante longa floração. Além disso, as flores com formato de tulipa e de coloração forte chamam atenção.

No entanto, o néctar produzido pelos botões florais pode ter efeitos tóxicos para insetos, como formigas e abelhas nativas, e até mesmo para aves, como beija-flores, segundo o professor João de Deus Medeiros, do Departamento de Botânica da UFSC. Ele explica que a substância funciona como uma armadilha. 

— É uma substância açucarada de consistência gelatinosa. Como é uma substância pegajosa, muitos insetos ficam aprisionados no interior da flor — disse Medeiros. 

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Além disso, o professor diz que a abelha contaminada poderá levar o produto para a colmeia e pode alterar o processo de confecção das ceras nos favos. Porém, ainda há poucos estudos sobre como a substância afeta a qualidade do mel. 

ÁRVORE EXÓTICA PROIBIDA EM SC
A Espatódea (Família Bignoniaceae) é de origem africana, mas se espalhou por vários continentes. No Brasil, a planta foi introduzida como ornamental.
APELO PAISAGÍSTICO
Também conhecida como bisnagueira, a Spathodea campanulata é uma árvore invasora de rápida propagação.
As flores têm o formato de tulipa e começam a brotar a partir dos quatro anos, geralmente na primavera e verão.
25m
Numerosos botões com aberturas sucessivas garantem longa floração.
Mantida em locais abertos e ensolarado, a Spathodea campanulata pode viver por mais de 80 anos.
FLOR DE BELEZA TÓXICA
Os principais polinizadores são os pássaros, mas o pólen abundante e o néctar adocicado atraem muitos insetos.
Um alcalóide neurotóxico está presente
na mucilagem dos botões florais, e acredita-se que seja transferido para o néctar e o pólen das flores.
Substância viscosa com a função de proteger os botões e as estruturas reprodutoras no interior da flor, reduzindo o ataque dos insetos, que ficam grudados e impedidos de se alimentar.
botões florais
As abelhas, atraídas pelo pólen, têm o sistema nervoso afetado pelo alcalóide, e morrem. Os beija-flores também são atingidos.
A abelha contaminada pode levar o pólen para a colmeia, alterando o processo de confecção das ceras nos favos.
Além disso, a mucilagem nas flores são verdadeiras armadilhas, pois as abelhas ficam presas e morrem algum tempo depois.
A presença da bisnagueira pode afetar a polinização de outras plantas que dependem das abelhas, especialmente as Meliponini, que são abelhas nativas sem ferrão. O plantio de novas mudas está proibido em território catarinense.
INFOGRAFIA: Ben Ami Scopinho, NSC Total
FONTE: bióloga Luciane da Rocha, professora do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e do Colégio de Aplicação da UNIVALI, e João de Deus Medeiros, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina.

Lei proíbe plantil

Desde janeiro de 2019, uma lei estadual proíbe a produção de mudas e o plantio desta árvore em todo território catarinense. O infrator que descumprir a lei poderá pagar multa, no valor de R$ 1 mil por planta ou muda produzida, a ser aplicada em dobro no caso de reincidência.  

No entanto, ao menos dois municípios, Nova Trento, na Grande Florianópolis, e São Ludgero, no Sul catarinense, tinham legislação própria antes da determinação estadual. 

Depois que a lei catarinense entrou em vigor, oito municípios do Vale do Itajaí, Sul e Norte do estado, publicaram no Diário Oficial regras que envolvem a planta. Em Indaial e Pomerode, no Vale do Itajaí, há autorização de corte e poda da árvore. 

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Planta Espatódea (Spathodea campanulata) tem origem africana
Planta Espatódea (Spathodea campanulata) tem origem africana (Foto: João de Deus Medeiros/ Arquivo pessoal)

A pauta mais recente está em tramitação na Câmara dos Vereadores de Joinville, no Norte do Estado. O vereador Adilson Girardi (MDB) propôs um projeto de lei para poder modificar o Código Municipal do Meio Ambiente. Diferentemente dos outros municípios, a proposta quer restrições para outras espécies.  

— A nossa proposta é um pouco mais abrangente. Inclui a possibilidade de poda da árvore em caso de não ser possível a sua retirada. Além disso, incluímos restrição para árvores tipo Ficus benjamina, cujas raízes superficiais acabam destruindo calçadas e pavimentos — explica o vereador.  

Girardi afirma que o objetivo é estimular a substituição da planta por espécies nativas e, no caso de manutenção da árvore por impedimento do corte, que a poda seja feita antes da florada. 

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Corte de Casuatiana
Corte de Casuatiana (Foto: Marcos Eugênio Maes/ IMA)

Espécies com plantio e manutenção proibidos em SC 

Apesar das restrições para o plantio em Santa Catarina, a espatódea não integra a lista de espécies de árvores consideradas como “exóticas invasoras” que consta na Resolução do Consema nº 08/2012. Onze árvores integram esse documento, por conta do rastro de prejuízos ambientais, sociais, econômicos ou à saúde no estado.

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Segundo o biólogo Marcos Eugênio Maes, que é coordenador de Conservação de Flora do IMA, o problema das espécies exóticas invasoras começou a receber mais atenção nos últimos 15 anos. 

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— É considerado atualmente um problema bastante grave. A lista se estabeleceu a partir de uma base de dados que tem do Instituto Hórus, que tem algumas espécies monitoradas. A partir de análises de como a espécie está estabelecida no estado, se está no estágio de invasão, da quantidade de indivíduos e se já está provocando impactos, foi estabelecida a lista — explicou. 

Na lista oficial de espécies exóticas invasoras de Santa Catarina aparecem algumas árvores que estão proibidas de plantio e manutenção, sendo necessário o corte e o controle por parte dos proprietários: 

– Acácia-de-espigas (Acacia longifolia) 

– Acácia-mimosa (Acacia podalyriifolia) 

– Acácia-negra (Acacia mearnsii) 

– Casuarina (Casuarina equisetifolia) 

– Cheflera (Schefflera arboricola) 

– Cheflera (Schefflera actinophylla) 

– Cinamomo (Melia azedndarach) 

– Ipê-de-jardim (Tecoma stans) 

– Pau-incenso (Pittosporum uulatum) 

– Saboneteira (Aleurites moluccana) 

– Sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia)

Ipê-de-jardim (Tecoma stans)
Ipê-de-jardim (Tecoma stans) (Foto: João de Deus Medeiros/ Arquivo pessoal)

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