É na Rua Arthur Buerger, transversal da Rua XV de Novembro, que Pomerode esconde 124 anos de história. Submersas no verde do mato que não para de crescer apesar da roçada recente, contam-se mais de 100 lápides sepultadas pelo abandono no Cemitério dos Imigrantes. Há 30 anos, o município busca alternativas para conservar o local onde foram enterrados os colonizadores.

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O campo-santo foi construído junto à Igreja Evangélica de Confissão Luterana Apóstolo João, que iniciou movimentos para recuperar os túmulos por volta de 1983. Passados 20 anos, a Comunidade Luterana cedeu o terreno histórico para a prefeitura. Em 2009, o cemitério entrou no Inventário do Patrimônio Socioambiental do Plano Diretor de Pomerode, por seu valor histórico, arquitetônico, artístico e cultural. Apesar da classificação, o terreno de 4,5 mil m² permanece sem manutenção e política de preservação.

Doutora em História e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec), Elisiana Trilha Castro reforça que o cemitério guarda elementos do modo de vida do imigrante alemão. As lápides preservam detalhes como as inscrições no idioma de origem e construções tumulares sem rebuscamentos típicas do imigrante teutônico. Elisiana, que pesquisa sobre cemitérios catarinenses há 10 anos, observa que não é possível calcular o preço da deterioração:

– A perda deste espaço tem prejuízo para a memória da população, pois a cidade pode se ver e se conhecer pelo cemitério. As lápides, o modo de sepultar, os ritos, são documentos importantes para a história.

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Vizinho ao cemitério desde que nasceu, Helmuth Siebert, 76 anos, recorda que ainda menino ia ao local. Segundo o aposentado, os sepultamentos ocorreram até a década de 1940 e, 20 anos depois, o espaço ainda se mantinha bem cuidado.

– Tem famílias inteiras ali, da época da epidemia de febre amarela. Hoje, ninguém mais cuida.

A esposa, Maria Siebert, 70, acrescenta que as árvores que cresceram no meio do campo-santo destruíram muitos túmulos. O passar dos anos desfez corredores, enferrujou crucifixos, deixou a hera envolver lápides inteiras. E como falta vigília na terra de descanso eterno, peças de bronze que adornavam a partida sumiram. Gerente de Patrimônio Histórico, Ricardo Bürgel reconhece o campo-santo como um marco para a cidade e informa que existe plano de recuperá-lo, com objetivo de preservar e tornar viável a visitação do espaço.

– Gostaríamos de iniciar consertos e alguma solução eficaz até o fim do ano. Mas dependemos de outros setores, como a aprovação do Conselho de Patrimônio Histórico e da Secretaria de Planejamento.

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O secretário de Planejamento e Desenvolvimento, Mauricio Vega, concorda com a definição sobre o Cemitério dos Imigrantes até o final de 2013, através de convênios para projetos de revitalização.

– Também aguardamos definições do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) referentes aos financiamentos a imóveis privados tombados federalmente – explica.

A Superintendência do Iphan no Estado informa não haver ação de proteção para o Cemitério dos Imigrantes. A arquiteta Maria Regina Weissheimer assegura que os bens tombados em Pomerode estão nos bairros Testo Alto e Wunderwald.

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