Ao caminhar por entre os túmulos e jazigos dos cemitérios públicos municipais de Joinville são constatados inúmeros vestígios de furto e vandalismo. Quem conta são os próprios funcionários e frequentadores desses espaços ao contabilizar diariamente dezenas e, às vezes, até centenas de sepulturas violadas. A reportagem do jornal A Notícia visitou alguns desses locais e confirmou a existência das estruturas danificadas.

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Um dos espaços em que esse tipo de situação é mais frequente é o Cemitério Nossa Senhora de Fátima, na Zona Sul de Joinville. Conforme pessoas que prestam serviços de manutenção, construção de túmulos e limpeza no cemitério, as ações ocorrem nos períodos em que o local está fechado, à noite e de madrugada.

“São muitos casos de capelas quebradas, de onde são levados principalmente o alumínio das janelas, molduras e letras de cobre ou objetos de valor presentes nos jazigos. Tem vezes que a família monta o túmulo num dia, e, quando chegamos para trabalhar (no dia seguinte) já está destruído”, relata um funcionário.

Um dos jazigos — invadido há cerca de uma semana conforme relatam os prestadores de serviço do cemitério — ainda mantinha em sua entrada, nesta terça-feira, os cacos de vidro da porta que o protegia e que foi estourada por criminosos.

Lápides dos túmulos têm janelas de alumínio levadas, segundo prestadores de serviços dos cemitérios em Joinville
Lápides dos túmulos têm janelas de alumínio levadas, segundo prestadores de serviços dos cemitérios em Joinville (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

“Assim como este tem centenas por aqui. Algumas pessoas chegam a reclamar, só que a Prefeitura não tem como arcar com este prejuízo”, comenta outro prestador de serviços no Cemitério do Fátima.

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Nem mesmo rondas de guardas civis e policiais, além do próprio cuidado das famílias são capazes de inibir ações do gênero. No Cemitério São Sebastião, no Iririú, por exemplo, até mesmo o túmulo que abriga os corpos do pai e do irmão de Mauricio Simas, que trabalha todos os dias como pintor dentro do cemitério, foi alvo de furto e vandalismo.

— No túmulo da minha família levaram uma bíblia de metal e as molduras das fotografias e ainda não consegui repor. Se é material de cobre, não para um dia. Além do prejuízo é uma falta de respeito, porque morto não faz mal a ninguém — lamenta Maurício.

Ainda segundo os trabalhadores do São Sebastião, dificilmente a situação se resolva porque é difícil controlar a invasão noturna. “Todo dia é um, dois, dez casos. Pode reclamar para o Papa, mas é difícil resolver”, aponta um deles.

Bom exemplo

João Martins trabalha no cemitério Dona Francisca há 45 anos e diz que ali não há furtos
João Martins trabalha no cemitério Dona Francisca há 45 anos e diz que ali não há furtos (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Apesar dos problemas enfrentados em alguns dos cemitérios públicos, a condição de um deles é diferente e exemplar. Trata-se do Cemitério Dona Francisca, na Zona Industrial Norte, monitorado por câmeras e apenas com registros de casos pontuais.

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De acordo com João Carlos Martins, que trabalha há 45 anos com sepulturas e limpeza, e garante conhecer dos pés à ponta do cemitério, o ambiente é tranquilo.

— Aqui não tem vandalismo, nem roubos. É o cemitério mais limpo da praça — reforça.

Martins relembra que a última grande leva de depredações no endereço aconteceu há pelo menos dez anos, quando um grupo de pessoas quebrou jazigos e túmulos. De lá para cá, com o monitoramento as ações praticamente zeraram.

— Uma mulher reclamou esses dias que roubaram flores de um vaso e outra mulher reclamou do mesmo problema a poucos dias. Mas são casos isolados. De vandalismo, não lembro de nenhum registro — conclui.

Maurício Simas mostra espaço em que bíblia de metal foi furtada no túmulo do pai e do irmão
Maurício Simas mostra espaço em que bíblia de metal foi furtada no túmulo do pai e do irmão (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Registros e ações de vigilância

Em nota a respeito, a Prefeitura de Joinville informou que os casos de vandalismo nos cemitérios são registrados na Polícia Civil, através de boletins de ocorrência. Apontou ainda que, neste ano, foram reportados cinco BOs por vandalismo nos cemitérios públicos. A Prefeitura também destacou que os dez cemitérios municipais são monitorados por empresa de vigilância particular contratada pelo Município e a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente vai solicitar que sejam intensificadas as rondas para evitar casos de arrombamentos.

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A Polícia Militar de Joinville também informou que efetua rondas dentro e fora dos cemitérios de Joinville, porém, à noite, não faz rondas internas devido ao fechamento das unidades. A PM afirma ainda ser pouco comum haver registro de violação de túmulos no órgão, uma vez que muitos dos casos são descobertos posteriormente pelas famílias, que não sabem quando ocorreu e quem foi o responsável pelo crime, cabendo o registro à Polícia Civil. AN tentou contato com a Polícia Civil, mas não obteve retorno.