Gilson Célio Veloso, 58 anos, compositor e morador de Florianópolis. Não reconhece? E que tal Celinho da Copa Lord? Talvez você não o conheça pessoalmente, mas com certeza já ouviu falar nele ou alguma canção escrita por ele. Sabe aquela música Aqui é o meu lugar, que foi tema do verão da NSC em homenagem a Floripa? Pois ela é de autoria de Celinho e mais três compositores da terrinha.

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Celinho é manezinho da Ilha, nascido e criado no Morro da Caixa, no Monte Serrat, reduto da escola de samba Copa Lord, campeã do Carnaval 2018 e tantos outros. Aliás, não é à toa que ele leva o nome da agremiação ao seu próprio, pois a sua história se mistura com a da escola. Filho de sambistas (Deodato Veloso, falecido, e Daura Veloso, 91 anos, suas inspirações) e apaixonados pela agremiação, Celinho cresceu dentro do pavilhão. E aprendeu a andar em meio às rodas de samba.

– Quando era pequeno, o Carnaval era no entorno da Praça XV e eu lembro que a minha mãe ia cedo pra pegar lugar nas escadarias da catedral. Eu e meus irmãos, pequenininhos, de seis, sete anos, minha mãe preparava lanches pra gente e nós ficávamos lá para ver a escola passar. Nós vibrávamos pela escola e foi algo que tomou a gente, hoje não tem como não nos vermos Copa Lord – conta.

Foi nesse cenário que descobriu a arte de compor. Ainda novinho, gostava de fazer versos em cima de músicas conhecidas e alguém lhe disse que, quem sabe, ele não conseguira fazer uma música. A primeira letra escreveu aos 18 anos, mesmo ano em que entrou na Eletrosul, onde trabalha até hoje na área de gestão de pessoas.

De lá para cá foram mais 400 composições – é tanta letra que a memória não registrou o número exato – e mais de 100 músicas gravadas por artistas de Santa Catarina. Só na Copa Lord foram 19 composições de sambas-enredos. Destes, 10 foram campeões.

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Seu sonho era viver da música

Em 2007 ele gravou o meu primeiro CD. Em 2015, o segundo. Hoje já são quatro com suas composições. Quem não se lembra da música tema do verão da NSC? A canção Aqui é o meu lugar ficou conhecida como o segundo hino de Florianópolis. E pudera, a letra foi composta por quatro amigos (Anderson Ávila, Celinho da Copa Lord, Edu Aguiar e Marçal Santini), que tiveram a ideia de homenagear a Ilha da Magia e falar sobre suas belezas e cultura.

– O Anderson (Ávila) estava com a ideia da música do Arlindo Cruz que falava sobre Madureira e ele disse: ‘Pô, vamos fazer alguma coisa que fala da nossa Ilha’. Eu achei a ideia excelente e começamos a compor. A música é um marco pra gente, já tão chamando de segundo hino de Floripa e pra nós é uma felicidade muito grande.

Infelizmente ele não conseguiu viver só da música durante quase 40 anos de composições. Aliás, este é um ponto que ele chama a atenção, a falta de incentivo e fomento dos músicos locais.

– Era o meu sonho viver só de música, mas infelizmente não tem como, eu não teria a metade do que tenho hoje se não trabalhasse na Eletrosul, que me deu segurança para que eu fizesse meu samba. Infelizmente ser músico aqui ainda é muito difícil.

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Como surgiu o apelido

O sucesso nas composições sempre foi tão grande que foi por causa disso que Celinho ganhou o nome que carrega até hoje. Ele conta que o apelido foi dado por um antigo, e já falecido, presidente da escola.

– Teve uma época em que eu e o Edu Aguiar, grande compositor e que foi meu mentor, ganhamos uns três, quatro concursos seguidos da Copa Lord, aí o presidente da escola, o Abílio, disse: ‘Ah, não adianta a gente fazer concurso não, deixa que o Celinho da Copa Lord faz’. Eu gostei do nome e depois disso comecei a assinar Celinho da Copa Lord e por toda a minha trajetória eu carrego o nome da escola comigo.

O amor pelo pavilhão é tão grande que ele se recusa a compor sambas para outras escolas, não por nada, só não quer dar a chance de outra agremiação levar o título para casa.

– Hoje eu sou o que sou graças à Copa Lord, e carrego esse nome com muito orgulho. Meus amigos já me convidaram várias vezes para escrever para outras escolas, mas eu não faço, porque tenho que manter minha história, é algo de família, de tradição, é raiz, eu amo essa escola – conta Celinho, que já fez parte da diretoria da agremiação há uns 10 anos.

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– Minha mãe, que hoje tem 91 anos, já me disse: ‘Você pode não estar na diretoria, mas sempre respeite a Copa Lord’.

A vida escrita em forma de música

Assim como toda história, a de Celinho não é marcada apenas por momentos alegres e de festividades. Ele também já sofreu com suas angústias e tristezas. E foi no samba que encontrou seu refúgio.

– O samba me fortalece. Tem uma música minha que diz que o samba alivia a dor, e todo compositor tem um lado triste, pois passa por coisas difíceis que ele reflete na letra. Todas as minhas músicas refletem algo que aconteceu na minha vida, as frustrações, as dores da perda, o encontro gostoso, o arrependimento. Vinicius (de Moraes) já dizia ‘é preciso um bocado de dor pra fazer um samba bom’ e ele tá com razão, na dor, com certeza, nascem as melhores melodias, que alegram corações através de um coração triste que compôs aquilo – revela.

E se alguém quiser conhecer a vida de Celinho, ele dá uma sugestão:

– Nas minhas letras, está contada a minha vida e, às vezes, por traz de uma música bonita tem muita dor, sofrimento, mas quando a música sai dá um conforto, um alívio, é um filho que nasce.

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