Chanel é uma das estilistas mais fotografadas, comentadas e biografadas do último século. O que nos deixa a impressão de sempre saber algo sobre ela, por menos que haja interesse no assunto. Seja pelo pretinho básico, pelo nome do corte de cabelo ou pelas frases memoráveis.

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A revolucionária Mademoiselle Chanel é responsável pelas principais transformações na história da moda, mas as iniciativas e mudanças fazem bem mais sentido depois de assistir a Coco Avant Chanel (Coco Antes de Chanel), filme dirigido por Anne Fontaine que estreia no Brasil no dia 30 de outubro. Contando com uma certa sisudez da doce atriz Audrey Tautou, o filme descreve a dura primeira fase da vida da designer. Da infância órfã, passando pelas tímidas apresentações em cabarés no interior da França e por seus primeiros relacionamentos amorosos.

O detalhamento do filme para exatamente aí. A transformação da chapeleira em estilista incensada foi descrita nas poucas cenas finais. A proximidade com a vanguarda artística e intelectual foi apresentada de maneira discreta, e seu envolvimento com os nazistas durante a Segunda Guerra nem apareceu no script.

Mas, ao que a produção indica, a intenção era mostrar o poder de observação de Chanel, e como essas referências se transformaram em criações. Ou seja, mais do que uma biografia, é um filme sobre referências de moda. Claro, com aprofundamentos estratégicos nos romances, porque histórias de amor não fazem mal a filme algum.

O fato é que, mais do que amor, Chanel foi movida a solidão. Por isso o destemor pela rejeição em suas investidas de estilo e nas inovações de perfil que instituiu. Dependente de autoafirmação, não hesitava em soltar o espartilho, arrancar uma flor ou vestir calças em busca de conforto.

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Os excessos da indumentária do início do século 20 a incomodavam, e ela transformou essa discordância em inspiração, revelando o luxo do básico pregado até hoje.

A elegância de seus amantes lhe transformou em uma grande admiradora da moda masculina. Ao lado do playboy Étienne Balsan, frequentava as elegantes corridas de cavalos e observava o público. De um lado, as pérolas e rendas das mulheres, de outro, os culotes e chapéus masculinos. Com Boy Capel, seu grande amor, descobriu a praticidade do jérsei para fazer camisas e, na praia, a sensualidade das camisetas listradas dos marinheiros.

Ainda assim, na lista do tratado de influências, alguns clássicos ficaram de fora – e fizeram falta -, como a camélia, o sapato bicolor e até o nascimento do pretinho básico. O que mostra que a história de Gabrielle Coco Chanel é muito longa para ser contada em 105 minutos. Até porque, enquanto existir a maison com os Cs entrelaçados, ela continuará a ser escrita.

Outras versões no cinema

? Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)

Ainda sem previsão de estreia no Brasil (foi exibido em première recentemente no Festival do Rio), o longa de Jan Kounen usa elementos reais e ficcionais para abordar a relação entre Chanel (Anna Mouglalis) e Igor Stravinsky, amizade e reverência artística que teria se transformado em um nebuloso caso romântico.

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? Coco Chanel (2008)

Produção para a televisão inédita no Brasil que valeu a Shirley MacLaine indicações ao Globo de Ouro e ao Emmy, por sua interpretação de Coco Chanel na maturidade. O filme destaca em suas três horas de duração o período em que a estilista tentava se restabelecer no mundo da moda, nos anos 1950.