Eles chegaram em Santa Catarina somente com a roupa do corpo, alguns de chinelo, outros com sapatos emprestados, sem celulares, com um pouco de dinheiro, mas com muita esperança de reconstruir a vida. Depois de sete horas de viagem em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), 81 venezuelanos que saíram de Boa Vista (RR) desembarcaram em Chapecó na noite de segunda-feira (27).

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Desses, 20 foram para Itapiranga, onde irão trabalhar na unidade da Seara Alimentos. Os demais vão para a Aurora Alimentos. Nesta terça-feira (28), chegaram mais dois casais em voo regular e, nesta quarta, outros 85 venezuelanos devem pisar no solo de Chapecó por volta das 16h, também vindos em aeronave da FAB.

Eles já chegam com emprego garantido, numa articulação do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados junto às empresas que teve o apoio do Exército na operação. O primeiro grupo já teve um treinamento e encaminhou a documentação. Eles estão alojados no Recanto Manancial, em Guatambú, espaço com sete casas e alojamento que foi alugado.

— Estamos muito felizes pela oportunidade, pois não tínhamos trabalho na Venezuela, o salário não dava para comer, tem crianças passando fome, e aqui encontramos muito apoio — disse Alexander Rodrigues, 41 anos, que há seis meses estava num abrigo em Boa Vista. Ele era auxiliar de depósito e segurança, mas teve que deixar os pais na Venezuela para poder buscar um trabalho.

José Luís Ballejo Aguilera, 38 anos, deixou a esposa Yamile e os filhos Josiani, de um ano, Gabriel, 4, e Bárbara, 16, na cidade de Margarita para tentar uma vida nova no Brasil. Caminhou durante quatro dias, de chinelo de dedo, até cruzar a fronteira. Ele havia perdido o emprego num frigorífico de pescados.

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— Lá não temos gasolina, não temos leite e nem emprego porque as empresas fecharam as portas — disse Aguilera.

Ele quer ganhar dinheiro para poder trazer a família para o Brasil. Esse também é o sonho de Elvis Josmeir Marques, que deixou a mulher, Patrícia Gonzalez, e os gêmeos Saul e Samuel, de oito meses, na cidade de Puerto Orda.

— Trabalhava numa empresa de ônibus vendendo passagens, mas as viagens foram escasseando até a empresa fechar as portas. Não tinha nem como dar um sorvete para os filhos. Ultimamente estava trabalhando na rua — conta.

Colega dele, José Conde relata que na rua ganhava mais que engenheiro e professor.

— Uma calça custa 100 dólares, o que dá cinco ou seis salários. Nosso salário é 40 mil bolívares, o que dá R$ 40. Para comprar um celular teríamos que trabalhar dois anos. Pode ver que aqui ninguém tem celular — disse Conde, que tem um filho, Emanuel, de quatro anos, na cidade Maturin.

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— Vim para cá para buscar um futuro para o meu filho — disse.

No Brasil, eles já receberam doações de roupas, colchões e cobertores. A proprietária do alojamento, Roseli Marques, já teve uma boa impressão dos novos inquilinos. E os catarinenses mostram solidariedade ao acolher pessoas que também buscam construir aqui uma nova história.

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