O sonho de conquistar uma vaga na Escola do Bolshoi no Brasil, a única filial no mundo do reconhecido Teatro Bolshoi da Rússia, ficou mais próximo nesta segunda-feira (23) para 291 candidatos inscritos na tradicional audição da instituição durante o Festival de Dança de Joinville. Logo cedo centenas de crianças e adolescentes, com idades entre 12 e 18 anos, já formavam fila em frente a Escola aguardando para participar da seletiva que pode representar o início de uma grande trajetória profissional na dança.
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Divididos em grupos, os candidatos passam ao longo do dia, das 8h30 até o fim da tarde, pelo crivo de cinco professores da Escola, primeiro com uma aula de balé clássico em caráter eliminatório. Nesta etapa, 257 meninas e 34 meninos de 22 estados Brasileiros e também da Argentina são avaliados pelo nível técnico, equilíbrio, musicalidade, elasticidade, força e pelos passos, saltos e giros. Depois, somente os aprovados nessa fase vão para a próxima eliminatória, uma avaliação fisioterápica que analisa a musculatura, as articulações, os desvios posturais dos bailarinos e habilidades específicas para o balé clássico.
De acordo com a coordenadora da audição, Sylvana Albuquerque, essa é uma seletiva diferente porque tem foco nos bailarinos que já têm algum conhecimento em dança, o que ocorre justamente no período do Festival para servir de oportunidade para candidatos de todo o País. No ano outras classificatórias ocorrem, como a própria seletiva nacional, que é tradicionalmente realizada em outubro. Desta vez, no entanto, a busca é por talentos já em atividade e que tenham o mesmo perfil dos alunos de turmas que já estão em andamento no Bolshoi Brasil.
— Não existe um número fechado de vagas, nós vamos analisando conforme os critérios de idade e de nível técnico. Então, pode não passar nenhum como podem passar dez, quinze candidatos, por exemplo — cita Sylvana.
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O sonho de viver da dança

Foi assim que Kaynan Oliveira, 19 anos, hoje aluno da 8ª Série da Escola Bolshoi, ingressou na instituição em 2013. Vindo de São Paulo (SP), ele serve de exemplo para estudantes de dança do Sudeste que desejam mudar para a Cidade da Dança em busca de especialização. Aluno desde os 15 anos, ele está a um passo da formatura e agora reúne todo o conhecimento que aprendeu em busca de vivências internacionais no palco.
— Nunca havia participado da audição de uma grande escola e vim para conhecer, passei e iniciei os estudos em 2014. Posso dizer que além da técnica, que a gente aperfeiçoa aqui dentro, temos toda uma experiência de como lidar com a vida como bailarino no exterior e isso é fantástico. Além da estrutura física, os profissionais e o conhecimento que eles nos passam é engrandecedor. Agora é reunir isso e ir em busca de um novo propósito, de ser aceito em uma grande companhia de dança — diz ele.
A idade com a que Kaynan entrou no Bolshoi é a mesma que hoje sua conterrânea Vitória Takeshita espera receber seu “sim”. Ela dança balé desde os três anos de idade e aos 15 anos enfrenta pela primeira vez uma audição da Escola Bolshoi.

— Estudei muito para que esse dia chegasse e acho que muitos dos passos que serão cobrados eu já aprendi nesses anos. Espero muito conseguir essa vaga — acredita.
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Expectativa e história parecida vivida pela carioca Laura Gonçalves Silva, 13, na sala de espera das audições, pelo segundo grupo avaliado pelo júri. De Macaé (RJ), a menina veio até Joinville para participar de sua primeira grande prova no balé dez anos depois de dar os primeiros passos como bailarina, vivendo um misto de emoção e autocontrole.
— Minha mãe me colocou na dança ainda criança e fiquei apaixonada pela dança. É a primeira vez que faço qualquer teste e como este é meu sonho, conto com o apoio da minha família para essa tentativa e isso ajuda. A gente fica nervosa, mas tento me acalmar ao máximo e não demonstrou nervosismo para ninguém para ver se eu mesma me acalmo — relatou ela, que tinha outras duas colegas de balé enfrentando a mesma banca de professores.

O apoio familiar e de amigos também foi fundamental para a segunda oportunidade das irmãs Millena (14) e Maria Lessa (11), que ganharam as passagens até a Capital Nacional da Dança de uma pastora da igreja para a qual dançam balé, em Duque de Caxias (RJ). O apoio veio acompanhado da mãe das meninas, Eliana Lessa, que as incentiva a seguirem na ideia de entrar para a Escola.
— Digo que elas têm ligação com a dança desde que estavam na minha barriga, porque sempre fui apaixonada pela arte da dança. Elas vieram ano passado, não passaram e, desde então, estão se dedicando e aperfeiçoando o que aprenderam com aquela aula. Apostamos que vai dar tudo certo, estamos bem confiantes — torcia a mãe antes das filhas serem chamadas à audição.
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“Construção para o sim”
O resultado da seletiva será divulgado nesta terça-feira (24) pela manhã na sede da instituição, além do stand da Escola Bolshoi na Feira da Sapatilha e no site da escola. Para Sylvana Albuquerque, apesar de poucas pessoas conseguirem a tão sonhada vaga, aqueles que não passam na audição não devem desistir do caminho dos palcos.
— A partir do momento que eles escolhem ser um profissional de dança, a carreira deles será de audições, então nessas seleções eles terão muitos nãos, mas esse não não quer dizer que ele não é um bom bailarino. Muito pelo contrário, quer dizer que de repente ele ainda não está pronto para iniciar na Escola Bolshoi. Seja para que ele se prepare um pouco mais, que possa entender qual é a condição que ele tem ou porque às vezes não é a Escola para o biotipo físico dele. Ter esse diálogo é importante e a verdade é sempre o melhor caminho. A gente procura conversar com esse candidato para que ele entenda que esse não é uma ponte e uma construção para o sim — explica.

Já para os futuros aprovados, eles terão a opção de escolher entre ingressar no mês de agosto ou em fevereiro, uma vez que muitos dependem de mudar de outras cidades e até estados. A instituição concede 100% de bolsas de estudo para todos os aprovados e além do ensino gratuito, os alunos recebem benefícios como alimentação, transporte, uniformes e figurinos, assistência pedagógica e assistência odontológica e preventiva. Eles têm direito também a atendimento fisioterápico, nutricional e assistência médica de emergência e urgência pré-hospitalar. Em contrapartida, devem manter bom rendimento tanto no Bolshoi Brasil quanto no ensino regular.
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