Harry Laus completaria 100 anos em 2022. Mais conhecido no país como crítico, jornalista e promotor das artes visuais, o catarinense tem 12 livros publicados e produziu uma vasta documentação cultural, que organizou minuciosamente. Natural de Tijucas, quando ele estava próximo dos seis anos, a mãe faleceu. Era o caçula e ficou aos cuidados dos 11 irmãos. Cinco anos depois, o pai casou-se novamente, a noiva era 30 anos mais jovem e o casal teve dois filhos. Ainda criança, foi morar com um irmão em Passo Fundo (RS) e, após completar a maioridade, ingressou na Escola Preparatória de Cadetes, na capital gaúcha.
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Mesmo sem vocação, seguiu carreira no Exército até 1964, época do golpe da ditadura. Era tenente-coronel e entrou para a reserva. Como militar, manteve-se financeiramente, conheceu o Brasil e muitas pessoas ao ser transferido para diversas cidades. Aposentado precocemente, dedicou-se ainda mais à literatura e às artes visuais. Desde jovem, nutria grande entusiasmo por essas áreas. Foi autodidata influenciado pela leitura e os contatos com artistas, jornalistas e escritores.
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Aos 36 anos, pouco antes de aposentar-se no Exército, havia lançado o primeiro livro, “Os incoerentes” (1958). Logo na estreia na literatura, a coletânea de contos lhe rendeu o prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras. As narrativas de Laus com questões humanas universais, marcadas por um texto enxuto, preciso, coloquial e expressivo, receberam outras premiações e elogios de críticos e escritores do Brasil e exterior.
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Algumas das obras tiveram tradução para o inglês, alemão e, principalmente, francês. O único romance, “Os papéis do coronel” (1995), foi publicado primeiramente na França, onde chegou ao mercado editorial com a tradutora e escritora Claire Cayron. Em 2000, ela lançou “Journal Absurde”, que reuniu em um único volume os Diários de 1949 a 1959 do catarinense. No Brasil, foram editados em dois volumes, dois anos antes, pela irmã dele, a escritora Ruth Laus.
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Já com livro e contos publicados e ainda na carreira militar, passou a trabalhar como jornalista e crítico de artes visuais na grande imprensa. Em 1961, começou como substituto de um colunista no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Escreveu também para o Jornal do Brasil, revista Veja, Diário Catarinense e outros periódicos. Participou de eventos da área e, nos anos 1980 e início dos 1990, assumiu a direção do Museu de Arte de Joinville e do Museu de Arte de Florianópolis. Nesses 30 anos, destacou-se como promotor das artes visuais, manteve-se atento aos principais salões e também às produções “marginais”, atuou como agregador e na organização e valorização dos artistas.
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O legado de Harry Laus é muito maior do que o publicado nos periódicos e os livros de contos, novelas e romance. Inclui uma vasta documentação cultural minuciosamente organizada por ele. São anotações sobre o processo de criação, cartas e bilhetes de e para artistas, escritores, jornalistas, catálogos de exposições com dedicatórias e outras produções. Entre as muitas correspondências que mantinha, uma carta recebida do escritor Carlos Drummond de Andrade, agradecendo o prazer proporcionado pela leitura de seus livros. O acervo foi doado à Universidade Federal de Santa Catarina, em 1992, data que faleceu, aos 69 anos.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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