O mercado chinês é fundamental, mas já não é mais o El Dorado para as empresas estrangeiras. Muitas multinacionais estão revisando para baixo as previsões de vendas, o que evidencia a desaceleração do consumo e do crescimento da segunda economia mundial.
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Em um momento em que Estados Unidos e Europa estão em plena temporada de resultados, o esfriamento na China é um tema recorrente para as empresas.
O efeito é muito marcado no setor automobilístico, que sofreu queda de 2,3% em junho na China, com um fraco crescimento de 1,4% no primeiro semestre.
A BMW, por exemplo, demonstra prudência. “Em caso de maiores desafios no mercado chinês, não podemos excluir que haja efeitos em nossas previsões”, advertiu seu diretor financeiro, Friedrich Eichiner
“A concorrência se intensifica”, afirmou o chefe de operações da marca japonesa Nissan para a China, Jun Seki.
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Estar bem posicionado no mercado chinês, que tradicionalmente tem sido um ativo para as empresas, agora é considerado pelos investidores como sinônimo de estar exposto ao risco.
Além da recente queda da Bolsa da Xangai, apesar da forte intervenção estatal, a impressão de uma fragilidade da atividade econômica intensificou-se no mercado. Há um consenso, contudo, que as consequências para a economia real parecem ser limitadas.
Dados decepcionantes da construção
Nos Estados Unidos, o grupo industrial UTC, que fabrica os elevadores Otis e sistemas de climatização, reduziu suas previsões para 2015, por causa da “desaceleração mais forte do que a esperada” na China.
Do mesmo modo que ocorreu com grupos dos setores de aço e mineração, o conglomerado rebaixou suas projeções após os dados decepcionantes do mercado chinês.
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Essas publicações alarmistas não parecem estar em sintonia com a estabilização do crescimento da economia chinesa, que no segundo trimestre se expandiu 7%, segundo dados do governo, mesmo nível alcançado no 1º trimestre e que vai ao encontro das metas estipuladas por Pequim.
“A realidade é, sem dúvida, bastante pior do que os dados oficiais do PIB, já que vários outros indicadores sugerem que há uma desaceleração brusca da atividade”, advertiu Mark Williams, da Capital Economics.
O índice PMI calculado pela empresa independente Markit está no menor patamar em dois anos, o que marca uma forte contração da atividade industrial em julho, que acumula assim seu quinto ano consecutivo em baixa.
“Um terço do crescimento mundial continua vindo da China, mas sua relação com o resto do mundo mudou consideravelmente, com uma forte desaceleração dos setores de construção e indústria pesada, que são os pilares tradicionais da expansão da economia, destacou Williams.
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Concorrência local
Em um momento em que as vendas continuam crescendo na China (com um aumento de 10,6% em junho) e que Pequim expressou a expectativa de que o consumo interno seja o motor de seu novo modelo econômico, as marcas estrangeiras apenas chegam ao lucro zero, enquanto suas concorrentes locais avançam.
Apesar de a americana Apple ter registrado um aumento das vendas do iPhone no trimestre encerrado no final de junho, na China a marca ficou em terceiro lugar, superada pelas fabricantes locais Xiaomi e Huawei. A sul-coreana Samsung aparece na quarta posição.
“A concorrência das empresas chinesas no plano industrial melhorou indiscutivelmente, o que complica a situação para os estrangeiros”, destaca Li Daxiao, analista do operador Yingda Securities.
O aumento do custo da mão de obra na China e a multiplicação das investigações contra as multinacionais, continuam projetando um panorama sombrio.
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Entretanto, é difícil sair do mercado chinês, que embora esteja em desaceleração, é único por seu crescimento e sobretudo por seu volume. “Não se pode encontrar outra economia comparável”, afirmou Li.
* AFP