Entre pilhas de material rejeitado por habitantes de São José, na Grande Florianópolis, uma mulher construiu a vida que o destino tentou lhe negar.

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As mãos de Aparecida “Cida” Maria da Silva, 51 anos, que fundou, no Bairro Sertão do Maruim, a Associação Comunitária Aparecida de Reciclagem de Lixo Sociocultural (Acareli), trazem as marcas de quem trabalha para transformar o lixo de muitos no sustento de outros, há 20 anos, assim como acontece com personagens da novela Avenida Brasil.

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No entanto, os olhos continuam acolhedores como na época em que criou seus 10 filhos – três biológicos, sete do coração.

Viúva, Cida veio para São José aos 22 anos, deixando sua terra natal – o Mato Grosso – em busca de melhores oportunidades para criar suas crianças – Rosa, Edinaldo e Adriano. Trabalhou como faxineira por quatro anos, até que, por acaso, descobriu a reciclagem. A família já havia engordado, na época, com Júlia, Suely e Rose, filhos do ex-casamento de seu novo companheiro.

Pelas ruas da cidade

– A Suely queria ser escoteira e participar do Clube dos Desbravadores da Igreja Adventista. Pra isso, tinha que comprar roupas. Aí começou a catar papelão pra vender e eu resolvi ajudar. Era eu e ela pelas ruas da cidade – recorda.

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O que começou por acaso se transformou em sustento e ganhou novas dimensões quando Cida conseguiu parceria com empresas de coleta de lixo – como a Ambiental, responsável pela coleta em São José.

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Matriarca encaminhou os filhos

Cada tijolo da casa em que Cida mora, no terreno da cooperativa, foi erguido com o dinheiro da reciclagem, conquistado com o mesmo esforço que pagava os pratos de comida que as crianças devoravam em fila, no chão.

À família, juntaram-se Clarice e Cláudio, órfãos acolhidos por Cida, além de Preta, uma sobrinha, e Felipe, filho de Rosa, um neto criado como filho.

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– Hoje eles estão esparramados por aí. Foram crescendo, casando… Conseguiram trabalho de carteira assinada. Aqui, comigo, ainda moram a Suely e a Rosa – conta Cida, que tem cinco netos, todos estudando.

Suely também segue os passos da mãe, construindo sua casa própria graças à reciclagem. Do lixo, retiram tudo o que possa ser útil – de roupas e calçados a peças de decoração.

Em uma casinha de madeira, reúnem uma coleção de brinquedos e artefatos antigos. O espaço, todo decorado, foi reivindicado pelos cães de estimação – sete, atualmente.

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Rotina na cooperativa é cansativa

Cerca de 30 pessoas trabalham na Acareli, reunindo todo tipo de material para reciclagem – vidro, papel, latas, plástico e metais. Ganham, em média, um salário mínimo por mês – às vezes menos – em uma rotina pesada de trabalho diário. Carregamentos de lixo da coleta seletiva chegam todos os dias na cooperativa.

O que não serve para reciclagem é depositado na entrada do terreno para ser recolhidos pelo caminhão de lixo, três vezes por semana. Para estruturar o local de trabalho, contam com o auxílio de projetos de grandes empresas da região.

Mulheres são responsáveis

Cida conta que as mulheres são maioria, e grande parte trabalha sozinha para criar os filhos. Algumas são solteiras. Outras, separadas ou viúvas. Para as poucas que são casadas, é comum enfrentar a resistência dos maridos.

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– As mulheres são muito responsáveis e não vão deixar os filhos passarem necessidade. Elas trabalham a manhã toda, correm pra casa na hora do almoço pra dar comida pras crianças, e depois voltam – elogia Cida.

Mãe do lixão

Em Avenida Brasil, a pequena Nina (Mel Maia) é abandonada em um lixão nos primeiros capítulos. Quem traz alento ao sofrimento da menina é Lucinda (Vera Holtz), conhecida como a Mãe do Lixão. Ela oferece, em escalas mínimas, claro, esperanças para a criançada que abriga.

A casa onde mora foi erguida com materiais encontrados em meio à sucata e ao lixo. O resultado agrada aos moradores, que vivem à margem de escolhas mais dignas e humanas.

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