Se você for até a conta Nicolás Maduro no Twitter e não estiver tão acostumado com a política venezuelana, se surpreenderá. O curto perfil diz o seguinte: “Presidente da República Bolivariana da Venezuela. Filho de Chávez. Construindo a Pátria com eficiência revolucionária”. Não é nem “pupilo” ou “herdeiro político”. É “filho”.

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Ser parente de Hugo Chávez rende certa veneração a quem ostenta tanta proximidade com o líder quase que santificado por setores sociais que emergiram da pobreza graças a programas sociais. E é essa aura que Maduro quer, para superar a reconhecida falta de carisma.

– A família de Chávez está num pedestal, e Maduro busca ficar perto. Como a campanha é de 30 dias, essa estratégia pode elegê-lo. Se fosse mais longa, Henrique Capriles teria mais chance – diz o sociólogo Eduardo Carmona.

Ontem, em meio a uma caminhada de chavistas no centro de Caracas, Zero Hora ouviu duas mulheres comentando que a família de Chávez deveria estar nesses atos. Foi minutos depois de os megafones soltarem a voz de trovão do líder bolivariano pedindo voto para Maduro – uma situação que até parece tetricamente calculada. Em meio a músicas caribenhas, as pessoas se emocionam.

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Recados ao “sobrinho”

O problema para a família de Chávez estar nesses eventos é que ela vive longe e de longe é contemplada. E de Sabaneta (Estado de Barinas), no mesmo quintal onde Chávez viveu a infância comendo frutas no pé e subindo em árvores, seu irmão, Adán, emite recados carinhosos ao “sobrinho” Maduro. Diz que cumpre ordens de Chávez, apoiando-no para suceder o líder no comando da “revolução bolivariana”.

Até as restrições de críticos à família se desvanecem com tanta santificação, enquanto o “Comandante” jaz em um quartel, resguardado por quatro militares (veja ao lado).

Mas a família é bem mais que a continuidade sanguínea do político morto. O próprio Adán Chávez foi ministro chavista e, hoje, governa Barinas. O genro, o jornalista Jorge Arreaza, tornou-se vice-presidente de Maduro. Outro irmão, Argeni, é ministro adjunto do ministério dedicado a cuidar do setor elétrico. As filhas Rosa Virginia e María Gabriela são cotadas para o Legislativo.

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O fato é que a família, aparentemente unida, mas alvo de restrições por parte da oposição (especialmente pelo suposto uso da máquina pública), parece o centro de uma novela com roteiro de ascensão social.

– O país vive uma telenovela real, um melodrama. Gosta disso – analisa o diretor de telenovelas Leonardo Padrón, autor de sucessos como Gardenia, Cosita Rica e Ciudad Bendita.