Principal artéria da Lagoa da Conceição, a Avenida das Rendeiras está no centro de uma discussão que pode mudar parte do uso da via de 2,1 quilômetros que margeia a orla. Em debate, embora ainda sem a participação dos moradores e trabalhadores do bairro, o fim do estacionamento público ao longo da margem da Lagoa, que contraria a vontade de comerciantes e empresários da região.
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A proposta, discutida ainda só dentro de gabinetes, é construir uma ciclovia onde hoje é estacionamento.
Os estudos para implantação de uma ciclovia na Avenida das Rendeiras acontecem na Diretoria de Operações de Trânsito do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), que não respondeu aos pedidos de entrevista da reportagem.
Por nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Florianópolis "confirmou que recebeu uma recomendação do Ministério Público de Santa Catarina para substituir o estacionamento da Avenida das Rendeiras por uma ciclovia". O município, diz o texto, "ainda esta estudando os detalhes desta possível mudança para em alguns dias poder dar mais detalhes".
Marcelo Roberto da Silva, Secretário de Transporte e Mobilidade Urbana da Capital, afirma que os estudos do Ipuf indicaram "cerca de 90 vagas" ao longo da Avenida das Rendeiras e que "a maior parte dos restaurantes já tem estacionamentos particulares".
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A reportagem, porém, ao circular por toda extensão da via não contou mais de cinco restaurantes com estacionamento próprio. Já comerciantes dizem que a via comporta muito mais de 90 vagas, pois somente um trecho em frente ao posto da PM e no perímetro de pontos de ônibus é proibido estacionar.
— A Rendeiras tem mais de 2.000 metros e eles vêm dizer que só tem 90 vagas? Não. Tem muito mais. Aqui no restaurante temos capacidade para 300 pessoas, mas não vamos ter estacionamento e o movimento pode diminuir muito. Estamos preocupados — relata a empresária Juliana Fernandes, cuja família é dona de um restaurante na orla da Lagoa há 17 anos.
Moradores dizem que ninguém discutiu o assunto com a comunidade
Tanto quem é favorável à construção de uma ciclovia como quem prefere manter o estacionamento na Avenida das Rendeiras é unânime em dizer: ninguém dos órgãos públicos procurou a comunidade para debater a mudança na via.
Nativo da Lagoa e marinheiro de uma empresa que aluga stand-up, Sílvio Eugênio Pereira, de 67 anos, diz que há um mês começou a ouvir boatos do pretendido pela Prefeitura da Capital, mas reclama da falta de informação oficial sobre o assunto, pois teme o "fim do movimento".
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O cozinheiro Rafael Malhão, de 43 anos, era outro que nem sabia das possíveis mudanças na avenida onde mora. Como usa a bicicleta para trabalhar todos os dias é favorável à implantação da ciclovia.
Também nascido no bairro, o funcionário público Dinarte Correia, de 57 anos, é totalmente favorável à ciclovia. Lembra que em Florianópolis na década passada, na gestão Dário Berger, o mesmo debate aconteceu com o fim dos estacionamentos ao longo da Avenida Pequeno Príncipe, principal artéria do Campeche. Hoje, destaca Dinarte, ninguém nem percebe que ali havia estacionamento e "a região toda cresceu com o desenvolvimento do comércio".
— O mesmo aconteceu na Avenida Atlântica, em Balneário Camboriú. Tem que acabar com o estacionamento na via. É melhor para a mobilidade, depois todos acostumam.
MPSC acompanha o caso
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) investiga os problemas de mobilidade na região da Lagoa em um inquérito civil e recomendou à Prefeitura de Florianópolis a construção de uma ciclovia. De acordo com nota da assessoria do MP, "os órgãos envolvidos na discussão encontraram tal solução diante do grave problema de mobilidade no local".
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O MP entende que com a retirada do estacionamento haverá maior fluidez no tráfego local, "beneficiando toda a comunidade da Lagoa, Barra da Lagoa e até mesmo do Rio Vermelho".
Por fim, a nota diz que o "MPSC acompanha a questão aguardando uma solução para os próximos dias, que deverão ser apresentadas pelo município" de Florianópolis.
Projeto de 2015 para revitalizar a Rendeiras nunca saiu do papel
Não é de hoje que mudanças na Avenida das Rendeiras são discutidas na Capital. Em outubro de 2015, a Prefeitura de Florianópolis anunciou o convênio para revitalização da via no valor de R$ 1 milhão, contemplando obras de drenagem, terraplanagem, estacionamento, ciclovia, sinalização horizontal e urbanização. A execução dos trabalhos aconteceria em um trecho de 440 metros de extensão da Avenida das Rendeiras, a partir da ponte da Lagoa da Conceição.
Um pequeno canteiro de obras foi montado em dezembro de 2016, mas para não prejudicar o trânsito com a chegada da temporada de verão, as obras foram interrompidas e nunca mais reiniciaram. Foram executados 2,94% dos serviços, quando o convênio do serviço, entre a prefeitura e o governo do Estado foi rescindido.
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