Um dia, malhando com o sócio Fernando Sigal, Rony Meisler observou vários meninos na academia vestindo a mesma bermuda. Ali, a dupla viu uma oportunidade de negócio. Do início descompromissado até hoje, dez anos depois, a marca carioca Reserva conseguiu o impensável: fazer roupa masculina brasileira com criatividade, humor e lucrando alto. No ano em que completa uma década a grife chega a R$ 300 milhões de faturamento e 38 lojas próprias, além de mais nove endereços da Reserva Mini (kids) e três da Eva (feminino). A última a abrir as portas, na última sexta-feira, foi no Iguatemi Floripa, a primeira loja catarinense. Mais maduro, Rony já não comenta as tretas passadas, como a ocorrida com Oskar Metsavaht, da Osklen, mas não abre mão do envolvimento apaixonado e quase fanático pela marca. Com a coluna, o empresário formado em Engenharia de Produção falou sobre negócio que relaciona muito mais com comunicação do que com moda.
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Você já declarou que a Reserva é muito mais uma marca de comunicação do que de moda. Quais são as conversas que a marca quer suscitar atualmente?
No momento não me canso de falar sobre o projeto 1P5P (a cada produto vendido na Reserva e Reserva Mini, viabilizamos a doação de cinco pratos de comida). O 1P5P nasceu depois que visitei uma cidade no interior do Ceará. Disse a um menino da região que eu achava que a educação era o maior problema do país e ele me voltou com um soco moral no estômago: “Lá na bolha onde vocês vivem vocês acham que o problema do país é a educação. Você pode construir a melhor escola do mundo, mas se o moleque tiver com fome ele não vai prestar atenção em nada. Vocês deveriam estudar melhor o problema da fome no país.” Voltei para casa muito incomodado e fui estudar a fome. 52 milhões de brasileiros (1/4 da população) não sabe se vai comer hoje, sendo que 7 milhões não irão comer. 1P5P foi lançado há 6 meses e já entregamos 3,8 milhões de refeições.
Você não tem medo de assumir riscos no marketing. Alguma vez já deu um tiro no pé?
O caminho para o sucesso é uma estrada com fracassos bem resolvidos. A verdade é que nós gostamos do fracasso. Vemos no erro uma oportunidade de fazer graça de nós mesmos e assim tirar dos outros esta possibilidade. Por isso nós incentivamos a turma a colocar os projetos de pé, se não der certo, servirá como aprendizado para o próximo acerto.
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Vocês entraram na sociedade da Malha e da Ahmla, projetos novos do criativo André Carvalhal, ex-Farm. O que atraiu o investimento da Reserva nesses projetos?
A Ahlma vai ser uma marca acessível e voltada para um produto mais básico. O André Carvalhal é nosso sócio e diretor criativo da marca. A Ahlma é co-criada na Malha, maior espaço colaborativo de moda do país, com outras marcas lá residentes. O objetivo da Ahlma e nosso como grupo investidor é o de co-criar a nova era da moda: mais inclusiva, colaborativa e com impacto sócio-ambiental positivo.
Luciano Huck é um dos sócios da Reserva. Ele se envolve diretamente em algum aspecto?
Temos um baita orgulho de ter o Luciano como sócio. Ele é um dos caras mais inteligentes e versáteis que conheço. Luciano não possui uma agenda chata e fixa conosco, o barato da nossa relação é a informalidade. Sempre que preciso de uma ideia ou conselho ligo para ele e vice e versa.
Do que poderia ser apenas uma crise de imagem nasceu a parceria social com o Afroreggae. De onde surgiu a ideia?
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Na verdade, o Junior (José Junior, fundador da ONG AfroReggae) é meu amigo e mentor há muito tempo. Eu já tinha dado a ele a ideia de criar um selo social, no formato do RED do Bono Vox, que ele pudesse licenciar o conteúdo do AfroReggae para a iniciativa privada assim gerando royalties para o grupo. O Diego Santos Silva era um menino do tráfico que se entregou a polícia usando Reserva. O Júnior o acompanhou para se entregar. O fato dele estar usando a marca deu uma repercussão gigantesca, todo mundo me ligou apavorado. Liguei para o Junior e sugeri que acompanhássemos o Diego, e caso ele saísse da cadeia e largasse o crime de verdade, poderíamos usá-lo como garoto propaganda da campanha do AR. E assim foi. O JR Duran fotografou uma linda campanha com ex-traficantes – o Diego entre eles-, com policiais do BOPE no alto do Complexo do Alemão. Todos juntos e sorrindo. Foi uma baita mensagem de esperança.
Em setembro a Reserva completou 10 anos como uma das marcas mais interessantes do Brasil. Quais são os sonhos para os próximos 10?
Este foi um ano de muita reflexão neste sentido. O que serão os próximos 10 anos da marca? O fato é que jamais pensamos no que seriam os primeiros 10 anos da marca. E sinceramente acho que se assim fosse já teríamos chegado lá há muito tempo e parado. A nossa paixão sempre esteve muito mais na estrada do que no destino. Para os próximos 10 anos desejo que a nossa família siga apaixonada e corajosa. Porque é preciso coragem pra viver pelo amor e para falar o que pensa. O nosso sonho? Que a Reserva seja motivo de orgulho para todos (as) os brasileiros (as). Um lance meio assim: “que incrível que uma marca como esta é toda feita no Brasil¿. É nessa estrada que nestes primeiros anos entramos, agora é vento no rosto e muita adrenalina.
Quais são as novidades dos 10 anos das marcas?
Estamos investindo cada vez mais em transformar as lojas da Reserva também em espaços para os homens. Muitas lojas já possuem co-workings, barbearias, cafés e videogame. A visão é a de que sejam lugares para onde nossos consumidores podem ir, além de para casa e para o trabalho. Além disso, já em 2017 lançaremos o Faça Você 2.0. Um editor de imagens web através do qual nossos clientes poderão criar suas camisetas, ao invés de apenas escolher dentre aquelas que nós desenhamos.
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Floripa tem um lifestyle que em muitos aspectos lembra o carioca, que a marca simboliza tão bem. Porque a Reserva demorou tanto para abrir por aqui?
Não tem um motivo específico. Foi apenas falta de oportunidade. Mas aqui na Reserva as coisas acontecem quando devem acontecer e esse grande momento chegou! Nós como bons cariocas, adoramos Floripa.
A moda masculina é muito pouco variada e criativa no Brasil. O que observa na evolução do homem com a moda de dez anos pra cá?
Quando começamos, eu e o Fernando Sigal, escutávamos o tempo todo que homem não comprava roupa, então isso também foi uma evolução. Se não comprassem, não estaríamos aqui. Acho que ainda há um pouco de conservadorismo sim, mas os homens hoje em dia aceitam mais estampas, se preocupam com a qualidade e caimento da roupa. Não basta ser bonita, tem que ter funcionalidade também.
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