Enquanto o céu nasceu nublado, os cemitérios de Joinville amanheceram floridos neste domingo. Centenas de pessoas visitaram os mais de 130 mil túmulos em terrenos mortuários do município. A chuva não intimidou a entrega das flores trazidas por famílias fragmentadas pela morte. Margarida Hanke, a única viva entre oito irmãos, esteve com as sobrinhas no Cemitério Municipal. É a primeira vez, em Dia de Finados, que ela visita a lápide da irmã Regita Zimermann, a Guita, que morreu de saudade há pouco mais de dois meses.

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A irmã de Margarida protagonizou a história de amor de 35 anos que a morte só conseguiu separar por duas horas. Guita não resistiu ao falecimento do esposo, Floriano Dutkiewicz, e partiu duas horas depois da despedida de seu amado. Margarida costumava se vestir de Frida e formava dupla com Guita, que usava o traje de Fritz. Além da irmã, a senhora do broche de borboleta na gola da camisa rosa também deixou flores para seu irmão gêmeo, João Hanke.

– Sabe quantos anos ele tinha? Quarenta e oito. Olha quanto tempo faz – frisou ela, que está com 75 anos.

Com as sobrinhas Eliane e Silvia Hanke, Margarida caminhou por mais de duas horas. Assim como a chuva não a intimidou, os sobe-e-desce das ladeiras do cemitério não a desmotivaram. Eliane apontou do alto do morro para a rua lá de baixo, só para mostrar onde estava estacionado o carro, que daquela distância parecia uma miniatura cinza. As sobrinhas e a tia formaram o trio de viúvas bem dispostas, apesar da saudade. Quando pararam para contar quantos túmulos visitariam, pairou a dúvida:

?-Dá uns 20, por aí – contou Silvia.

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– Pra mais – completou Eliane, que continuou – É uma família muito unida e lembrada.

As três foram ao cemitério pelo mesmo motivo.

– Porque a gente sente saudade – disse o olhar perdido na borboleta pousada na margarida.

Perto do caminho das viúvas pelo topo, a cruz reunia uma dezena de silêncios e dúzias de velas. Em frente à capela, algumas vozes se reuniam para a missa e repetiam “Deus da vida dai-nos a vossa misericórdia”.

As viúvas deixaram o carro, que aparece estacionado na foto na rua de baixo, e caminharam por mais de duas horas.

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