Herói nas oitavas de final em 1998, contra o Chile, ao marcar dois gols na goleada por 4 a 1, César Sampaio destaca as qualidades da Seleção Brasileira e os cuidados que a equipe deverá ter diante do México, nesta segunda-feira, na busca de uma vaga nas quartas de final na Copa do Mundo da Rússia. O ex-volante falou sobre a tensão que antecede esse tipo de disputa e principalmente como deve ser a preparação para suportar a pressão na fase em que perder significa dar adeus ao sonho do título.

Continua depois da publicidade

Para quem está lá dentro, como é a diferença da preparação de um jogo da fase de classificação para uma partida de mata-mata? Como fica a cabeça do jogador?

Na fase de grupos, uma derrota ou empate tem como recuperar. No mata-mata, você entra sabendo que para ou continua. Tratando-se de Brasil, por ser maior vencedor de Mundiais, a cobrança é maior. E inerente à cobrança tem também um desgaste emocional, uma atmosfera mais pesada. Ainda mais neste Mundial, que a Alemanha saiu, hoje o Brasil é o time a ser batido. São momentos que antecedem o jogo, de vestiário, tensos.

Em 1998, você foi com o Brasil até a final. Tem algo sobre a preparação para aqueles jogos que você recorde e considere que foi essencial para o time ir tão longe?

Eu, como cristão, não só para aquele jogo de oitavas, mas antes de todos os jogos, eu procurava sempre buscar segurança e conforto e aliviar um pouco a tensão lendo a Bíblia. Eu busca provérbios, salmos, livros que passam algo atrelado a essa carência humana, esse amparo em momentos decisivos.

Continua depois da publicidade

O Brasil é o único time do mundo que sempre entra em campo com a obrigação de ganhar. Essa pressão gerada pelo favoritismo incomoda?

O favoritismo do Brasil eu não digo que atrapalha porque tem todo contexto que jogadores são formados sabendo disso. O modelo brasileiro de fazer comentários sobre um jogo, de analisar a participação de um atleta, está atrelado entre os que vencem e os que não vencem. A pressão não é só em jogos importantes de Copa. Jogadores que jogam em grandes clubes passam por isso semanalmente. Muitos falam do choro do Thiago Silva em 2014, do Barbosa em 1950. Jogar nos grandes clubes do Brasil já traz essa pressão. Na Seleção Brasileira, os atletas acabam aprendendo a conviver com essa pressão.

Em 1998, o Brasil pegou nas oitavas de final o Chile, de Zamorano, Salas. Agora, a Seleção tem pela frente o México. É possível traçar algum paralelo entre esses dois adversários, por serem times aqui da América Latina?

O México tem o trio Lozano, Chicharito e Vela. O Chile, naquela oportunidade, tinha dois homens perigosos, que podemos comparar a Suárez e Cavani, fazendo comparação com o Uruguai de hoje. O Vela é um jogador de muita qualidade técnica, de criação mesmo. Faz valer o preço do ingresso, cara que é 10 canhoto, falso lento, pensa muito rápido. O Chicharito, que é goleador, não para um minuto. E o Lozano que vive um excelente momento. O Brasil vai precisar ter muito cuidado com os três. O México deve jogar no contra-ataque.

Continua depois da publicidade

Pelo que você acompanha, esse grupo, (do ponto de vista do aspecto coletivo, da união e também do emocional), tem condições de ir longe nesta Copa? No que precisa melhorar?

O Brasil vem crescendo dentro da competição. A melhora está atrelada aos resultados. Vitória traz confiança. É uma sequência lógica. O Brasil não começou bem a competição. Creio que muito por causa da recuperação do Neymar, o peso da estreia. Mas fez jogo melhor contra a Costa Rica e contra a Sérvia ficou nítida a evolução. O México, entre os possíveis adversários, é inferior tecnicamente. O Brasil entra como favorito e vem crescendo.

A Seleção praticamente repetiu a escalação nos três primeiros jogos. Fora possíveis mudanças por causa de lesão (caso do Marcelo), acredita que o time está encaixado?

Conhecendo o trabalho do Tite, a gente acaba acostumando com a maneira dele de fazer gestão no grupo. É quase impossível mudar equipe que vem ganhando. Mas eu gostei do fim do jogo contra a Costa Rica, com o Firmino e o Gabriel Jesus. Mas quem sairia para o Firmino entrar? Se tirar Willian, a parte de abastecer esses dois jogadores se perde também. O Coutinho é o melhor até agora. O Neymar não pode sair. Acabaria sobrando para o Paulinho. Assim, o time ficaria mais ofensivo, só com o Casemiro de característica defensiva. Essa é mais ou menos a composição. É uma variação para um jogo precisando do resultado, perdendo a partida, poderia ser aplicada. Em uma eventual necessidade, essa é uma variação que poderia ser usada.

Continua depois da publicidade