Após vários testes com oito ciclistas de alto nível, uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstrou a relevância da participação do cérebro no desempenho dos atletas. O estudo foi desenvolvido pelo educador físico Eduardo Bodnariuc Fontes e realizada na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), África do Sul.
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Entre os atletas que participaram do teste estava um triatleta e um campeão sul-africano de ciclismo. A ideia era acompanhar profissionais com esse perfil justamente porque, na teoria, eles conhecem melhor o próprio corpo, por vivenciarem o esporte de seis a oito horas por dia.
Os atletas frequentaram os laboratórios da UCT para fazer exercícios de várias intensidades, a fim de identificar se os efeitos da fadiga eram mais na perna ou na respiração. O teste simulou altitudes de 2,5 mil metros com diminuição de oferta de oxigênio, a mesma situação verificada quando eles ficam cansados. Normalmente, quando se fala em nível do mar, respira-se 21% de oxigênio. Nesses testes, respiravam 15%, baixando o seu desempenho atlético em mais ou menos 30%.
Segundo Fontes, especulava-se que a causa para a fadiga seria a presença de mais lactato, um ácido que, com o trabalho intenso dos músculos, é liberado na corrente sanguínea. Em atividades físicas de longa duração, o suprimento de oxigênio nem sempre é suficiente, de modo que o organismo acaba buscando energia em outras fontes, e produz esse ácido. O acúmulo de lactato nos músculos pode desencadear dor e desconforto após o exercício.
Na UCT, um aparelho de infravermelho foi posicionado no cérebro e no músculo para medir a oxigenação e identificar qual órgão tinha maior relação com a percepção do cansaço.
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– A medição comprovou que, se o atleta estiver em perigo, como ocorre quando diminui a força do oxigênio, o sistema nervoso central manda uma informação para outras áreas do cérebro, como as sensoriais, que informam: “a gente está numa situação difícil no cérebro: por favor, parem de fazer exercício!” – explica o pesquisador.
Fontes compara a situação ao que acontece com os alpinistas de altas altitudes: eles lutam contra o cérebro, forçando a superação de limites, enquanto o cérebro tenta proteger o organismo para evitar danos durante os exercícios. O segredo está na mente.