The Vicious Kind e 500 Dias com Ela, duas bem-sucedidas produções independentes norte-americanas lançadas em 2009 (a primeira não chegou aos cinemas brasileiros), resumem a pegada de Celeste e Jesse para Sempre. Comédia romântica indie da hora, o longa-metragem de Lee Toland Krieger estreia nesta sexta-feira nos cinemas.
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Celeste e Jesse são, respectivamente, Rashida Jones (de Eu te Amo, Cara) e Andy Samberg (comediante do Saturday Night Live), um casal que, à moda dos protagonistas de 500 Dias com Ela, está terminando uma relação – o que, para um dos dois lados, parece o fim do mundo. A semelhança com The Vicious Kind tem a ver com a mão do diretor: ambos os títulos são assinados por Lee Toland Krieger e contêm idas e vindas às vezes não tão óbvias e uma abordagem relativamente complexa. Isso, ressalte-se, já o coloca num patamar superior, na comparação com a maioria dos títulos do gênero despejados no mercado pela indústria de Hollywood.
É que, em Celeste e Jesse para Sempre, esse “parece o fim do mundo” vai mudando de lado, não exatamente surpreendendo o espectador, mas escancarando que, em se tratando de relacionamentos, determinadas certezas às vezes podem ser enganadoras. Celeste e Jesse ficaram juntos durante seis anos e estão em processo de separação. Ela acha o parceiro imaturo para dar um passo adiante. Há alguns meses, decidiu que eles seriam, teoricamente, apenas bons amigos.
Acontece que Jesse ainda não saiu de casa, e ambos seguem fazendo tudo junto, incluindo aquelas brincadeirinhas típicas dos adolescentes mais apaixonados. A situação é um tanto estranha, como constatam seus melhores amigos Beth (Ari Graynor) e Tucker (Eric Christian Olsen), e vai de fato ficar complicada quando eles começarem a ter novos casos – especialmente quando aparecer a bela Veronica (Rebecca Dayan).
Uma fatia, digamos, mais sisuda do público pode se deixar irritar, não por conta dessas brincadeirinhas, e sim devido a uma certa afetação típica das produções que buscam dialogar com as plateias mais descoladas. Aqui, no entanto, a trilha sonora é boa, surpreendente até mesmo para essas plateias (nada além de Littlest Things, de Lily Allen, cantada pelos personagens no início, é muito conhecido), e algumas sacadas revelam comentários perspicazes e uma autoironia rara em produções do tipo.
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Especialmente no que diz respeito ao ambiente de trabalho de Celeste, uma agência moderninha de comunicação e marketing que lida com tendências de mercado e que, por acaso, terá a oportunidade de transformar uma cantora que parece um genérico de Britney Spears numa nova Lady Gaga.
A tal cantora, boa composição da jovem atriz Emma Roberts a partir de um caldeirão de referências, só não é o maior destaque no elenco de apoio devido à presença de Elijah Wood como o sócio gay de Celeste. Mas o filme é de Rashida Jones. Filha do músico Quincy Jones, ela também assina o roteiro de Celeste e Jesse (juntamente com Will McCormack). Cai em armadilhas e empilha clichês (o pior deles é o seu discurso de dama de honra, com jeito de “moral da história”, no casamento de seus amigos Beth e Tucker). Mas entrega ao espectador a jornada de autodescoberta de uma ótima personagem, rica em contradições e dotada de uma fraqueza que não imaginava ter – algo que espelha com precisão um certo tipo de jovem adulto bem-sucedido e autossuficiente, um tanto perdido ao lidar com a sensação de poder advinda da impressão de ter tudo ao seu alcance.