A paisagem lunar que se descortina a quem sobe à região serrana de Rio dos Cedros assusta. A água desvia com timidez entre as imensas pedras expostas no leito do rio Milanês. Na disputa com as cigarras, o filete de água é quase inaudível. Além de mudar a paisagem da região dos lagos, a seca dos últimos meses tem mudado a rotina dos moradores, suspendeu a geração de energia e prejudicou a prática de esportes aquáticos. Mesmo assim não deve afetar a temporada de verão, período em que a localidade, distante 42 quilômetros de Blumenau, recebe turistas em busca de sossego.

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Eventualmente secas acontecem, mas Mário Luiz Klowaski e o irmão Reinaldo Klowaski nunca tinham visto o quintal da casa de campo tão seco nos 40 anos que frequentam a região. A moradia fica em uma das pontas da represa Rio Bonito, onde a seca está mais aparente. A água no local conhecido como Vale dos Ventos mingou e baixou 10 metros. Onde era possível praticar esportes náuticos e nadar, agora há terra seca e tocos de árvores. Como em todas as casas da região, a água vem de uma nascente, mas é preciso racionar:

– Estamos poupando. A quantidade de água da nascente caiu bastante. Enquanto não chover, precisamos cuidar para não secar – conta Mário.

O nível baixo das represas – além de Rio Bonito existe a Pinhal – fez com que a Celesc praticamente suspendesse a produção de energia. Na usina Palmeiras, onde três geradores são abastecidos pelas águas da represa Rio Bonito, todos estão desligados há uma semana. Apenas um dos dois geradores da usina Cedro, que recebe águas do lago Pinhal, está ligado e com produção limitada. Os desligamentos são para evitar que as represas sequem ainda mais, explica o engenheiro chefe do Departamento de Operação e Manutenção da Celesc Geração, Flávio Spolaor.

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– A produção de energia só vai voltar quando chover um pouco e o nível aumentar. A população local pode ficar tranquila que não há risco de faltar energia para as casas – explica Spolaor.

É a segunda vez que a geração de energia é suspensa este ano em Rio dos Cedros, a primeira foi em fevereiro. Juntos, os dois reservatórios ajudam a gerar 3% da energia catarinense, percentual que não põe em risco o fornecimento na região.

Tranquilidade é o principal atrativo

A redução no nível das represas não deve afetar o movimento de turistas no verão, acredita Leonardo Ropelato. As quatro casas que tem para alugar e e os oito quartos da pousada estão reservados para a alta temporada. Nem sinal de desistências, apesar do nível baixo das águas. Dono de um mercado e uma garagem de lanchas, ele acredita apenas que os esportes na água podem ser prejudicados, já que agora é preciso cuidado extra para navegar.

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Menos água na represa não é sinal de menos trabalho para Ivanir Jacobs Viebrantz. Ela administra um camping e espaço para festas ao lado do marido. Restam poucos espaços vagos para acampar na península com vista privilegiada em que fica o estabelecimento.

– Neste ano a procura tem sido até maior. Muita gente diz que não aguenta mais as praias, que são cheias demais e sem água doce. Aqui, é mais tranquilo – conta Ivanir.

A torcida é para que a chuva chegue antes da temporada. A diretora municipal de Turismo, Cultura e Eventos, Doralice Panini, explica que há vários atrativos ligados à natureza além do que os lagos oferecem, por isso, quem for à região não se sentirá prejudicado. Cerca de 15 mil visitantes passam pela região dos lagos na temporada.

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– Queremos os turistas possam ver toda a beleza dos lagos – espera Doralice.

Vale registra pouca chuva há dois meses

A redução dos níveis das represas e rios é consequência da chuva escassa no Vale do Itajaí nos últimos dois meses. A meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) Gilsânia Cruz explica que na região o volume de chuva está 70% abaixo do normal para um mês de novembro.

A seca piorou devido ao índice de outubro: choveu apenas metade do habitual para a época. A previsão para os próximos meses era de que choveria dentro da média, mas esta condição será reanalisada hoje, na reunião do Fórum Climático de SC:

– Vamos analisar as tendências até janeiro. De uma forma geral todo o Estado tem registrado chuva abaixo do normal – explica Gilsânia.

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