O segundo lugar de Cidadão Kane na lista do British Film Institute (BFI), atrás de Um Corpo que Cai, representa uma queda em relação ao que se viu nas últimas décadas.

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É possível, no entanto, interpretá-lo de outro modo: só um grande filme, talvez o maior de todos, se mantém por tanto tempo no topo.

– A “medalha de prata” de Kane equivale a um atestado de que o longa resiste como um marco para a compreensão do cinema moderno – defende Sérgio Rizzo, crítico de São Paulo. – Mais de 70 anos depois de seu lançamento, lá continua ele, ainda firme e forte.

Enquanto Rizzo diz “soltar rojões” para a colocação de Tokyo Story, do japonês Yasujiro Ozu, terceiro mais lembrado entre os 846 críticos ouvidos no levantamento do BFI e primeiro entre os 358 cineastas, Luiz Zanin Oricchio disse a ZH achar “pouco” a 10ª colocação de 8 ½, o “crème de la crème de Fellini”. Mas a lista é “respeitabilíssima” e “não contém qualquer aberração”, afirma Zanin.

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Contestáveis são os rankings que se propagam em votações massivas de fãs via internet, caso, por exemplo, daquele que é exibido pelo IMDb.com, o maior banco de dados do cinema. Mesmo que só tenha votos de produtores e cinéfilos cadastrados, alguns títulos já se aproximam de 1 milhão de avaliações, ostentando notas bizarras como a que conduz o drama Um Sonho de Liberdade (1994), com Tim Robbins e Morgan Freeman, ao topo entre os melhores filmes já lançados (veja ao lado).

– No fundo, acho tudo isso muito divertido – diz Ana Maria Bahiana, jornalista brasileira que faz a cobertura de Hollywood em Los Angeles. – Uma lista é só isso: a opinião de um grupo de pessoas num determinado momento. Querer ler mais do que isso num ranking é dar a ele uma importância que ele não tem. Apesar de, como disse, ser divertido.

A troca voraz de informações dos novos tempos, como lembra o americano Roger Ebert em pensata sobre a nova lista do BFI publicada em seu blog, faz com que as listas recentes sejam particularmente diferentes daquelas publicadas em outras décadas. “Na era do DVD, todos os 50 primeiros colocados estão disponíveis”, escreve Ebert, “ao passo que, em 1952 (quando saiu o primeiro ranking do BFI), a não ser por sessões isoladas, a maioria deles só podia ser encontrada em algumas poucas cidades grandes”.

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É interessante notar, também, a ausência de produções recentes – algo que não acontecia antes, vide o exemplo de A Aventura, de Antonioni, vice-campeão no levantamento feito em 1962, apenas dois anos após seu lançamento. Na lista deste ano, há apenas dois filmes lançados depois de 2000 entre os 50 mais bem colocados: Amor à Flor da Pele (2000), de Wong Kar Wai, e Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch, em 24º e 28º, respectivamente.

Em compensação, há três longas lançados nos anos 1920 entre os 10 primeiros (Aurora, O Homem com a Câmera e A Paixão de Joana d?Arc). Além disso, o 11º colocado é O Encouraçado Potemkin, que Sergei Eisenstein lançou em 1925, e o 12º, O Atalante, que Jean Vigo lançou em 1934.

Só depois deles, em 13º, é que vem Acossado (1959), de Godard, o marco inicial da nouvelle vague tão cultuada pelos críticos mais jovens. O que não deixa de ser curioso, embora talvez signifique pouco além de uma opinião de um grupo de especialistas num determinado momento.

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Ranking paralelo do BFI, com votos apenas de cineastas:

1. Tokyo Story, de Yasujiro Ozu (1953)

2. 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968)

3. Cidadão Kane, de Orson Welles (1941)

8 ½, de Federico Fellini (1963)

5. Taxi Driver, de Martin Scorsese (1976)

6. Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola (1979)

7. O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972)

Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock (1958)

9. O Espelho, de Andrey Tarkovsky (1974)

10. Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica (1948)

O mais recente ranking do American Film Institute (de 2007):

1. Cidadão Kane, de Orson Welles (1941)

2. O Poderoso Chefão, de F.F. Coppola (1972)

3. Casablanca, de Michael Curtiz (1942)

4. Touro Indomável, de Martin Scorsese (1990)

5. Cantando na Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly (1952)

6. …E o Vento Levou, de Victor Fleming (1939)

7. Lawrence da Arábia, de David Lean (1962)

8. A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993)

9. Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock (1958)

10. O Mágico de Oz, de Victor Fleming (1939)

O ranking do IMDb.com (2012):

1. Um Sonho de Liberdade, de Frank Darabont (1994)

2. O Poderoso Chefão, de F.F. Coppola (1972)

3. O Poderoso Chefão II, de F.F. Coppola (1974)

4. Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (1994)

5. Três Homens em Conflito, de Sergio Leone (1966)

6. 12 Homens e uma Sentença, de Sidney Lumet (1957)

7. A Lista de Schindler, de Steven Spielberg (1993)

8. Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan (2008)

9. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, de Peter Jackson (2003)

10. Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca, de Irvin Kershner (1980)

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