A cada dia, intensifica-se a escalada comercial entre chineses e americanos, com cada um dos lados anunciando pesadas tarifas sobre os produtos do outro. Que consequências teria uma guerra comercial entre os dois gigantes da economia mundial?

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Na terça-feira (3), Washington publicou uma lista provisória de produtos importados suscetíveis de serem sobretaxados. Hoje, foi a vez de Pequim retaliar, divulgando sua própria lista, com tarifas que se igualam ao montante anual anunciado pelos EUA da ordem de US$ 50 bilhões.

Enquanto a China mira na soja, nos automóveis e nos pequenos aviões americanos, os Estados Unidos têm como alvo os produtos chineses no setor de aeronáutica, tecnologia da informação, robótica e máquinas.

– O que está em jogo?

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No total, os produtos chineses e americanos atingidos representam um montante de US$ 100 bilhões, uma grande parte dos US$ 580 bilhões em mercadorias negociados em 2017 entre os dois países.

Se a economia da China contava enormemente com as exportações há 20 anos, desde então ela se reequilibrou para o consumo interno e para o setor de serviços. Resumindo: o impacto das sobretaxas deve ser, por enquanto, relativamente limitado para a economia chinesa.

No ano passado, as exportações contribuíram para o crescimento do PIB chinês na ordem de 9,1%, mas o mercado americano representava 18,9% do total das exportações chinesas.

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A China registra um excedente colossal: 375,2 bilhões de dólares em 2017, segundo Pequim.

– Quais produtos estão na mira de Pequim?

Em 2017, a China importou 154 bilhões de dólares em produtos dos EUA. Entre os 50 bilhões listados na quarta-feira, estão produtos-chave para a economia americana, como soja e automóveis.

Ao mirar na soja, Pequim põe o dedo na ferida, explica Zhang Monan, pesquisador no Centro Chinês para Trocas Econômicas Internacionais.

“Sabemos que muitas pessoas que apoiam Donald Trump vêm de estados agrícolas como Illinois, ou Iowa”, explica ele.

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“Se a China se vingar na agricultura americana, acho que muito do apoio que o presidente tem vai virar as costas para ele”, completou.

– Os EUA podem ganhar?

“Quando um país (os EUA) perde bilhões de dólares com praticamente todos os países, com os quais faz negócios, as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”, tuitou Trump no mês passado.

Já a China repete, invariavelmente, sua posição há semanas: “Ninguém sai vencedor de uma guerra comercial”.

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Vários economistas lembram, assim, os efeitos da lei americana Smoot-Hawley, de 1930. Ela causou o aumento das tarifas aduaneiras de 20.000 produtos e provocou represálias no exterior, agravando os estragos da Grande Depressão.

– Diálogo rompido?

Por enquanto, nem Pequim, nem Washington anunciaram quando as novas tarifas entram em vigor.

Segundo analistas, o objetivo do governo Trump é pressionar a China para que ela abra mais seu mercado.

Pequim sempre disse estar aberta a negociações, mas alegou ter sido forçada a adotar medidas de retaliação diante da intransigência americana.

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No mês passado, o secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin, declarou que a guerra comercial não é um objetivo e que os dois países continuam a dialogar.

– O problema da propriedade intelectual

Com as novas sobretaxas, os Estados Unidos esperam dobrar a China na delicada questão de roubo de tecnologia e propriedade intelectual americana.

Washington se preocupa, especialmente, com o sistema de coparcerias imposto por Pequim às empresas americanas: como contrapartida para terem acesso ao mercado chinês, essas empresas são obrigadas a compartilhar com os parceiros locais uma parte de seu know-how tecnológico.

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O governo chinês rebate acusações e suspeitas, garantindo ter intensificado seus esforços em matéria de proteção da propriedade intelectual.

“A China está construindo uma sociedade baseada na inovação. A proteção da propriedade intelectual é da mais alta importância”, assegurou o vice-ministro chinês das Finanças, Zhu Guangyao, durante o anúncio, nesta quarta-feira (4), das medidas de retaliação por parte de Pequim.

* AFP