Quando uma aeronave assumiu o papel das gralhas e fez chover pinhões no norte do Estado, no ano passado, esperava-se que cerca de 40 mil araucárias brotassem no solo de Campinas do Sul.

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Mas a ideia de um rápido reflorestamento não foi combinada com os roedores: faltou repelente para espantá-los e, em vez de brotar, quase todos os 210 mil pinhões que tocaram o chão foram devorados. Havia expectativa que ao menos 20% germinassem.

Foi a estreia da técnica de cultivo com o uso de aviões no Estado. Coordenado pelo Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, o projeto planejava fazer nascer 10 milhões de mudas de araucária, em três anos.

O pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia) já cobriu parte de Minas Gerais, Espírito Santo e da Região Sul. A planta vem sendo substituída por lavouras e está ameaçada de extinção. A experiência-piloto foi realizada em duas ilhas na área alagada de uma hidrelétrica.

Responsáveis por monitorar, em terra, os pinhões que caíram do céu, especialistas do curso de engenharia florestal do campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em Frederico Westphalen observam que, para evitar que se tornassem alimento, os pinhões deveriam ter sido banhados em uma solução de água e querosene, que funcionaria como uma espécie de repelente.

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A recomendação técnica seria mergulhar as sementes em um litro de querosene para cada litro de água, dois dias antes do lançamento. A mistura teria sido feita na proporção de 200 mililitros para um litro. Segundo Roberto Ferron, ex-diretor do Defap e idealizador do projeto, a Rio Grande Energia (RGE), uma das parceiras na iniciativa, era responsável por adquirir os pinhões. A empresa deve repor vegetação sob as redes de transmissão de energia.

Fabrício Steffens, engenheiro florestal e analista de gestão ambiental da RGE, diz que o viveiro que forneceu as sementes aplicou a mistura com querosene e água.

Outro temor era que, ao serem lançados no solo pelo avião, os pinhões se partissem, o que não ocorreu. Os pesquisadores cultivaram amostras de sementes que foram lançadas e 88% delas germinaram.

– Não esperávamos que aparecessem tantas capivaras e ratões-do-banhado. Foram atraídos pelos pinhões. Mesmo assim, a avaliação do experimento é positiva – diz Ferron.

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Segundo o idealizador do projeto, é possível dar eficácia à ação. Uma opção seria cercar a área de germinação, uma alternativa de alto custo.

Balanço da experiência

Ilha 1 (10 hectares)

6 mil sementes por hectare

63,15% desapareceram

29,82% não germinaram

7,02% foram roídas

Nenhuma germinou

Ilha 2 (30 hectares)

5 mil sementes por hectare

73,97% desapareceram

9,56% não germinaram

9,52% foram roídas

6,88% germinaram