Na primeira vez em que o bailarino russo Dmitry Rykhlov esteve em Joinville, as salas onde a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil está instalada não eram mais do que espaços vazios usados, no máximo, para ensaios dos grupos que se apresentavam no Centreventos Cau Hansen. Dmitry era integrante de uma destas companhias.
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No caso, o Balé Bolshoi de Moscou que, em 1999, fez uma turnê pelo Brasil e passou por Joinville, parando aqui para negociar a abertura de uma filial da escola russa na cidade. Treze anos se passaram até que Dmitry voltasse ao mesmo lugar, hoje forrado com linoleo e ladeado por espelhos, onde ele trabalha com os 14 bailarinos da Cia Jovem do Bolshoi no Brasil desde a semana passada.
Aos 38 anos, o russo nascido na Sibéria está se aposentando dos palcos para estrear nas salas de aula brasileiras. Até 2011, ele era solista do Bolshoi de Moscou, onde interpretou grandes personagens do balé. Para a turnê pelo Brasil em 99, por exemplo, Dmitry foi Crassus, o general romano que comandou a batalha contra Spartacus no episódio histórico retratado no balé premiado de Aram Khachaturian.
– A primeira vez que ‘Spartacus’ foi apresentado no Brasil foi nesta turnê no Bolshoi que passou por Joinville -, lembra Dmitri.
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Além dessa peça, ele também estava em “Raimonda”, trazida para o Brasil e para a qual ele foi ensaiado por Natalia Bessmertnova. Aliás, entre seus ensaiadores estavam Ekaterina Maximova e Boris Akunin, com quem Dmitry tinha ensaios particulares, de acordo com a tradição do Bolshoi russo.
– Minha grande conquista foi dançar as mesmas peças e interpretar os mesmos personagens dos meus ensaiadores, como ‘Lago dos Cisnes’ e ‘Spartacus’ -, afirma Dmitry, salientando que os 15 anos em que foi solista do Bolshoi foram de trabalho pesado e sem folga.
– No entanto, balé é arte de jovens, quando você fica experiente, aos 30 e poucos anos, já é era de parar -, lamenta ele.
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Por isso, 2012 começa como um novo capítulo para Dmitry, escrito em português. Ele ainda não conhece muito bem a língua, mas já teve oportunidade de fazer uma avaliação prévia dos jovens bailarinos que ele ensaia.
Segundo Dmitry, a técnica está perfeita, mas a Cia. Jovem precisa de prática.
– Eles são muito talentosos, o que quero trabalhar com eles é a dramaticidade, a coisa artística, e dar um pouco da minha experiência de palco -, avalia.
Para ajudá-lo na batalha com as línguas, o pianista Eduardo Boechat faz mediação entre bailarinos e professor. Boechat trabalha no Bolshoi há 11 anos e, desde então, se dedica ao estudo do russo.
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Mas há palavras que não precisam ser traduzidas, já que a língua oficial do balé é o francês, do qual nasceram os termos principais do balé e que os bailarinos, recém-formados no Bolshoi, conhecem muito bem.
Dmitry fica na Cia. Jovem do Bolshoi no Brasil até o mês de abril, quando volta para casa na Rússia. Passado o período de adaptação, ele vai avaliar se fica no corpo docente da escola, entrando para o quadro que já tem três professores vindos da Rússia, além de uma estilista e do diretor-geral, também nascidos na terra fria.