Passos apressados, expressões de dúvida no rosto. Muitos usuários do transporte coletivo de Blumenau que passaram pelo Terminal da Fonte descobriram, na hora de embarcar, que as linhas afetadas pela nova paralisação dos trabalhadores da Blumob nesta terça-feira (3) eram as alimentadoras, aquelas que partem do terminal.

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As alternativas que muitos encontraram na manhã chuvosa foram os táxis, motoristas de aplicativo ou as linhas troncais. Foi a opção de Rosângela Foss, 38 anos. Ela, que deveria começar no escritório em que trabalha às 7h30min, aguardava a linha 507 às 7h45min. Rosângela chegou a sair mais cedo de casa para evitar o transtorno, mas não adiantou:

— Soube da paralisação, mas tinha esperança que o ônibus viesse. Já era pra ter passado dois aqui e até agora nada — lamentou em meio a um grupo que aguardava a possível vinda do coletivo.

Linhas alimentadoras lotadas

Após olhar o relógio e ver o troncal 10 chegando, Rosângela correu e entrou no veículo. Assim, teve de descer alguns pontos antes e caminhar até o trabalho. Logo após a saída dela, a linha 507 partiu lotada. Fiscais observam as aglomerações e tentam remanejar os itinerários.

Ônibus partiram lotados do terminal
Ônibus partiram lotados do terminal (Foto: Bianca Bertoli)

Mesmo assim, até quem não utiliza as linhas afetadas sentiu os impactos do protesto. A aposentada Isete Deucher esperava pelo troncal 11 para poder retornar a casa dela após realizar alguns exames médicos. Ela foi ao laboratório de carona com o marido e, na volta, notou que o ônibus estava demorando mais que o normal.

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Afeta bastante para quem trabalha e tem horário, eu estou aposentada, não tenho horário a cumprir, mas para os outros é ruim. Acho que a prefeitura deveria fazer alguma coisa, está muito quieta.

Na manhã desta terça-feira, a Secretaria de Trânsito e Transportes (Seterb) informou que os corredores dos ônibus estavam liberados para os motoristas, exceto o da Rua 2 de Setembro. A liberação deve continuar até as 20h, tal como ocorreu na última paralisação.

As linhas afetadas diretamente pela mobilização são as 503, 504, 505, 506, 507, 508, 509, 510 e 511. Porém, usuários relataram atrasos também nos troncais 10, 11, 12, 15, 17, 30, 31 e 32. Às 7h45min, quando a reportagem conversou com o diretor do Sindetranscol, o sindicato dos trabalhadores, Ari Germer, a ideia dos grevistas era continuar com o protesto durante toda esta terça, mas ele adiantou que uma reunião com os funcionários pode mudar o planejamento.

Nós vamos ouvir os trabalhadores e decidir, mas ainda não tem nada marcado. A volta depende também da empresa nos chamar para conversar, algo que não aconteceu.

Menos passageiros

Na última paralisação dos trabalhadores, na quarta-feira (26), a mobilização resultou em uma queda de cerca de 20% no número de passageiros. Foram 43,9 mil usuários entre o início da manhã e 14h30, horário que o serviço já estava normalizado.

No mesmo período, na quarta-feira sem greve (19), foram 57,2 mil passageiros. Porém, é preciso considerar que a paralisação ocorreu em uma Quarta-feira de Cinzas, quando o número de usuários é menor, já que os serviços estaduais são retomados apenas no período da tarde.

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No total, das quase 99 mil vezes que as catracas costumam virar em um dia de semana normal, com a paralisação da última quarta o número caiu para 78,9 mil, uma queda de cerca de 20%.

90% dos trabalhadores

Apesar da paralisação parcial, o Sindetranscol tem a obrigação de manter 90% dos trabalhadores em atividade. Em caso de descumprimento, a categoria terá de pagar multa diária de R$ 100 mil. O sindicato vem respeitando a determinação judicial.

Entenda o porquê da paralisação

A paralisação desta terça é mais um capítulo do impasse envolvendo os trabalhadores e a Blumob, que já dura três meses. Até agora não houve acordo entre as partes sobre a campanha salarial.

A negociação chegou a ser feita com mediação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). No fim de novembro, motoristas e cobradores aprovaram em assembleia os termos apresentados no TRT pelo desembargador Roberto Luiz Guglielmetto.

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O acordo previa reajuste de 2,55% no salário e no vale-alimentação, índice que corresponde à inflação dos últimos 12 meses segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — esse percentual inclusive já foi repassado às folhas de pagamento dos profissionais.

Dessa forma, a categoria abriu mão de pedir os 5% de aumento real que eram reivindicados antes de a negociação avançar para o tribunal. Em contrapartida, aceitou a proposta que previa a manutenção das cláusulas sociais da atual convenção coletiva de motoristas e cobradores e a implantação de um Plano de Participação nos Resultados (PPR), um benefício novo na realidade local, mas que já existe em sistemas como o de Florianópolis.

As conversas no tribunal, no entanto, não avançaram. O Sindetranscol alega que a empresa recusou a proposta. Segundo o sindicato, os pontos que têm gerado mais dificuldade seriam o aumento real ou a criação do PPR, o aumento real no vale-alimentação, a mudança na nomenclatura da classe de cobrador para agente de bordo e a alteração da data-base de novembro para setembro.