Quando ouvimos falar sobre o cenário feminino de eSports, seja universitário ou profissional, muitas opiniões e falas que são vistas com uma certa frequência em debates sobre o assunto acabam criando polêmica. O que acontece na maioria das vezes é a ignorância do ser ou até mesmo a própria vontade de desvalorizar alguém que sonha em chegar em um nível profissional em um cenário competitivo onde há muito preconceito inserido. Nesse texto de hoje, o objetivo é mostrar a dificuldade das mulheres de se estabelecerem nas competições envolvendo esportes eletrônicos.

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Cenário competitivo profissional e universitário

As mulheres enfrentam muitos obstáculos nos mais variados ambientes, e isso inclui os eSports. A National Association of Collegiate Esports dos Estados Unidos realizou uma pesquisa do quanto as mulheres representam a comunidade de eSports nas universidades, já que em muito casos, elas são submetidas a assédios baseados em gênero, masculinidade tóxica e preconceitos em geral.

Números de jogadores(as) e coaches nas universidades norte americanas.
Números de jogadores(as) e coaches nas universidades norte americanas. (Foto: NACE/Divulgação)

O gráfico mostra que em número de jogadores, apenas 8,2% são representados por mulheres, enquanto 91,8% são homens. Como coachs, os números são ainda mais baixos, apenas 4,0% mulheres e 96% homens. Mas por

que isso importa? Os Estados Unidos por meio da National Association of Collegiate Esports distribui cerca de US$ 16 milhões em bolsas de eSports por ano, número muito expressivo, que na maioria das vezes a participação monetária para mulheres é baixíssima.

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No Brasil a realidade nas universidades com incentivos vindo das federações ainda é um problema, não se compara ao país norte americano, porém, as universidades têm a obrigação de melhorar a oportunidade a o acesso a participação dos eSports, proibindo a discriminação de gênero. A criação de campeonatos universitários exclusivos para mulheres é um assunto a ser debatido com as organizações. Em 2020, a LUE teve a presença de algumas equipes femininas de League of Legends, sendo que a final foi disputada entre Anhembi E-Sports e Unicamp Mermaids.

Competição entre homens e mulheres

É claro que a criação e manutenção de ligas exclusivas para as mulheres são essenciais, como é o caso de campeonatos de Counter-Strike: Global Offensive, League of Legends, Valorant e nas outras modalidades também. No CS:GO, podemos citar a Liga Gamers Club Série Feminina, onde já está se encaminhando para sua quarta edição. No Valorant os incentivos vindos diretamente da Riot Games na criação de campeonatos e ligas no Brasil, e no League of Legends, os campeonatos RP.

Já tivemos casos no cenário profissional de eSports onde homens e mulheres já dividiram os palcos em eventos de alto nível. Em 2019, Li “Liooon” Xiaomeng foi a primeira mulher a vencer o Hearthstone Grandmasters Global Finals. Também no mesmo ano, Tina “TINARAES” Perez conquistou o segundo lugar no Twitch Rivals TwitchCon Fortnite Showdown. Janet “xChocoBars” Rose venceu o torneio Twitch Rivals de League of Legends.

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Li “Liooon” Xiaomeng foi a primeira mulher a vencer o Hearthstone Grandmasters Global Finals em 2019.
Li “Liooon” Xiaomeng foi a primeira mulher a vencer o Hearthstone Grandmasters Global Finals em 2019. (Foto: Blizzard/Divulgação)

Como citamos acima, a Liga Gamers Club Série Feminina é um dos destaques no CS:GO. A quarta edição que já teve início contou com mais de 20 times inscritos. Algumas equipes como MIBR, FURIA, W7M, Cruzeiro e Black Dragons disputam ligas mistas também, como é o caso das Ligas Abertas e Série C ou B.

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O primeiro passo em Santa Catarina

No começo de 2021, a equipe da FURB e-Sports foi uma das pioneiras nas equipes femininas universitárias no estado de Santa Catarina. Daniel Reiter, presidente da equipe, falou um pouco sobre a lineup feminina de Valorant. “Ao final das inscrições para o processo seletivo das modalidades, haviam muitas meninas interessadas para o Valorant, então criamos uma lineup da modalidade. Elas começaram os treinamentos, e semanas depois disputamos o primeiro campeonato universitário com elas, era um campeonato misto e não conseguimos ir tão bem. A falta de campeonatos universitários apenas da categoria feminina desanimou um pouco, o que afetou na rotina dos treinamentos”.

Em Santa Catarina, FURB e-Sports contou com uma lineup de Valorant Feminino.
Em Santa Catarina, FURB e-Sports contou com uma lineup de Valorant Feminino. (Foto: FURB e-Sports/Divulgação)

A toxidade e problemas enfrentados pelas mulheres teve impacto por aqui também, em entrevista, Pâmela Fiametti, jogadora de Valorant da AAACA UFSC citou a dificuldade e preconceito que sofre jogando contra outros jogadores. “Tanto no Counter-Strike quanto no Valorant, existe uma comunidade muito tóxica quando os outros jogadores percebem que no time tem uma menina, ou até mesmo no time adversário”. Ela acredita que o cenário do Valorant seja constituído por adolescentes, que na maioria das vezes consegue reconhecer pela voz. “Várias vezes quando sofri algum tipo de insulto, dava pra perceber que eram adolescentes e até em alguns casos crianças, isso tá muito errado”, destacou.

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Por fim, a inserção das mulheres nos eSports precisam de incentivos e ligas próprias de todas as modalidades, a estruturação depende muito da comunidade em busca de um cenário igualitário, e isso está diretamente relacionado com maior incentivo logo no começo da caminhada. Uma coisa é certa, o objetivo é o mesmo, ser campeãs e viver os eSports diariamente.

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