O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou na última terça-feira, à Justiça Federal, em Curitiba, que morou dois anos sem pagar aluguel em um apartamento de R$ 7,5 milhões, localizado na praia de Ipanema (RJ) – um dos metros quadrados mais caros do Brasil. O duplex de luxo está registrado em nome da Jolmey do Brasil Administradora de Bens Ltda, uma filial da uruguaia Jolmey S/A, aberta pelo advogado Oscar Enrique Algorta Rachetti, no Uruguai.
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MPF denuncia Cerveró sob acusação de ocultar imóvel de R$ 7,5 milhões
Para a força-tarefa da Operação Lava-Jato, Cerveró é o verdadeiro dono do imóvel.
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– O senhor não acha estranho morar dois anos de graça em um apartamento? – questionou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava-Jato.
– Mas eu não acho. Foi uma compensação – respondeu o ex-diretor.
Cerveró foi interrogado pelo juiz na ação penal em que é réu ao lado do advogado uruguaio Algorta e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano – acusados por crime de lavagem de dinheiro envolvendo a compra do apartamento, em 2009.
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A Jolmey teria sido usada por Cerveró para ocultar o patrimônio, originado de propina operada por Fernando Baiano, em nome do PMDB, na Diretoria de Internacional. Os recursos e a operação de lavagem teriam sido feitas por Algorta.
Segundo a denúncia do MPF, “parte dos valores voltou ao Brasil em simulação de investimentos na empresa Jolmey do Brasil Administradora de Bens Ltda, uma filial da uruguaia Jolmey S/A”. A denúncia aponta ainda que as duas empresas eram de Cerveró, apesar de registradas em nome de terceiros.
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A Jolmey do Brasil Administração de Bens Ltda foi aberta em novembro de 2008, em nome do advogado Marcelo Oliveira Mello – ex-jurídico da Petrobras que trabalhou com Cerveró.
Abaixo, veja o que já ocorreu durante as investigações:
Segundo Cerveró, a Jolmey era de Algorta que, em 2008, propôs que ele intermediasse negócios no Brasil no mercado imobiliário.
– Ele disse que representava clientes no Uruguai que queriam investir em imóveis no Rio. Assumi compromisso com Algorta, ele conversou com um cliente dele e fizemos esse acordo, ele comprou o apartamento por R$ 1,5 milhão – declarou Cerveró.
Denúncia do Ministério Público Federal informa que o apartamento no bairro de Ipanema, no Rio, foi adquirido pela Jolmey do Brasil por R$ 1,532 milhão e depois reformado com R$ 700 mil. O imóvel está avaliado atualmente em R$ 7,5 milhões.
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Segundo o MPF, desde o início o apartamento pertencia a Cerveró. Depois da reforma, a propriedade foi alugada ao ex-presidente da estatal por R$ 3.650, valor abaixo do de mercado. Relatório da Receita Federal aponta que o apartamento teria sido alugado da Jolmey do Brasil entre 2009 e 2011.”A locação teria iniciado em junho de 2009 pelo valor de R$ 3,5 mil mensais.” Em 2011, o último aluguel registrado foi de R$ 4 mil. “Nos anos de 2012 e 2013, segundo Declaração de Imposto de Renda de Cerveró, mesmo pagou à locadora o montante total de, respectivamente, R$ 9,8 mil e R$ 9 mil.”
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O ex-diretor afirmou que foi feito um acordo verbal, sem registro, de que ao final da reforma ele poderia comprar ou morar no imóvel pagando aluguel com preço de mercado – a ação cita o valor de R$ 18 mil mensais.
Cerveró argumentou que o pagamento do aluguel era baixo porque ele administrava as outras despesas do imóvel e que havia um acordo comercial de que, ao final, ele compraria o duplex ou passaria a locá-lo pelo preço de mercado.
– Não tinha dia certo para pagar aluguel, era uma relação diferenciada, era uma relação de investimentos – explicou o ex-diretor.
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Os fatos que marcaram a operação:
Ex-advogado da Petrobras
Cerveró confirmou que indicou o ex-advogado da Petrobras para Algorta para que fosse efetivado o negócio. Foi em seu nome que foi registrada a filial da Jolmey no Brasil.
– Eu indiquei o Marcelo porque a ideia do Algorta era essa, criar uma empresa no Uruguai e uma subsidiária no Brasil, que seria proprietária do imóvel desse cliente.
No papel Algorta era o presidente do Conselho de Administração da Jolmey S/A e, segundo o MPF, o “mentor intelectual” da operação que beneficiou o ex-diretor da Petrobras.
Mello foi ouvido pela Polícia Federal e confirmou que foi procurado há sete anos por Cerveró e pelo advogado uruguaio Algorta para montar uma subsidiária brasileira da Jolmey.
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– O ex-diretor tratou pessoalmente do assunto – afirmou Mello.
Numa troca de e-mail em poder da Lava-Jato, há registro de uma mensagem entre um funcionário do escritório de Mello, de 2010, em que ele pede uma reunião com Cerveró, a quem trata de “dono da Jolmey” para que “a melhor estratégia seja tomada para mitigar o risco de exposição fiscal do cliente”.
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Suspeita
As declarações de Cerveró em seu interrogatório foram consideradas suspeitas pelos investigadores da Lava-Jato. No ano passado, pouco depois de ser deflagrada a Operaçõa Lava-Jato, um substituto foi colocado no lugar de Mello como sócio da Jolmey Brasil, e a família de Cerveró deixou o duplex em que moravam sem pagar aluguel desde 2011.
* Agência Estado