Podemos, PSOL e PL foram os três partidos que mais ganharam filiados em Santa Catarina nos últimos quatro anos, desde o período de preparação para as eleições municipais de 2020. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são referentes a abril deste ano, mês em que terminou o prazo para filiação partidária de quem deseja ser candidato nas eleições de outubro. Segundo especialistas, o cenário nacional polarizado após as disputas de 2022 contribuíram para as escolhas de filiações nesse período no Estado.
Continua depois da publicidade
Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total
O Podemos teve o maior salto proporcionalmente no número de filiados considerando os 20 maiores partidos do Estado. A legenda passou de 9,4 mil em abril de 2020 para 25,2 mil no último mês. O desempenho, no entanto, explica-se por conta de um movimento partidário. O número de filiados foi “turbinado” pelos membros do antigo PSC, que foi incorporado ao Podemos. Até junho de 2023, último mês em que o PSC apareceu nos registros de filiados do TSE, o partido tinha 13 mil filiados e o Podemos, 10 mil. No mês seguinte, com a incorporação, a legenda passou ao patamar atual, próximo dos 25 mil membros, o que o colocou como o 10º maior do Estado.
A deputada estadual Paulinha, que assumiu a presidência do Podemos em SC em março, reconhece que a incorporação dos partidos influenciou no aumento de filiados, mas credita o resultado também a um trabalho de base feito nos municípios, com uma “injeção de ânimo” dos três deputados estaduais da legenda.
O partido recentemente perdeu dois prefeitos de cidades importantes — Mário Hildebrandt, de Blumenau, e Fabrício Oliveira, de Balneário Camboriú, que migraram para o PL —, mas terminou a janela de abril para troca de partidos ganhando 11 vereadores a mais do que tinha em SC, segundo números do partido.
Continua depois da publicidade
— O Podemos também acaba sendo uma oportunidade para quem não quer ficar no meio da guerra. Ele não está nem na extrema-esquerda, nem na extrema-direita. Para quem não quer ficar no clima do Fla-Flu (em alusão a Lula e Bolsonaro), acaba sendo um partido interessante. Esse foi o motivo que fez muitos líderes optarem pelo Podemos para apresentar suas candidaturas a prefeito — avaliou.
Depois do Podemos, os maiores crescimentos foram registrados pelo PSOL (59% de aumento de filiados desde abril de 2020) e pelo PL, do governador Jorginho Mello, que durante os últimos quatro anos também ganhou o reforço do ex-presidente Jair Bolsonaro e da legião de apoiadores que migraram para o partido. Incluem-se nesse grupo diversos prefeitos de cidades catarinenses que embarcaram no projeto do governador no último ano. O PL teve aumento de 48,8% desde abril de 2020.
O Novo, que também teve aumento de 48%, e o Solidariedade, que no período analisado incorporou filiados do antigo PROS, também tiveram aumento no número de filiados nos últimos quatro anos em SC, assim como o Republicanos, o Avante, o PT e o PSD.
Entre os 20 maiores partidos de SC, 11 ganharam filiados nos últimos quatro anos e oito perderam integrantes (veja o gráfico abaixo).
Continua depois da publicidade
Variação de filiados nos partidos de SC
Mudanças no ranking dos 10 maiores partidos
No ranking dos 10 maiores partidos do Estado, o MDB continua liderando, com 182 mil filiados no Estado, seguido pelo PP, com 125 mil. Apesar disso, as duas legendas tiveram queda no número de filiados em comparação com 2020. No total, 888 mil moradores de Santa Catarina são filiados a algum partido político atualmente.
A lista das 10 legendas com mais filiados teve ainda outras duas mudanças registradas, além da entrada do Podemos.
O PSDB, que teve queda de 5% no número de filiados nesse período, passando de 101,2 mil para 95,9 mil, caiu da terceira para a quarta colocação entre as maiores legendas do Estado. O União Brasil, fundado a partir da fusão do DEM com o PSL em 2021, aparece agora como o terceiro maior partido do Estado, com 96 mil filiados em SC, segundo o site de estatísticas do TSE. O número é o mesmo que o DEM possuía no Estado em abril de 2020, conforme o portal.
À reportagem, a direção do União Brasil em SC informou ter atualmente número maior de integrantes, com 108 mil membros ativos. Apontou ainda que nos primeiros meses deste ano teve um forte movimento de filiações, fruto de uma caravana organizada em cidades catarinenses. O partido afirma ainda ter a meta de se tornar a segunda maior legenda do Estado. O TSE foi consultado para explicar a eventual diferença em relação aos números apresentados pelo partido, mas reforçou que os dados de filiações do portal de estatísticas da instituição estão atualizados até o fim de abril.
Continua depois da publicidade
A outra mudança no ranking dos maiores partidos de SC é o crescimento do PL. Nos últimos quatro anos, o partido ganhou a filiação do ex-presidente Bolsonaro e da ala de apoiadores, , além de eleger o governador Jorginho Mello, seis deputados federais e 11 estaduais em Santa Catarina nas Eleições de 2022. A visibilidade atraiu apoiadores, dando ao partido o terceiro maior crescimento proporcional no Estado entre os maiores partidos. Com isso, o PL passou do 7º para o 6º partido com maior número de filiados em SC, com 63 mil integrantes — e muito próximo de tomar o 5º lugar do PT, que tem 64,4 mil.
Como mostrou reportagem do NSC Total em abril, o PL e também o PSD foram os partidos que mais filiaram vereadores com mandato em exercício nas cinco maiores cidades de SC. A janela para troca de partidos de vereadores também terminou no mês passado.
Ranking dos maiores partidos de SC
Cenário nacional motiva escolhas, diz professor
O professor de Administração Pública e pesquisador de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Daniel Pinheiro, avalia que os números de filiações em SC mostram que partidos que ganham o Executivo ou se destacam na disputa para o Congresso nas eleições nacionais acabam atraindo mais pessoas nos anos seguintes. É o caso de PL e PT, que ganharam filiados após o desempenho de Lula e de candidatos bolsonaristas nas urnas em 2022.
— Os partidos acabam formando uma base, mas muito sustentado no cenário nacional. Acabam trazendo isso para o Estado — pontua o especialista, alertando que esse quadro pode abrir espaço a “políticos de oportunidades”, que se posicionam conforme o comportamento do eleitorado.
Continua depois da publicidade
O aumento de filiados de partidos menores, mas em crescimento, como Novo e PSOL, também é destacado pelo pesquisador. No caso do PSOL, a figura do deputado federal e pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, que neste mês recebeu um polêmico pedido de voto antecipado de Lula em um evento no Dia do Trabalhador, é vista como um atrativo de eleitores de esquerda ao partido e também um indicativo de que o cenário nacional acaba pautando as decisões de filiações.
— A própria presença constante de Bolsonaro em Santa Catarina é um movimento nacional de estar próximo ao eleitorado, e para fazer isso é preciso estabelecer um discurso único. As eleições de alguns municípios podem entrar em pautas meramente ideológicas, o que pode ser ruim do ponto de vista de proposições e cair em um populismo, com debates vagos ou voltados a pautas que às vezes nem são de competência do Executivo ou Legislativo municipal — avalia.
Leia também
Como está a corrida pelas Eleições 2024 nas maiores cidades de SC e quem são os pré-candidatos
Placar de “trapalhadas” na pré-campanha tem PSD e PL empatados
Eleitorado jovem aumenta em 50% desde a última eleição em Santa Catarina