Natural do Estado de Maryland, a embaixadora Liliana Ayalde, que substitui desde o mês passado o embaixador Thomas Shannon, anunciou nesta sexta-feira a abertura de um Centro de Atendimento ao Solicitante de Vistos (CASV), no bairro Bela Vista. A partir de março ou abril, segundo Liliana, parte da demanda por vistos americanos poderá ser solucionada apenas em Porto Alegre, sem necessidade de viagem a São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Recife.

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Em entrevista aos veículos do Grupo RBS, Liliana admitiu que o andamento das negociações sobre a isenção de vistos para brasileiros está congelada em alto nível – como consequência do estremecimento nas relações entre os dois países após as denúncias de espionagem do ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden -, mas que, no nível técnico, os estudos de viabilidade estão mantidos.

Sobre o pedido de desculpas exigido pela presidente Dilma Rousseff ao governo de Barack Obama após as denúncias de espionagem que levaram a brasileira a cancelar uma visita à Casa Branca, a embaixadora tergiversa.

– Vamos superar – resume a embaixadora, que, antes de ser designada para o Brasil, supervisionava as relações bilaterais dos Unidos com Cuba e a América Central, também já foi embaixadora dos Estados Unidos no Paraguai. A seguir, trechos da entrevista:

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Pergunta – Quando será aberta a representação consular dos EUA?

Liliana Ayalde – É um processo. Hoje, fui visitar o local. Estão fazendo todos os desenhos e a contratação dos processos, mas, antes disso, hoje estou anunciando a inauguração do Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto, que é um centro que antes do consulado pode ir ajudando às pessoas que precisam de vistos e evitar que tenham de viajar a outros consulados. É um centro para receber as solicitações, fazer as fotografias, ir processando os pedidos, e, em mais ou menos 25% dos casos, não seja necessário nem viajar para os consulados. Esses casos são particularmente algumas renovações e os que não precisam de entrevistas. Outros, podem precisar viajar para os consulados, mas como já estarão com seus processos avançados, podem ir e voltar no mesmo dia. Sabemos que isso vai economizar tempo e será mais cômodo para as pessoas. É uma maneira de ir avançando antes da abertura do consulado, que estamos processando. Esse centro CASV estará aberto entre março e abril do ano que vem.

Pergunta – Qual a previsão para a eliminação da exigência de vistos para brasileiros nos Estados Unidos?

Liliana – Nossos dois governos estão conversando em como avançar, temos um programa preliminar que se chama Global Entry, que já tem avançado e se tem pensado entrar em uma fase talvez piloto para assegurar que se tenham todos os sistemas, não é um processo que pode começar de um dia para outro. Esse é um diálogo que temos na nossa agenda bilateral.

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Pergunta – Existe uma perspectiva sobre a abertura do consulado?

Liliana – Será em 2015, por isso a importância de ter o Centro aberto o mais cedo possível.

Pergunta – A presidente Dilma afirmou em entrevista aos veículos do Grupo RBS que esperava um pedido de desculpas do governo Obama em razão das denúncias de espionagem. Por que o governo Obama não se desculpou? Há uma perspectiva de revisão dessa abordagem?

Liliana – Esse tema é delicado, é um tema que se está tratando no mais alto nível, de presidenta a presidente. Evidentemente, tiveram essa conversação. Os dois presidentes resolveram adiar, não cancelar, mas adiar a visita por um momento. É uma visita que pode ser reprogramada em outro momento. O presidente Obama tem pedido uma revisão desse tema profundo, é um tema que não tem afetado só o Brasil, e esta revisão está em processo. Está avançando e esperamos que logo se tenha uma conclusão.

>> Veja trechos da entrevista em vídeo

Pergunta – A negociação da compra dos caças deve ser retomada mesmo sem a visita da presidente?

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Liliana – Essa não é uma decisão nossa. É uma decisão do governo. Vai depender do governo brasileiro. O momento em que queiram fazer a compra. Respaldamos essa proposta e vai depender do governo brasileiro.

Pergunta – O que muda no entendimento dos EUA após as denúncias de Edward Snowden? Que lições os EUA já tiraram desse episódio?

Liliana – É um tema complexo que ainda se está desenvolvendo nas relações. Tínhamos muitos diálogos e muitas atividades em 30 diferentes setores, por exemplo. E alguns desses diálogos eram de muito alto nível. Outros são trabalho técnico, isso vai avançando. As negociações de alto nível, por exemplo, os vistos (a necessidade de visto brasileiros), isso ficou adiado. Mas o trabalho técnico se está fazendo. Isso é uma solicitação que vem diretamente do chanceler de continuar trabalhando, mas os temas de alto nível estão à espera.

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Pergunta – Existe alguma perspectiva de que haja um pedido formal de desculpas?

Liliana – Estou convencida de que os nossos dois países têm uma relação madura, forte, mais do que somente um tema, e vamos superar.

Pergunta – Esta situação pode afetar algum tipo de negociação entre os dois países, por exemplo, importação e exportação, ou alguma questão diplomática que vinha sendo discutida? A presidente Dilma acredita que não, como vocês entendem isso?

Liliana – Olhando e revisando os dados de comércio, de intercâmbio comercial, acadêmico, de turismo, isso não tem sido afetado. Esperamos que não. É óbvio que algumas coisas tem sido adiadas porque não é apropriado ter essa discussão. Mas a relação continua particularmente nos termos técnicos, isso está avançando. A presidente tem pedido que continuemos o trabalho técnico e todas as equipes da Embaixada estão trabalhando nisso.

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Pergunta – A senhora acredita que o governo americano avalia que o Brasil está preparado para evitar um ataque terrorista durante a Copa do Mundo no Brasil?

Liliana – Não sou expert e não me corresponde fazer a valoração da preparação do país. Este é um tema complexo e bastante amplo. O que posso dizer é que estamos trabalhando muito bem em compartir experiências nossas de melhores práticas com megaeventos parecidos com a Copa ou as Olimpíadas. Temos experiências com nossas diferentes agências que tratam de assuntos de segurança e eles estão trabalhando muito bem. Convidamos representantes dos governos estatais e federal, as pessoas que estão trabalhando e são responsáveis pela Copa, para o Super Bowl. Para verem como nós tratamos estes eventos para evitar qualquer ato violento, qualquer possibilidade de ter um problema.

Pergunta – Essas ações de rua no Brasil preocupam, evidentemente?

Liliana – Acho que todo mundo observa, para assegurar que os protestos sejam democráticos, que não se convertam em algo que possa afetar a segurança dos cidadãos. Observamos, como em qualquer outro país. As autoridades domésticas, nacionais, tem as ferramentas e as políticas para fazer o necessário.

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Pergunta – Nesta semana, o secretário John Kerry disse na OEA que acabou a Era da Doutrina Monroe, que acabou o intervencionismo americano no continente. Em que lugar nas prioridades americanas está a América Latina?

Liliana – É importante como um parceiro nosso em muitos aspectos. Não somente no comercial, mas na parte de pessoas, cada dia tem mais relação e integração entre nossos países. Tem muitas pessoas, hoje em dia, nos Estados Unidos que tem família fora dos Estados Unidos e tem muitas conexões. Isso faz com que a região esteja muito mais próxima e, cada dia, a porcentagem das pessoas de herança hispânica está aumentando. Isto tem repercussão nas seleções e tudo que é o trabalho doméstico. Então tem um interesse aqui no Brasil, cada dia mais de conhecer e ter relações comerciais, relações acadêmicas, mais curiosidade do ambiente e da realidade brasileira. Isto é um aspecto importante da nossa política exterior, de conseguir mais proximidade dentro dos nossos países. E também que a região, e particularmente o Brasil, tenha um papel importante nos temas globais. Isso pra nós é muito importante, o papel de um país como o Brasil tem nos temas internacionalmente importantes.

Pergunta – Em que áreas a senhora acredita que é possível fazer esta aproximação?

Liliana –Tem muitas, mas particularmente na educação. Compartilhamos o interesse, tanto os americanos virem aqui para estudar e intercambiar pesquisas. Lá tem o Programa Ciência sem Fronteiras e o interesse dos brasileiros com inglês. Mas não somente aí, tem a parte comercial que está crescendo também. Não somente de investimentos dos Estados Unidos no Brasil, mas de empresas brasileiras nos Estados Unidos. Igualmente que na parte de educação, acadêmica e cultural, acho que na parte comercial. As duas direções tem muito campo de trabalhar ainda mais. Energia também.

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