Nove dias depois da enxurrada que atingiu o bairro Velha Grande, em Blumenau, Valdomiro de Oliveira, 52 anos, ainda seleciona os bens que a família conseguirá aproveitar. No fim da tarde do último dia 5, o morro atrás da casa em que mora, na Rua Hermann Kratz, cedeu e derrubou a parede do quarto de visitas. O barro invadiu a casa dele e mais 21 residências na localidade, segundo a Defesa Civil. E trouxe prejuízos. Camas, guarda-roupas e armários de cozinha foram perdidos. Geladeira e as máquinas de lavar que ele conserta nas horas vagas foram salvas.
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Quando os problemas surgem em grupo, é preciso encarar um por vez. E o primeiro Valdomiro já resolveu. O cobrador de ônibus se muda amanhã da residência da cunhada, onde está há uma semana, para uma casa na Rua dos Caçadores. O aluguel vai ser dividido com o filho e a nora, que moravam na casa ao lado e também foram atingidos com o deslizamento de semana passada. São R$ 1.050 que pesam no orçamento, mas por enquanto vistos como a solução temporária encontrada.
Valdomiro exibe a firmeza de chefe de família ao tranquilizar esposa e filho – “bens materiais a gente recupera”, repete -, mas transparece ansiedade ao olhar para frente. Retornar com a esposa à casa em que morava desde 2001 agora vai depender de obras de contenção no morro. Que envolvem os vizinhos e, segundo a Defesa Civil, precisam ser custeadas somente pelos moradores.
– Conhecemos todo mundo, gastamos a vida aqui, fizemos essa rampa que não foi barata para chegar com o carro. Não queríamos ter que sair, mas vamos ter que lutar. Quem sabe comprar um terreno ou, daqui a um tempo, com um empréstimo ou a ajuda de alguém, consertar aqui para poder voltar – revela.
Casas condenadas devem ser demolidas
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A casa de Valdomiro (foto) foi uma das seis atingidas às margens da Hermann Kratz. Uma moradora já havia deixado o local há dois meses e os demais também deixaram as moradias e foram para casas de parentes. Mas os problemas com a enxurrada do dia 5 não ocorreram somente ali. Em regiões como Rua Franz Müller e Morro da Figueira também houve casas atingidas e famílias que precisaram deixar o local.
Segundo o secretário de Defesa do Cidadão de Blumenau, Rodrigo Quadros, 17 casas receberam laudos de interdição definitiva e outras cinco precisam ser desocupadas temporariamente, até que sejam feitas obras de contenção pelos moradores, como no caso de Valdomiro. O único investimento do poder público deve ser na demolição das casas efetivamente condenadas, para que não voltem a ser ocupadas. Os prazos e os valores dessa intervenção ainda são analisados.
– Depende do tamanho do estrago, mas toda a comunidade ali está em risco, 80% da localidade é irregular, sem engenheiro, aterro, fundação – aponta.
Além das demolições, a prefeitura também solicitou R$ 12 milhões ao Ministério da Integração Nacional para recuperação de três pontes que sofreram avarias e contenção de encostas em quase todas as ruas da região, conforme Quadros. Por enquanto, a equipe da Secretaria de Conservação e Manutenção Urbana trabalha na liberação de ruas e acessos.
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A promessa é de que as 17 famílias que tiveram as casas condenadas devem receber auxílio para aluguel da Secretaria de Habitação por seis meses, e as cinco com interdição temporária ganhem ajuda de um mês da Secretaria de Desenvolvimento Social.
Comunidade defende reabertura de unidades de ensino
O líder comunitário e membro da Associação de Moradores da Velha Grande, Mário Reiter, conta que na região da Rua Franz Müller o pior já passou e as famílias já puderam retornar às casas. O grande apelo, no entanto, é para a abertura da Escola do Campo Orestes Guimarães, que segue sem atender as 21 crianças matriculadas.
O vereador Adriano Pereira (PT), que também reside no bairro, conta que se reuniu com o promotor de Justiça Odair Tramontin para cobrar agilidade na reabertura da escola isolada e também do CEI Ricardo Manske, interditado por um deslizamento.
– Gostaria que o poder público corresse atrás disso e buscasse recursos, porque quando é na área central, nada contra, mas há um empenho diferenciado, como na Margem Esquerda e na Alameda. Quando é na periferia é diferente. O que vimos aqui na região foi como uma tragédia de 2008 na Velha Grande – compara.
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