A voz marcante e afinada já nasceu com Célia Pedro. Mas foi a dor de ter o coração partido que a apresentou ao fado, 20 anos atrás. A profundidade das canções portuguesas tocaram a alma da itajaiense a ponto de fazerem dela uma cantora profissional – uma paixão que ultrapassou fronteiras e a levou para o mundo.

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Ex-funcionária dos Correios em Itajaí, a fadista, que se apresenta na Marejada este final de semana, encontrou na música uma forma de transformar antigas feridas em arte:

– O fado mexe com a alma, com o sentimento. No palco eu me seguro, mas se me olharem bem nos olhos, verão que estou chorando. E arrepiada.

A história de Célia Pedro com a música começou ainda na infância. Dona de um tom de voz invejável, aos 11 anos tentou a sorte em um show de calouros no antigo Cine Itajaí. Usando vestido e sapatos da mãe, que ela pegou escondida, ganhou o primeiro lugar no concurso.

A aventura infantil renderia a Célia um castigo, que não foi suficiente para afastá-la das canções. Já adulta, fez dos Correios um palco permanente. Durante 40 anos, colegas e clientes se acostumaram a ouvi-la soltar a voz – e foi um deles, um músico de nome Assis, quem a apresentou à sonoridade portuguesa.

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Célia havia decidido aprender a tocar violão. Mas bastou olhar pela primeira vez para uma guitarra portuguesa, na casa de Assis, para que ela descobrisse que estava – com licença para a redundância – fadada ao fado:

– A primeira nota me arrepiou. Me apaixonei pela melodia, que me tocou. Falei que não queria mais tocar, queria cantar música portuguesa.

Nos meses seguintes Célia decoraria nove canções, que foram apresentadas pela primeira vez na 6ª edição da Marejada. Os pedidos de shows foram aumentando e ela precisou conciliar o trabalho e a música até a aposentadoria, três anos atrás.

Pelo mundo

O fado levou Célia a Portugal, onde ela soltou a voz em Lisboa, Coimbra, Cadabal e Nova Ericeira. Também a apresentou a grandes nomes, como o compositor Vítor Duarte Marceneiro, que já hospedou-se na casa dela, no Bairro São João.

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– Os portugueses recebem muito bem o fado com sotaque brasileiro. Chama a atenção deles – diz Célia.

Embora made in Brasil, o modo de cantar da fadista é bastante carregado do sotaque peixeiro, o que deixa a sonoridade parecida com o original português. Em 2012, o fado abrasileirado de Célia ganha uma pitada a mais: como é ano de Brasil em Portugal, a cantora faz uma homenagem à junção das duas culturas.

Pela primeira vez, o show que é apresentado na Marejada conta com a presença de mulatas e de um fado composto por Chico Buarque, numa apresentação repleta de emoções:

– Quando se ouve um fado, ou você mergulha nele ou deixa o fado mergulhar em você.

A fadista

Nome: Célia Pedro

Natural de: Itajaí

Idade: 60 anos

Profissão: servidora pública aposentada

Fado preferido: Estranha forma de vida, de Amália Rodrigues

Frase: “O fado entrou em minha vida em um momento de muita angústia, foi a minha fuga”

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Na Marejada

Sábado: 22h às 23h30min, no Palco Folclórico (auditório)

Domingo: 21h às 22h30min, no Palco Folclórico (auditório)

O fado

Considerado patrimônio oral imaterial da humanidade pela Unesco, o fado é um estilo musical português que se popularizou em Lisboa, no Século 19. Embora famoso pelas letras profundas e carregadas de sentimentos, como saudade, dor e ciúme, também tem uma vertente folclórica e divertida. Em Portugal, as casas de fado se multiplicam, apresentando aos turistas um pouco da cultura local.

Confira vídeo com apresentação da fadista Célia Pedro