Chapecó teve neste domingo a primeira eleição indígena com urna eletrônica no Estado. Atual cacique da Terra Indígena Toldo Chimbangue, Idalino Fernandes foi reeleito com 164 votos. Seu adversário, João Batista Antunes, teve 85. É a primeira vez que o TRE catarinense atua em eleições indígenas.
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É a primeira vez que o TRE-SC atua em eleições indígenas, mesmo já fazendo parte o apoio no pleito de entidades públicas organizadas e instituições de ensino. Apesar do avanço, nem todos os índios compartilharam opiniões positivas a respeito da mudança.
Juvenal Antunes, 65 anos, aposentado, não gostou da urna eletrônica porque, segundo ele, não se sabe para onde vão os votos. Antes era só contar as sementes, defende ele.
Os índios escolhiam os candidatos com sementes de milho e feijão. Cada candidato era representado por uma semente, que eram colocadas em uma espécie de caixa, representando a urna, e depois contadas. Vencia quem tivesse mais sementes correspondente.
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— Essa eleição está igual de branco, eu preferia quando era feito com sementes—compara.
O candidato Idalino Fernandes, que está em seu terceiro mandato, já participou das três formas de eleição: com sementes, cédulas de papel e agora com urna eletrônica.
—Foi um avanço, o povo escolhe e não tem mais falsificações como antigamente—avalia.
O coordenador da Funai, Cloves da Silva explica que a urna eletrônica foi uma solicitação da comunidade.
—Nós buscamos o TRE e eles atenderam a vontade, tudo vai modificando e a tecnologia está muito próxima da comunidade só não podemos perder a cultura—conta.
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Ao contrário de Juvenal, a aposentada Angelina Fernandes, 88 anos, aprovou a ideia.
—É bem mais fácil agora, só aperta e escuta o barulhinho—, disse.
A chefe de cartório do TRE, Adriana Ferreira, explica que não há outro caso como esse no Estado e que a mudança vai trazer transparência e democracia. Segundo Adriana, o cartório é responsável pela urna e treinamento dos mesários – que são os próprios indígenas- acompanhados da FUNAI. Também é de responsabilidade da Justiça Eleitoral o fechamento da urna e a apuração dos votos ao final das eleições.
Segundo a coordenadora de eleições do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, a ação é destaque nacional. O pedido para a inclusão das urnas eletrônicas nas eleições indígenas partiu da Procuradoria da República em Chapecó, depois da solicitação da comunidade.
Dois candidatos concorrem as eleições: o atual cacique Idalino Fernandes e o candidato João Batista Antunes. Apesar de ser a primeira vez das eleições internas da Aldeia serem feitas com as urnas eletrônicas, os indígenas já estão familiarizados com os instrumentos, já que participam nos pleitos majoritários, com uma seção exclusiva para eles durante as eleições.
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Sobre a cessão de urnas eletrônicas
Desde 1996, o TRE-SC realiza eventos para a sociedade. Entre as instituições atendidas estão o CREA, OAB, UFSC, UNIMED, Conselhos Tutelares, DCEs e eleições de vereadores mirins.
Muitas dessas eleições comunitárias possuem números maiores que os da eleição oficial. Por exemplo, 264 municípios catarinenses possuem eleitorado inferior ao da eleição de vereador mirim de Joinville de 2014, que movimentou mais de 15 mil eleitores e 173 candidatos.
* Com informações Sirli Freitas