César Barbosa, pai da ginasta Jade Barbosa, concedeu entrevista para a coluna do Mário Marcos de Souza, da Zero Hora. Ele contou o drama da filha, que está machucada e sem recursos para pagar o tratamento.
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Desde agosto do ano passado, o arquiteto carioca César Barbosa, 49 anos, está envolvido em uma batalha para salvar a carreira da filha, a ginasta Jade, oitava melhor do mundo, que voltou dos Jogos de Pequim com grave lesão no punho direito. Ela sofre de osteonecrose, problema que prejudica a irrigação no capitato, o osso central do punho, e limita seus movimentos. Diante da indiferença do Comitê Olímpico Brasileiro pela sorte de uma das melhores atletas do país, ele decidiu encarar o desafio. Pai de outra criança, o também ginasta Pedro, de 11 anos, viúvo, namorado de Elisete, uma professora de educação física e advogada, ele passou a vender camisetas pelo site da filha em busca de recursos.
Por que o senhor lançou a campanha?
César Barbosa – É complicado manter uma atleta. Toda a família fica envolvida no processo. É preciso sair do trabalho, levar para treinar, buscar para o almoço, ir até a escola, ao médico, fica praticamente impossível cumprir todo o processo. Venho há muito tempo me dedicando a Jade.
O senhor desenhou a roupa?
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César – Sim. O custo é muito alto. Quando lancei a campanha no site, pensei em uma arrecadação própria. Não quero doações, como muita gente ofereceu, mas o resultado de nosso próprio trabalho.
A Jade não deveria estar sendo cuidada pelo Comitê Olímpico Brasileiro?
César – Tenho plena certeza de que sim, mas não posso sacudir as pessoas. Elas sabem o que está acontecendo. Entre as 466 ginastas que foram a Pequim, a Jade voltou como a oitava melhor – e lesionada. Ela é atleta de alto rendimento, é reconhecida mundialmente, deveria estar sendo cuidada. Não fizeram. Não posso chegar a todo momento lá e pedir ajuda. Fico aqui e procuro meu caminho. O que tinha de ser dito, já foi dito. Não posso ficar esperando.
Alguns representantes das entidades falam que não foram mais procurados.
César – É, eu sei, mas não é assim. Nem é tanto pela parte financeira. A Jade merecia ao menos apoio para continuar sua vida de ginasta. Ele está doida para treinar normalmente e não pode, por culpa deles. Me devolveram a menina com o problema e, pior, sem falar nada. Se seu fosse um pai descuidado, teria permitido que ela voltasse a treinar, sem ligar. Mas, não. Com as queixas, procurei um médico, fizemos a ressonância e descobrimos o problema. Achei uma tremenda irresponsabilidade. O médico deveria ter me falado, mas sumiu.
Eles deveriam ter seguido com ela?
César – Lógico. Ela tem 17 anos e chances de disputar três Olimpíadas. Não poderiam levar esta menina ao ponto em que levaram.
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A Jade tem conseguido treinar?
César – Sim, tem feito uma série de trave, mais solo, sem usar a mão direita.
Como ela vai conseguir ir adiante?
César – Acho difícil pegar uma atleta que é oitava do mundo e fazer trave com uma única mão. Mas depende dela. Ela tem força de vontade. Eu dou apoio.
Ela tem noção da gravidade da lesão?
César – Atleta tem isso, quer treinar. Sabe do problema, mas não tem tanta noção assim. Se é adulto, chuta o balde e vai para fora. Convites ela teve, pensávamos em consultar em Miami, mas depois do congresso em São Paulo desistimos.
Que congresso?
César – Um encontro de especialistas. Lá, examinaram o caso dela e concluíram que nem havia literatura sobre o assunto.
Há o risco de agravar a lesão?
César – Risco existe. Os médicos nos disseram que a medicina não é ciência exata e a evolução pode surpreender. Semana que vem teremos consulta com um especialista em São Paulo. Ele dirá o que fazer. A Jade terá de achar o caminho.
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Quanto o senhor tem gasto por mês?
César – Prefiro não dizer, mas vou dar uma ideia. Ela é uma menina ainda, não tem carteira, e é uma figura pública. Como precisa estar em muitos lugares no dia, não pode depender de ônibus, nem eu posso levá-la sempre. Então, vai de táxi. Só aí gasto mais de R$ 1 mil por mês.
Como é a rotina da Jade?
César – Treina das 7h30min às 11h30min, estuda das 12h30min às 18h30min (Jade está concluindo o Ensino Médio e se prepara para vestibular de Educação Física ou desenho). Das 19h às 21h, mais treino. Além disso, precisa cuidar da parte aeróbica, enfrentar sessões de fisioterapia, estudar. Tem mais: tenho um filho, Pedro, de 11 anos, que também faz ginástica. Ele estuda, pego na escola, levo para o treino da tarde, uma loucura.