O movimento paradesportivo mostra força em Joinville. São conquistas em jogos regionais, nacionais e até mesmo nas Paralimpíadas. E isso se deve ao trabalho iniciado por duas professoras de educação física fundadoras de uma ONG que posteriormente ganhou apoio do governo municipal, mas firmou sustentação, principalmente, pelos novos talentos revelados na cidade.

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Criado em 2002, o Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência de Joinville (Cepe) foi uma iniciativa das professoras Ana Maria Teixeira e Sonia Ribeiro para suprir a falta de oportunidades dentro do esporte para pessoas com deficiência. O tiro foi certeiro: com 14 anos de história, o Cepe hoje oferece uma escolinha de iniciação desportiva para crianças de cinco a 12 anos, onde é feito um trabalho de base, e também treina atletas de alto rendimento nas modalidades de basquete com cadeira de rodas, futebol sete, bocha, natação e atletismo.

Atualmente, a entidade conta com cerca de 70 associados e atua em parceria com a Fundação de Esporte, Lazer e Eventos de Joinville (Felej), Univille e instituições como a Apae, Ajidevi e Adej. Foi um convite de Sonia Ribeiro que uniu uma das duplas de maior destaque no atletismo paralímpico brasileiro. Em 2002, Sheila Finder e Rosicler Ravache eram colegas de turma no curso de graduação em educação física da Univille.

Na época, Rosicler ela atleta e decidiu deixar a carreira para se tornar técnica no esporte adaptado. Atualmente, ela é treinadora da equipe de paratletismo do Cepe, preparadora física da equipe de basquete em cadeira de rodas e coordenadora de paradesporto da Felej.

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– O esporte é uma ferramenta de mudança na vida das pessoas, isso não tenho dúvida. E nas pessoas com deficiência percebemos isso muito mais, porque elas passam a ter mais liberdade de movimentos. Nem todos vão se tornar atletas olímpicos, mas o que mais chama a atenção é a mudança na postura das pessoas: aquelas que tinham alguma vergonha de sua deficiência, com três ou quatros treinos passam a mudar sua postura, elas percebem que podem muito mais – afirma Rosicler.

Da expectativa de mico às Paralimpíadas

O esporte leva as pessoas a testarem seus limites. Quanto mais se conhece a si mesmo, mais compreensivo se torna em relação aos limites dos outros. Esse foi um dos grandes aprendizados da paratleta Sheila Finder ao longo dos 14 anos de carreira – que iniciou numa ONG em Joinville, em 2002, e se encerrará nos Jogos Paralímpicos de 2016, em setembro.

Aluna do curso de Educação Física, em 2002, Sheila foi apresentada ao recém-fundado Centro Esportivo para Pessoas Especiais de Joinville (Cepe). Naquela época, ela preferia o futebol e nunca tinha experimentado o atletismo, até que uma das fundadoras do Cepe, a professora Sonia Ribeiro, levou Sheila para uma competição regional em Itajaí. Foi quando a colega de turma, Rosicler Ravache, soube da oportunidade e quis participar como técnica.

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– Eu só sabia que a pista tinha oito raias e 400 metros, não tinha noção de nada, nunca havia treinado. Eu disse a Rosi: se quiser pagar mico comigo, vamos juntas – brincou, Sheila.

Naquela competição, a atleta – que nasceu com má formação congênita da mão direita – não encontrou competidoras com a mesma deficiência física, portanto, teve de correr na bateria masculina. Ela ganhou. Sheila e Rosicler continuaram juntas desde então, por todos os campeonatos, inclusive os Jogos Paralímpicos de Pequim e Londres. Em 2014, a atleta conquistou o ouro nos 100 metros no Campeonato Mundial, em Dubai. Entretanto, a primeira em vez que entrou na pista, marcou a carreira da atleta.

– Foi ali que conheci realmente o movimento paralímpico. E me assustei quando cheguei na competição, porque era muita gente com limitação, muita gente superando suas dificuldades ao mesmo tempo. Eu me assustei porque minha limitação era pequena perto da deles – conta.

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Diante dessa experiência, Sheila vê o esporte como um meio de inclusão, não somente por transformar pessoas com deficiência física em atletas, mas por incluí-las na sociedade, aceitá-las dentro de um grupo.

– Me tornei uma Sheila mais sensível e compreensiva, porque mesmo que a pessoa não tenha uma limitação visível, ela tem uma limitação com ela mesma, seja qual for, como medo de alguma coisa ou insegurança. Isso também é uma limitação. Então, aprendi a conviver com isso e aceitar não só a mim mesma, mas aos outros também – afirma a paratleta.

Ele se tornou o Bolt

O menino que era desrespeitado pelos colegas na escola hoje é apelidado carinhosamente de “Bolt”. A paralisia cerebral provocou uma atrofia nas pernas de Marcos Henrique Evaristo, o que foi uma barreira para que ele se sentisse incluído. Entretanto, em 2013, ele teve o primeiro contato com os esportes paralímpicos quando disputou a prova de salto em distância. E foi na caixa de areia que a técnica Rosicler Ravache descobriu mais um ouro.

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Hoje, aos 17 anos, Marcos acumula títulos importantes para Joinville no paratletismo. Recordista brasileiro no Circuito Caixa Loterias, ele teve o melhor tempo do campeonato na corrida de 100 metros: 14s56. Foi sua primeira competição na categoria adulta. Nas Paralimpíadas Escolares, em 2015, bateu num novo recorde brasileiro na prova de 400 metros: 52s66.

– Tudo se transformou para mim, desde a parte financeira, que me deu independência, até de inclusão. O pessoal começou a me respeitar mais, por ser atleta, ter destaque no Brasil. Agora, eu sei o que é respeito. Com as pessoas do meu lado, sem preconceito, sem sátiras. Para mim, é muito especial – diz.

Com treinos diários de duas horas e meia, sustentados pelos programas Bolsa Atleta, da Felej, e Bolsa Pódio, do Governo Federal, o objetivo de Marcos é a convocação para o Campeonato Mundial Juvenil de 2017, e os Jogos Paralímpicos de 2020, no Japão.

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