A canções, os riffs e as performances de Chuck Berry moldaram o que conhecemos por rock and roll. De Elvis Presley e Keith Richards a algum garoto ou garota agora empunhando uma guitarra em qualquer lugar do mundo, o DNA do gigante que morreu no sábado, aos 90 anos, seguirá perpetuando descendentes que acreditam ser possível bancar o dono do mundo sobre o palco.

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Berry poderia ter reconhecimento público ainda maior se não tivesse emergido para o sucesso nos Estados Unidos cindido pela segregação racial. Nasceu em Saint Louis no Estado da Louisiana, região sulista onde até os anos 1960 era comum negros serem sumariamente linchados e pendurados à exposição pública. E o racismo teve influência na trajetória de Berry. Uma controversa acusação de relacionamento com uma menor de idade o levou à prisão entre 1959 e 1963. Até então, sua trajetória era fulgurante. Ajudou a acender o pavio da grande revolução comportamental do século 20 emplacando hits atrás de hits desde 1955: Maybellene, Roll Over Beethoven, Rock and Roll Music, Sweet Little Sixteen e Johnny B. Goode, entre outros.

Pioneiro do rock n’ roll Chuck Berry morre aos 90 anos

Relembre os shows de Chuck Berry em Porto Alegre

Mas Berry, mesmo com o prestígio de compositor, cantor e excelente guitarrista, não tinha como competir com a força midiática do branco Elvis Presley, ungido Rei do Rock quando a gestão compartilhada do trono com Berry seria mais justa. Elvis, a propósito, assim que ouviu Maybellene a colocou em seu repertório ao vivo – e várias outras faixas de Berry o acompanhariam no palco e no estúdio.

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Quando saiu da cadeia, Berry viu no que tinha dado o tal de rock’n’roll. E ele tinha de correr atrás do prejuízo vendo novos ídolos começando carreiras justamente com suas músicas. Roll Over Beethoven, Rock and Roll Music e outras tantas estavam entre as confirmadas dos Beatles quando o quarteto de Liverpool ainda era banda cover.

Ao se reencontrarem numa estação de trem no subúrbio de Londres, os antigos vizinhos Mick Jagger e Keith Richards descobriram que Berry era um de seus ídolos – entre os discos que Jagger carregava, estava Rockin’ at the Hops, lançado pelo americano em 1960. Entre todos os discípulos brancos formados por Berry, os Rolling Stones foram os que melhor traduziram e incorporaram a matriz negra e lasciva do rhythm and blues. O lado A do primeiro compacto dos Stones, de 1963, é assinado por Berry: Come On. E no primeiro LP de estreia da banda britânica, no ano seguinte, ele comparece com Carol.

Os Beach Boys também deram os primeiros passos com Berry. Surfin’ U.S.A., de 1963, plagiava com outra letra Sweet Little Sixteen. Berry chiou, e um acordo legal garantiu posteriormente o crédito de seu nome ao lado de Brian Wilson.

Em 18 de outubro de 2016, Chuck Berry anunciou, no seu aniversário de 90 anos, que tinha gravado seu primeiro disco em 38 anos, Chuck, ainda sem data de lançamento. O legado de Berry para a música e para a cultura pop é imensurável e literalmente de outro mundo. Johnny B. Goode foi enviada ao espaço pela Nasa na missão Voyager, em 1977, como exemplo a possíveis ouvintes extraterrestres do que é o rock and roll. Se tiverem essa sorte, também os aliens não resistirão ao poderoso riff. Porque, como cantou Gilberto Gil: “Rock é o nosso tempo, baby/Rock and roll é isso/Chuck Berry fields forever”.

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Repercussão

“Se você tivesse que dar outro nome ao rock ‘n’ roll, você deveria chamá-lo de Chuck Berry.”

Perfil oficial de John Lennon no Twitter

“Estou muito triste pela morte de Chuck Berry. Eu quero agradecê-lo por toda a música inspiradora que nos deu. Ele iluminou os anos de nossa adolescência, e soprou vida em nossos sonhos de ser músicos e artistas.”

Mick Jagger

“Uma das minhas grandes luzes se apagou.”

Keith Richards

“Estou muito triste em saber da morte de Chuck Berry. Uma grande inspiração. Todos os que amam o rock’n roll vão sentir sua falta.”

Brian Wilson

Quando assistir ao vivo um show de Chuck Berry já era sonho distante para os roqueiros gaúchos, o mestre veio a Porto Alegre por três anos seguidos. Em 2008, apresentou-se no Pepsi on Stage. A reação do público foi tão calorosa que seu filho, o guitarrista Charles Berry Jr., integrante da banda que o acompanhava, disse ao microfone: ¿Foi o melhor show que fizemos na turnê brasileira¿. A festa foi encerrada com 20 espectadoras convidadas a dançar no palco. O local das apresentações de 2009 e 2010 foi o Teatro do Bourbon Country.

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