O ciclone que deixou um rastro de destruição esta semana em Santa Catarina voltou a chamar a atenção dos catarinenses para os efeitos dos eventos climáticos. O Estado, que já sofreu com problemas como enchentes no Vale do Itajaí e com o furacão Catarina, em 2004, novamente registrou estragos e mortes por conta de um evento extremo. Desta vez, um ciclone que faz os moradores se perguntarem: em tempos de mudanças climáticas, seria esse um novo normal?
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O fenômeno foi considerado incomum por meteorologistas por ter alcançado em poucas horas uma alta intensidade não somente em uma região do Estado, mas em todo o território catarinense. Até a sexta-feira haviam sido registradas pelo menos nove mortes, quedas de árvores, postes, casas e imóveis destelhados e mais de 100 cidades atingidas. Além disso, mais de 1,5 milhão de unidades consumidoras chegaram a ficar sem energia elétrica, praticamente metade do Estado. Foi o maior dano na história da rede elétrica do Estado. Situação que levou o Estado a decretar calamidade pública.
O meteorologista da NSC, Leandro Puchalski, explica que uma teoria das pesquisas sobre mudanças climáticas é de que, com mais aquecimento e, portanto, mais energia no planeta, os eventos extremos, como tornados, vendavais e ciclones, vão se tornar mais intensos.
A meteorologista Marilene de Lima, do sistema Epagri/Ciram, afirma que isso não significa que esses episódios vão acontecer todo ano, mas que eles passam a não ser mais tão raros. E, quando acontecem, são mais fortes.
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– Essa mudança (climática) faz com que os eventos extremos sejam mais intensos e abrangentes – afirma a especialista.
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O coordenador do curso de mestrado em Clima e Ambiente do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Mario Quadro, faz a ressalva de que hoje existem mais ferramentas para medir os dados desses fenômenos, e mais câmeras para registrá-los. Mesmo assim, confirma uma tendência de maior ocorrência desses episódios.
– Os estudos têm registrado aumento de frequência desses eventos no Sul. E já era algo previsto. Estudos dos anos 1980 previam esses eventos para essa época. Hoje isso já tem se tornado normal – afirma o professor.
Quadro alerta para fatores que potencializam os danos causados por esses temporais, como a ocupação de áreas de encostas e irregulares.
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Berço de ciclones, informação e cultura de prevenção

Outro fator que favorece a ocorrência desses eventos climáticos em Santa Catarina é a localização do Estado. A meteorologista Marilene de Lima explica que o Sul do Brasil é considerado uma região ciclogenética, o que pode ser traduzido como um berço de ciclones na América do Sul, em área que inclui também Uruguai e Argentina.
A previsão do fenômeno desta semana foi considerada eficiente pelos meteorologistas. O coordenador do mestrado em Clima e Ambiente do IFSC, Mário Quadro, aponta que Santa Catarina tem bons equipamentos para monitorar e prever eventos climáticos, mas diz que um desafio enfrentado em todo o país é fazer a informação chegar rapidamente às pessoas.
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– Uma coisa é conseguir prever e gerar informação. Outra é a informação chegar à população, que é quem vai sofrer o dano. Talvez o SMS não seja a melhor opção, mas o governo tem que criar protocolos. Se não, não vai adiantar: a informação não vai chegar e a população vai reclamar que os equipamentos custaram caro e não informaram – afirma o especialista.
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Ainda no quesito informação, o meteorologista da NSC, Leandro Puchalski, vê necessidade de uma cultura maior de uso da informação quando alertas são emitidos. Nesses momentos, a preocupação principal deve ser evitar se colocar em risco e permanecer em local seguro.
– É uma engrenagem: a previsão, com maior antecedência possível, uma boa divulgação, para que essa informação chegue à maior parte das pessoas, e o uso dessa informação. Tudo tem que funcionar, não adianta um funcionar e outro não – sustenta Puchalski.
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O que aconteceu em SC:
– Na prática, o meteorologista da NSC, Leandro Puchalski, explica que o temporal da última terça-feira, dia 30 de junho, foi causado por uma chamada linha de instabilidade – nuvens de temporal enfileiradas que varreram o Estado, do Oeste até o Litoral. Essas nuvens causaram chuva forte e ventos de até 100 km/h.
– Essa grande quantidade de nuvens carregadas surgiu por causa do ciclone que se formou no Rio Grande do Sul e rumou para o Oceano Atlântico.
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– O ciclone que passou pela região esta semana é chamado de ciclone bomba por causa da rapidez com que a pressão atmostérica cai. Isso também tem relação com a rapidez com que linha de instabilidade se formou em Santa Catarina.