Virou deboche a ação dos assaltantes que explodem caixas eletrônicos em Santa Catarina. É como se fosse um paraíso: praticam os crimes com tamanha confiança de que não serão presos que chegaram ao ponto de agir 47 vezes desde o ano passado sem nenhum indício de que vão parar.
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Armados muitas vezes melhor que a polícia, com fuzis e pistolas, sitiam os alvos escolhidos, apontam para os reféns, ameaçam. E não se intimidam com movimentação de pessoas ou posto da Polícia Militar no lugar escolhido. Com toucas no rosto, metralhadoras em punho e bananas de dinamite nos bolsos, mostram-se convictos de que sairão com sacolas cheias de dinheiro de alguma cidade catarinense. A polícia estima que um caixa cheio contenha até R$ 300 mil.
Na semana que passou, a força das quadrilhas ficou escancarada novamente duas vezes. Em Araquari, Norte do Estado, parecia cena de filme. Na madrugada de quarta-feira, o bando invadiu o restaurante do posto Sinuelo, um dos mais movimentados pontos de parada para refeições da BR-101 na região.
Os ladrões encapuzados atiraram. As câmeras internas flagraram a rendição dos clientes e funcionários. Um PM do posto policial ao lado reagiu, mas passou longe de conseguir encarar os bandidos, que mais uma vez escaparam livremente. Na madrugada de sexta-feira foi em Cunha Porã – cidade de 10,6 mil habitantes no Extremo-Oeste – que o estouro no Banco do Brasil significou a passagem dos bandoleiros. E ninguém foi preso novamente.
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Divisão policial, briga política e demora na investigação especializada são os principais motivos para a incapacidade das autoridades em romper a onda desse tipo de crime. O fato mais polêmico envolveu a criação de uma força-tarefa pelo secretário de Segurança Pública (SSP), César Grubba, em outubro do ano passado, sem resultado.
Por razões desconhecidas e não reveladas oficialmente, os policiais da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), a elite da Polícia Civil de SC – acostumada a investigar organizações criminosas -, afirmam que não fizeram parte efetivamente da equipe, que foi liderada pela diretoria de inteligência da secretaria.
A força-tarefa até fez algumas prisões, mas de pessoas envolvidas com a venda ilegal dos explosivos. Os assaltantes que empunham armas de grosso calibre e saem na linha de frente dos crimes não foram identificados ou capturados. Nas ruas, seguiram agindo, não só com mais intensidade e violência, mas de maneira ainda mais dinâmica por regiões do Estado, e desaparecendo com a mesma velocidade com que atacam os equipamentos.
Constrangimento à segurança pública
Na história recente de SC, a ação dos assaltantes com explosivos revela-se o fato mais audacioso e também constrangedor para a segurança pública. A última quadrilha que desafiou de forma tão pesada a polícia estadual agiu entre 2003 e 2006. O grupo comandado pelo assaltante gaúcho José Carlos dos Santos, o “Seco”, assaltava carros-fortes em SC e no Rio Grande do Sul. Eram roubos milionários e cinematográficos, com mortes de seguranças, tiroteios com policiais e furos de barreiras.
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Num deles, a quadrilha fechou a BR-101, em Palhoça, na Grande Florianópolis, na manhã de 13 de dezembro de 2004. O grupo agiu também em Joinville, Ibirama e Seara. Seco só foi preso dois anos depois, em 2006, no RS, ao ser reconhecido, de madrugada, num posto de combustíveis, por policiais que o procuravam e após troca intensa de tiros. Ele continua preso no RS.
Quanto aos assaltantes de caixas, os acontecimentos recentes não permitem à população ficar otimista de que eles serão detidos a curto prazo.