Chapecó reverenciou na noite desta sexta-feira (29) as 71 vítimas do maior acidente aéreo da história do futebol sul-americano. Em 29 de novembro de 2016, o avião que conduzia jogadores, dirigentes, funcionários e jornalistas para acompanhar o principal jogo da história da Chapecoense caiu a poucos quilômetros de Medellín, na Colômbia, palco da primeira partida da decisão da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.

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Três anos depois, centenas de torcedores, funcionários e familiares das vítimas do fatídico voo reuniram-se ao lado da Arena Condá para reverenciar ídolos de um grupo que já havia entrado para a história, e se tornado inesquecível, mesmo que não acabasse marcado pela tragédia.

É um momento de reflexão, vem tudo o que aquela equipe conquistou. Eles nos deixaram um legado de união. É um momento de dor pela lembrança da perda, mas eles nos deixaram um legadoNeto, zagueiro da Chape em 2016, que sobreviveu à queda do avião

A Chape de 2016, além de emendar três anos na elite do futebol brasileiro após partir de forma meteórica da Série D, galgara o patamar mais alto da história do futebol catarinense ao chegar naquela decisão. Uma final abortada pela omissão, pela tragédia criminosa. A bola que não rolou deu lugar as lágrimas, à dor e a uma lição de solidariedade dos colombianos, que lotaram o estádio Atanasio Girardot para prestar solidariedade aos irmãos brasileiros.

Emoção que nesta sexta, mais uma vez, tomou as ruas de Chapecó. A homenagem começou com uma apresentação artística em frente ao átrio Daví Barella. Em seguida, houve o plantio de 71 lírios no local, situado ao lado da entrada da Ala Norte da Arena Condá. Uma das flores foi deixada por Vanusa Pallaoro, viúva do então presidente Sandro Pallaoro.

— Já dói menos mas a saudade é grande. E tem muita coisa que não foi resolvida ainda – disse, lembrando das pendências judiciais. Próximo dela, a filha Dhayane, segurava o neto no colo e uma vela, que foi usada na caminhada até a Praça Coronel Bertaso.

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Viúva de Sandro Pallaoro plantou lírios
Vanusa, viúva de Sandro Pallaoro plantou lírios (Foto: Darci de Bona)

Desde o fim da tarde torcedores como Pablo Gomes, 18 anos, estavam lá, embandeirados como em dia de jogos do Verdão.

— Lembro de ligar a TV e não acreditar no que tinha acontecido. Demorou para cair a ficha. Hoje vim prestar uma homenagem a eles — afirmou Pablo, integrante da torcida organizada da Chape.

torcedor da Chape
Pablo Gomes, 18 anos, integra uma torcida organizada (Foto: Darci de Bona)

Fernando Kasper, que chegou a ir para a Argentina acompanhar o time na Sul-americana em 2016, tentou reumir o misto de emoções provocados pela lembrança.

— Ontem passei aqui e vi os nomes, deu uma tristeza. São muitas lembranças de vitórias, também de derrotas.Às vezes olho os vídeos, outras procuro não olhar. É muito triste. Agora temos que reerguer o time — afirmou, lembrando o recente rebaixamento à Série B do Brasileiro.

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torcedor da Chapecoense
Fernando Kasper chegou a ir para a Argentina acompanhar o time na Sul-Americana. (Foto: Darci de Bona)

Em seguida, houve 600 metros de caminhada, até a praça Coronel Bertaso, com familiares e amigos carregando velas. Madruga, mascote do time usou a fantasia do Ìndio Guerreiro e conduziu a caminhada.

– Que saudade- disse.

Mascote Madruga leva a bandeira da Chapecoense
Caminhada da Arena Condá até a Praça Coronel Bertaso (Foto: Tarla Wolski)

Josimar dos Santos, integrante da torcida Barra da Chape, carregou uma das faixas em homengam ao grante time de 2016.

– Para nós é um dia especial por tudo o que eles representam para nós. É um dia de gratidão pois levaram uma equipe pequena até a Série A do Brasileiro e a uma final de uma competição continental. Foi o auge – disse.

Muitos usavam camisas da Chapecoense. Monir Scapinello, estava com uma do goleiro Danilo, de quem era fã.

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– Ele sempre nos cumprimentava. No último jogo antes da partida contra o San Lorenzo, quando eles chegaram no aeroporto, fomos recepcioná-lo e ele tirou uma foto com o meu filho. Depois minha filha também queria. Mas aquela foi a última vez que eles desceram no aeroporto de Chapecó – lembrou.

As escadarias da Catedral Santo Antônio foram palco de apresentações da Orquestra Sinfônica de Chapecó, do Coral Infanto-Juvenil e também de espetáculos de dança.

A celebração religiosa teve caráter ecumênico, com as falas de líderes religiosos do candomblé, espiritismo, luterano, adventista, evangélico, católico e muçulmano.

Alan, hoje no Goiás, enviou mensagem exibida em telão
Alan, hoje no Goiás, enviou mensagem exibida em telão (Foto: Darci De Bona)

Sobrevivente do voo, o lateral Alan Ruschel, hoje no Goiás, enviou um vídeo, exibido em telão em frente a Catedral:

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— Agradeço ao povo de Chapecó que foi muito importante na retomada da nossa vida. Grato a vocês que me abraçaram e abraçaram a minha família.

Neto foi um dos sobreviventes do acidente aéreo na Colômbia
Neto falou do legado de amor e união daquele grupo de 2016 (Foto: Tarla Wolski)

O zagueiro Neto, outro dos seis sobreviventes do acidente, falou à multidão:

— As pessoas que se foram deixaram um legado de amor. A gente fala disso mas não pratica. Jogadores, diretores, imprensa, estavam lá por amor ao que faziam. Se sacrificavam. Aqueles que partiram fizeram a diferença por amor. Vamos fazer a diferença.

A Chapecoense encara, em 2020, o desafio de voltar a buscar uma vaga entre os 20 maiores do país. Se depender do amor e do exemplo, força para essa volta por cima não irá faltar.

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