As redes estão estendidas na areia da praia para secar, os barcos já estão prontos para voltar aos ranchos. Assim se encerra mais um ano da pesca artesanal de tainha na Capital. Apesar da pesca ser liberada até o dia 31 de julho, os pescadores da maior parte das comunidades de Florianópolis já desmontaram seus ranchos e contabilizaram a safra de 2013. Foram cerca de 300 toneladas de tainha na Grande Florianópolis. O resultado foi o melhor dos últimos dois anos, mas ainda assim não anima quem depende do que tira do mar para sobreviver.
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Safra boa era outra coisa
Na Praia da Lagoinha, no Norte da Ilha, os pescadores até já acertaram as contas na semana passada. No total foram 14.165 tainhas pescadas por eles, o que rendeu cerca de R$ 78 mil. O valor é dividido entre os camaradas (como são chamados todos os pescadores que trabalham como funcionários) e a rede (os donos de canoas). Cada função recebe um pagamento diferente, de acordo com o grau de dificuldade.
A safra do ano passado foi ainda pior: somente 4 mil peixes. Bem diferente de outros tempos, que deixam saudades a pescadores como Darci Silva, 83 anos. Ele conta que uma temporada, para ser considerada boa, teria que render no mínimo 30 mil tainhas.
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Confira a galeria de fotos do encerramento da temporada na Lagoinha do Norte.
Tradição não atrai os mais jovens
Pescador desde os 10 anos de idade, Amilton Manoel Raimundo de Souto, 43 anos, aprendeu a atividade de olheiro com o pai, aos 15 anos. Assim como outros colegas, Amilton acredita que a tendência é que a pesca artesanal acabe, com o tempo. Mas não por falta de peixes, apesar dos números desanimadores dos últimos anos, e sim de pessoas.
– Os jovens não querem nem aprender. Eu chamo meu filho de 18 anos pra vir comigo nos fins de semana, mas ele prefere jogar futebol ou fazer outras coisas – comenta o experiente pescador.
No ano passado, ele e os camaradas trabalharam entre 43 pescadores nos dois ranchos da praia. Este ano foram 35. A experiência faz com ele veja de longe quando um cardume se aproxima. Pelo balanço do mar e a sombra na água ele calcula a quantidade de peixes e avisa pelo rádio para os pescadores que estão na praia, assim como a melhor canoa e o tipo de rede. Sua missão ainda é seguir o cardume pelo costão, para passar a localização correta para os camaradas e garantir que o cardume seja cercado.
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Foto: Caio Marcelo/ Agência RBS
Todos os atributos não são conversa de pescador: durante a entrega do Troféu Tainha 2013, no dia 12 de Julho, no Costão do Santinho, ele levou a medalha de Melhor Olheiro da Lagoinha.
Cardumes chegaram mais cedo
O presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, Ivo Silva, acredita que os cardumes estão chegando mais cedo. Este ano, por exemplo, foram avistados peixes desde o primeiro dia de maio, no Litoral Catarinense. Os cercos, porém, só foram liberados no dia 15. Por isso, a intenção é tentar antecipar a permissão para começar a safra para o dia 1º de maio, no ano que vem.
O professor de oceanografia da Univali Paulo Ricardo Schwingel acredita que antecipar a permissão para a pesca artesanal pode ser uma boa medida, porém não deve resolver o problema. Ele explica que vários fatores estão relacionados a diminuição do número de tainhas. A falta de frio em pleno Inverno é um deles, já que a reprodução do peixe depende da entrada de frentes frias, da intensidade e duração delas.
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– No entanto, é muito difícil dimensionar o quanto a pesca artesanal, industrial e amadora influenciam na mortalidade. Não existe um acompanhamento do Governo Federal no ciclo de migração para a reprodução – explica o especialista.
Ele acredita que se existisse um monitoramento seria possível tomar medidas mais concretas para evitar a escassez dos peixes e avaliar os impactos da pesca industrial, mantendo a tradição da artesanal.
Ranking das Praias que mais pescaram tainhas neste ano:
Naufragados: 16.480 peixes
Ingleses:14.995
Lagoinha do Norte: 14.165
Santinho: 7.670