Cem anos se passaram. Em 20 de outubro de 1916 foi assinado o Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina. Oficialmente colocava-se ponto final sobre a questão das divisas territoriais, pelos governadores e o presidente da República, Wenceslau Brás, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro. A decisão passava por cima de uma determinação do Supremo Tribunal Federal, que anos antes, tinha dado ganho de causa a Santa Catarina sobre o território contestado.

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Cem anos depois não há dúvidas de que a Guerra do Contestado se constitui como um crime contra a humanidade, um crime de guerra, um crime de genocídio pelos atos desumanos cometidos contra o povo caboclo.

É o que sugere o professor e pesquisador Nilson Cesar Fraga, coordenador do Observatório dos Centenários da Guerra do Contestado da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

– Um crime que segue até os dias atuais, quando aquela população vive a guerra pela vida, pela terra e pela comida – afirma.

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Geógrafo de formação, Fraga lembra que o território já estava abaixo dos padrões de desenvolvimento regional na época da Guerra do Contestado. Para o pesquisador, políticas públicas catarinenses e paranaenses até hoje não conseguiram incorporar socioeconomicamente o Planalto Norte catarinense e o Sudeste paranaense. Apesar dos processos de desenvolvimento observados nos estados sulistas, o território da região não consegue acompanhar o padrão de riqueza das demais.

Para Fraga, este atraso teria origem no desenrolar da Guerra do Contestado, mas também estaria associado à concentração histórica da riqueza nas mãos de pequenos grupos e de famílias influentes, como os coronéis da terra do passado ou os empresários da indústria madeireira e ervateira das cidades que compõem essa região geográfica na atualidade.

– Contestado é um bolsão de poreza e miséria encravado nos dois Estados – diz.

Fraga defende que pouco foi feito pela questão da Guerra do Contestado no Brasil, no Paraná e em Santa Catarina nesses anos dos centenários. Considera que simpósios, jornadas, congressos nas universidades e semanas alusivas nos municípios envolvidos na guerra representam a ponta do iceberg da imponência do Contestado na formação territorial e política nacional:

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– O Contestado foi muito superior a Guerra de Canudos, mas sua importância ainda é relegada aos atos e ações que atingem poucas pessoas – compara o estudioso.

Atividades alusivas à data histórica

Como os eventos marcam a data em cidades referências como Lebon Régis e Caçador. Na primeira, transcorre a 2ª Semana do Contestado – Mundo Caboclo: Do acordo dos limites aos limites que nos cercam, com atividades culturais. Nesta quinta-feira, às 19h, haverá lançamento de livros no salão paroquial.

Em Caçador, as comemorações iniciadas no dia 17 se encerram no dia 30 com exposições, lançamento de livros, premiações de concursos realizados nas escolas, oficina de plantas medicinas. Apesar disso, Fraga acredita que o Contestado não chegou aos livros didáticos em volume e densidade. Nem nos estudos regionais escolares de catarinenses e dos paranaenses.

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Confira a programação

Lebon Régis

Hoje: 100 anos do Acordo de Limites entre Santa Catarina e o Paraná

Debate: ¿O Contestado e a Ética¿, no Salão Paroquial

14h: Apresentações por alunos da comunidade escolar

Tema: ¿O Contestado e a Cultura Cabocla¿

19h: Olhares e pareceres sobre o mundo caboclo

Debate com debate com professores convidados e coordenação do padre Valmir Pasa

21h30min: Momento artístico

Prosas e rabiscos: Ritos do Contestado

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