O panda gigante já não está em perigo de extinção, mas continua sendo uma espécie vulnerável, ameaçada pelas epidemias e pelas mudanças climáticas – alertam os centros chineses de reprodução em cativeiro, que continuam, segundo eles, sendo cruciais para garantir a sobrevivência desses animais.

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Todas as manhãs, dezenas de jovens pandas trepados em troncos mastigam seu café-da-manhã favorito, à base de talos de bambu, na Base de Pesquisa de Reprodução do Panda Gigante de Chengdu (sudoeste).

Esse centro foi criado em 1987, devido à crescente ameaça de extinção do animal – um cenário catastrófico que parece ter sido descartado por enquanto.

Na semana passada, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) retirou o panda gigante da categoria “em perigo” e o classificou como “vulnerável” na sua Lista Vermelha de espécies ameaçadas.

Em 2014, havia 1.864 pandas gigantes adultos selvagens contabilizados, um aumento de 17% em dez anos, segundo a UICN.

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“É uma mensagem positiva. A perspectiva não é totalmente pessimista”, diz à AFP o pesquisador James Ayala, do Centro de Chengdu, na província de Sichuan, acrescentando, porém, que “ainda é muito cedo” para comemorar.

Para Ayala, os critérios gerais da IUCN são menos aplicáveis aos pandas, visto que sua dieta totalmente à base de bambu significa que sua sobrevivência é dependente do hábitat, e as mudanças climáticas constituem uma enorme ameaça.

Zhang Hemin, do Centro de Conservação e Pesquisa do Panda Gigante (CCRCGP), também em Sichuan, qualificou a reclassificação da IUCN como “prematura”.

A população do panda gigante se divide em 33 grupos diferentes, dos quais 18 têm menos de uma dúzia de exemplares cada, o que deixa a espécie em “alto risco de desaparecimento”, segundo o pesquisador.

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Diversidade genética

Essa fragmentação também compromete a diversidade genética da espécie, daí a importância dos programas de reprodução em cativeiro. Muitas vezes, essas instituições recorrem ao método de inseminação artificial, visto que os pandas são conhecidos por sua apatia sexual.

O país conta atualmente com 420 pandas em cativeiro, segundo dados oficiais, e a base de Chengdu assistiu a cerca de 200 nascimentos, 20 deles neste ano. Algumas das crias são enviadas a zoológicos no exterior.

Zhang dirige um “hospital de pandas” ultramoderno, que é o lar de Pan Pan, um exemplar de 31 anos – o equivalente a 100 anos humanos -, que é considerado o panda mais velho vivendo em cativeiro e teve pelo menos 130 descendentes.

“Uma meta para nós será a de ter um grande número de pandas em cativeiro para manter a diversidade genética, de modo que pudéssemos libertá-los para a vida selvagem”, ajudando a espécie a sobreviver em caso de catástrofe natural, ou de epidemia, afirma Ayala.

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Apesar disso, as reinserções na natureza de pandas nascidos em cativeiro ainda são poucas. Na última década, “entre sete e dez foram soltos”, relatou o pesquisador.

Esses animais são treinados para reconhecer predadores e socializar com seus pares. O processo é repleto de dificuldades, porém, e a brecha com a vida selvagem é imensa.

“Estamos longe de compreender o comportamento e as características dos pandas”, e os animais criados em cativeiro “não estão prontos para serem libertados”, disse à AFP o consultor sênior da ONG ambientalista Natural Resources Defense Council, Yang Fuqiang.

O bambu em retrocesso

Outro desafio é a preservação das florestas de bambu, que fornecem hábitat e alimento aos pandas.

As reservas de bambu foram estabelecidas na China em 1992 e, hoje, existem 67 delas, protegendo quase 70% do 1,4 milhão de hectares de floresta de bambu selvagem, de acordo com a Administração Florestal.

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Com o aquecimento global, mais de um terço das florestas de bambu pode desaparecer dentro de 80 anos, adverte a IUCN.

A planta em si também pode ser um fator de risco, visto que o ciclo de vida da maioria de suas espécies faz que elas desapareçam em intervalos de duas a quatro décadas, e pode levar anos até que voltem a crescer.

Esse fenômeno já provocou uma tragédia nos anos 1970 e 1980 nas montanhas de Sichuan, onde 250 pandas morreram de fome, lembra Ayala.

“A prioridade deve ser sempre se concentrar em melhorar e expandir o hábitat para os animais selvagens”, disse o pesquisador.

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“Sem isso, não há sentido em conservar o panda gigante”, completou.

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