Quem chega em Jaraguá do Sul se depara com algo curioso: uma das principais ruas da cidade, a Coronel Procópio Gomes de Oliveira, corta o cemitério central ao meio. De um lado, os jazigos dos católicos. Do outro, os túmulos dos luteranos. Neste domingo é comemorado o Dia de Finados e as duas partes estão coloridas com flores para os entes queridos.
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O historiador Ademir Pfiffer conta que o cemitério foi fundado em 1909 na área rural de Jaraguá do Sul. Com o desenvolvimento da cidade, que está com 138 anos, o cemitério fica atualmente na área central.
– Nos primeiros anos do cemitério, as pessoas enterravam os mortos em covas rasas. Com isso, bichos vinham comer as carniças e epidemias de doença se espalhavam.
Para regulamentar a higiene do local, as igrejas Católica e Luterana passaram a cuidar das normas sanitárias. Apesar das diferenças entre as igrejas, o convívio sempre foi harmônico. Em 1913, a rua foi aberta, acompanhando a margem do rio Itapocu, para facilitar o deslocamento da população. Assim, a área ao lado do rio ficou para Igreja Católica e o outro lado para a Igreja Luterana do Brasil.
– A divisão foi meramente burocrática e não um conflito entre religiões, como muitos afirmam – avisa Pfiffer.
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Segundo o historiador, com a intervenção organizacional das duas igrejas, o cemitério começou a ser organizado com regras para as construções de túmulos e para enterros. Desde então, católicos eram enterrados de um lado e luteranos de outro, por seguirem as tradições de cada religião.
Outro exemplo de cemitério dividido por um rua, em Jaraguá do Sul, é o da Vila Lenzi. Pfiffer afirma que, neste caso, a separação foi causada pela construção em torno dos terrenos disponíveis, sem uma divisão religiosa.
Diferenças na arquitetura
A diferença arquitetônica entre os dois lados do cemitério é gigantesca. Devido aos católicos utilizarem esculturas sacras de anjos, os jazigos são reconhecidos por elas. Já os luteranos valorizam a inscrição de epitáfios, ou seja, a escrita de uma frase em relevo no túmulo. Até a década de 1940, era possível encontrar diversos epitáfios em alemão e muitos adornos – quanto mais sofisticada fosse a construção, maior era a posição social da pessoa ou da família.
– A frase “Hier Ruhet in Gott”, que significa “Aqui descansa em Deus”, é uma das mais encontradas. Depois da 2ª Guerra Mundial, veio o processo de nacionalização, e as frases começaram ser escritas em português – destaca Pfeiffer.
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Além do cemitério central, Pfiffer comenta que outros cemitérios exibem a influência da colonização europeia na região, como o cemitério do Rio Cerro 2 e do Vale do Rio da Luz.