Quando Jefferson Martins Matos, 21 anos, identificou a gradual perda da visão, em 2006, tudo indicava que não passaria de simples miopia e astigmatismo. As imagens cada vez mais embaçadas e as fortes dores de cabeça, entretanto, levaram à desconfiança de uma doença rara na córnea do olho esquerdo de Jefferson, o ceratocone. Caracterizado pela distensão da córnea e pelo afinamento progressivo, o ceratocone é uma doença degenerativa e hereditária, que acomete menos de 0,5 % da populaçãol. Afeta homens e mulheres em igual proporção e, em 90% dos casos, em ambos os olhos.

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Em geral, a doença se desenvolve assimetricamente: o diagnóstico do problema no segundo olho ocorre cerca de cinco anos após o diagnóstico no primeiro. À medida que a córnea se torna afinada e sua superfície cada vez mais cônica, o paciente percebe a diminuição da capacidade visual. Coceira e sensibilidade à luz são alguns dos sintomas que afetam o paciente com a córnea curvada. Quando em estágio avançado, a deformação ocular pode levar à cegueira. Segundo o oftalmologista Daniel Moon Lee, especialista no tratamento de ceratocone e catarata e em implantes intraoculares, a doença inicia-se geralmente durante a adolescência, por volta dos 16 anos.

— No entanto, alguns pacientes podem levar mais tempo para descobrir o problema real, achando que se trata de miopia ou astigmatismo – explica.

Lee afirma que o tempo de aparecimento dos sinais de ceratocone também varia para cada paciente, podendo evoluir rapidamente ou levar anos para se desenvolver. Apesar de mais raros, há casos de pacientes que apresentam alterações na córnea na infância ou após os 30 anos.

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Para Jefferson Martins, o avanço do ceratocone foi rápido. O grau de miopia do olho esquerdo chegou a oito em 2008, quando foi constatado o cone na córnea:

– Apesar de o aumento de grau ter estabilizado desde então, os óculos não conseguem mais melhorar minha visão. Até o fim de setembro, passarei a usar lentes de contato rígidas para correção – conta Jefferson.

Lentes de contato corrigem o problema

O uso de lentes de contato é o tratamento mais usado atualmente para a correção do ceratocone.

– A lente rígida estabiliza a superfície ocular, proporcionando uma curvatura da córnea mais regular – explica Moon Lee.

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Por se tratar de uma lente rígida, a adaptação, especialmente sobre a córnea com curvatura muito irregular, não é imediata e deve ser feita com acompanhamento do oftalmologista, que vai testar e adaptar a lente ao paciente.

Segundo Alberto Reinaldo Rettold, especialista em lentes de contato, a capa lacrimal que se forma atrás da lente é o que dá a visão ao paciente, pois ela deixa a córnea ser cônica novamente.

– As gás-permeáveis (ou siliconadas) são as únicas recomendadas para os pacientes. Não servem as gelatinosas. É possível voltar a ter uma visão normal – afirma o especialista.

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Aquele que se propõe a passar pela adaptação às lentes consegue grande melhora da qualidade de vida, sem necessidade de procedimentos cirúrgicos. Porém, quem não se adapta ou não obtêm o resultado esperado do tratamento podem recorrer a técnicas cirúrgicas, reversíveis ou permanentes, para correção da curvatura da córnea. A cirurgia não é recomendada nas fases iniciais, porque o uso de lentes de contato pode resolver o problema do paciente dando-lhe uma boa qualidade de visão.

Alguns pacientes acreditam que a única forma de tratar o ceratocone é por meio de transplante de córnea, o que, segundo o médico, é a última opção – e apenas para casos graves e de rápido avanço. Além disso, um procedimento cirúrgico sempre traz riscos associados, como rejeição, infecção e até perda da visão.