O chefe da Capitania dos Portos que lidou de forma autoritária com o comandante, cujo erro causou o naufrágio do Costa Concordia, e exigiu que ele retornasse a bordo, recuperou a honra dos italianos, que veem no navio semissubmerso na costa da Toscana um símbolo da situação do país.
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Foi a conversa telefônica mais ouvida em todo o mundo. Nela se escuta a voz melancólica do capitão do navio, Francesco Schettino, resmungando que “é noite” e que não pode retornar ao seu cruzeiro em perigo.
Do outro lado da linha, o comandante Gregorio de Falco, chefe da Capitania (Marinha) do porto de Livorno, em várias ocasiões, lembrou qual era o dever do comandante e, enfurecido, gritou: “Volta a bordo”.
“Dois homens, dois marinheiros provenientes da Campânia (região sul, cuja maior cidade é Nápoles), duas histórias, uma que nos humilha, e a outra que tenta nos redimir. Obrigado comandante De Falco, nosso país precisa de pessoas como você”, escreveu o jornal Il Corriere della Sera. Para o principal jornal do país, estes dois homens encarnam “as duas almas da Itália”.
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De um lado, “um fanfarrão, perfeito para entrar no (reality show) Ilha dos Famosos, que tem ocupado o espaço deixado vago pelo ex-chefe de governo Silvio Berlusconi”, afirmou o tradicionalmente moderado jornal La Stampa.
“Bronzeado, de cabelo penteado e com (óculos de sol) Ray-Ban, que sabe as regras, mas está habituado a não cumpri-las”, definiu o jornal Il Fatto Quotidiano.
Este jornal de esquerda, sem nomear, o compara claramente com Berlusconi, falando de um capitão que minimiza o desastre, como o antecessor de Mario Monti que negou a crise econômica.
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Por outro lado, o chefe da Capitania, de cabelo despenteado e barba branca, o “bom que desempenha o papel essencial para restaurar a honra ferida da comunidade”, segundo La Stampa.
Na Internet, o duelo verbal entre o bem e o mal é um grande sucesso. “Graças a Deus na Itália, para cada Schettino há também um De Falco”, repetiram os usuários das redes sociais.


O Costa Concordia bateu em uma rocha próximo à Ilha de Giglio, na madrugada de sexta-feira. Mais de 4,2 mil pessoas estavam a bordo do navio, sendo 53 brasileiros. Onze pessoas morreram e há mais de 20 desaparecidas, a maior parte delas de origem alemã.
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Na terça-feira, a Justiça italiana decretou a prisão domiciliar do capitão do navio, Francesco Schettino, por suspeitas de que ele tenha abandonado o navio antes de todos os passageiros deixarem a embarcação. Schettino é acusado de homicídio culposo, naufrágio e abandono de navio.
A empresa dona do navio, a Costa Crociere, acusou o comandante de fazer uma rota não autorizada, levando a embarcação a ficar mais próximo da costa do que deveria. Os passageiros que estavam no navio deram entrada em um processo judicial contra a empresa proprietária do Costa Concordia.
*Com informações da AP e AFP