Quem lembra de Valdo, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1990, deve ter saudade dos tempos em que Santa Catarina emplacava seus craques em competições como Mundial e Olimpíada. Já virou rotina revelarmos jogadores, o que prova o crescimento dos times catarinenses. Mas os barriga-verdes legítimos têm morrido na praia das convocações.
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Às vésperas dos Jogos de Londres e na reta final de preparação para a Copa do Mundo no Brasil, o técnico Mano Menezes faz os últimos testes no grupo de jogadores e nenhum representante do Estado faz parte do cobiçado elenco verde-amarelo. Não por falta de opções. Talvez pelo momento dos nossos atletas? Preferências do treinador?
O fato é que, provavelmente, ainda não será desta vez que vamos torcer pelas pratas da casa. Nos conforta a esperança no futuro e a alegria de famílias que escolheram SC como lar. E olhe lá…
Eles ficaram no “quase“
Nas últimas Copas, os catarinenses ficaram no “quase”. Em 2002, Felipão contava com os desarmes do volante Eduardo Costa. O jogador de Florianópolis esteve na Copa América de 2001, mas acabou ficando de fora da lista do Mundial na Ásia, no ano seguinte. Quando Emerson foi cortado, Eduardo Costa estava de férias em Florianópolis. O coração bateu mais forte, mas Felipão acabou escolhendo o meia Ricardinho para a vaga do volante cortado. Aos 29 anos, Eduardo parece distante da Seleção.
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Assim como o volante Fernando, de 31 anos. O jogador de Anita Garibaldi, que ajudou o Bordeaux a se transformar em um papa títulos na França entre 2007 e 2009, teve passagens importantes pela Seleção a partir de 2003. Parreira não o levou à Alemanha (2006); com Dunga, veio a esperança. Foi campeão da América (2007), mas não emplacou o Mundial da África.
Outro que “morreu na praia” em 2010 foi o lateral Filipe. O garoto de Jaraguá do Sul, formado no Figueirense, fez parte do grupo, mas perdeu a vaga para Michel Bastos e Gilberto. Com 26 anos, Filipe ainda tem fôlego e futebol para tentar conquistar Mano Menezes. Os outros dois parecem ter sido”esquecidos”.
Chances desperdiçadas
Difícil mensurar o que incomoda mais um jogador: nunca ter tido chance na Seleção ou ter sido chamado e jogar a oportunidade fora. Foi o que aconteceu com dois catarinenses nesta Era Mano Menezes. Um foi o goleiro Renan. O garoto de 21 anos (teria, portanto, idade olímpica), nascido em Nova Trento e formado no Avaí, foi convocado em 2010 para jogar um amistoso contra os Estados Unidos. Era a segunda vez que um jogador era chamado atuando por um clube catarinense – o outro foi o zagueiro Alexandre Lopes, no Criciúma.
Renan também foi o atleta com menor número de jogos como profissional (14) a chegar à Seleção. Foi parar no Timão, mas fracassou quando teve a chance no time titular e deu adeus ao Parque São Jorge e à equipe nacional.
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Outro caso foi o do meia Douglas. Nascido em Criciúma, hoje com 30 anos, o atleta foi convocado em 2010 para um amistoso contra a Argentina no Catar. Entrou no segundo tempo e cometeu um erro que pode ter “queimado” suas futuras convocações: aos 46 minutos, errou um passe que resultou na derrota brasileira. Nunca mais foi chamado.
Daqui para o estrelato
O Estado também virou vitrina para jogadores de fora. Dois craques “lançados” aqui têm idade olímpica e fazem parte dos planos imediatos do técnico Mano Menezes: Leandro Damião e Wellington Nem. “Leandrão” chamou a atenção do Inter com os 12 gols marcados no Catarinense de 2009, pelo Atlético- Ib. No Inter, passou rapidamente das categorias de base para o profissional e dali para a prancheta de Mano Menezes foi apenas uma questão de tempo. Aos 23 anos,é presença constante nas convocações do treinador.
O caso de Nem é um pouco diferente. Carioca, formado no Fluminense, o meia foi emprestado ao Figueirense para ganhar experiência. Foi tão bem que o Tricolor o levou de volta às Laranjeiras. Mano reconheceu o talento do garoto, de apenas 20 anos, e pode levá-lo a Londres.
O caminho da dupla foi trilhado por outros jogadores na última década: Maicon (formado no Criciúma), Ramires (projetado pelo JEC) e Michel Bastos (a boa passagem no Figueira o levou à Europa, onde chamou a atenção de Dunga) disputaram a Copa de 2010; André Santos (revelado pelo Figueira) era titular de Mano Menezes até o vexame dos pênaltis perdidos na Copa América.
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Esperança em pés juvenis
Se agora a situação não é favorável, o futuro reserva esperança. O catarinense Jean Deretti é uma jovem promessa que pode sonhar com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Em 2016, por exemplo, ele estará com a idade-limite de 23 anos, e pode chegar lá bem habituado com a amarelinha. Natural de Jaraguá do Sul, o meia de 19 anos foi chamado pelo técnico Ney Franco para defender o time sub-20 do Brasil no Torneio Internacional 8 Nações.
– Estou muito feliz com a oportunidade de ter entrado como titular e ter ajudado a Seleção – comemorou o garoto, que até gol fez no torneio.
Depois da competição, que termina neste domingo, Deretti entra na disputa por vaga na equipe que defenderá o Brasil no Sul-Americano sub-20 e no Mundial da categoria. Façanha que o Figueirense pode ajudá-lo a conquistar. Deretti iniciou a carreira nas categorias de base do Alvinegro.Promovido à equipe principal, disputou o Brasileiro de 2011 e o Catarinense deste ano, quando recebeu o prêmio Top da Bola na categoria” jogador revelação”.
Castigados pelo destino
O destino impediu que duas promessas de Santa Catarina chegassem ao estrelato.Mahicon Librelato e Sérgio Gil tiveram carreiras cercadas de expectativas, interrompidas por trágicos acidentes. Quem acompanhou a trajetória da dupla não tem dúvidas de que eles teriam condições de brigar por vaga em um Copa do Mundo ou em uma Olimpíada.
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Mahicon Librelato nasceu em Orleans e brilhou no Criciúma antes de ser contratado pelo Inter, em 2001 – foi, até então, a maior transação comercial do futebol catarinense. Aos 20 anos, Librelato justificava o investimento com grandes atuações e já era mapeado para disputar a Olimpíada de Atenas, três anos mais tarde. Mas um acidente na Avenida Beira-Mar, em Florianópolis, deixou o Estado de luto e abriu uma lacuna no imaginário da bola: até onde o atacante teria chegado?
Outro que teve história trágica foi Sérgio Gil. O meia atuava pelo Corinthians quando sofreu um acidente na BR-116, aos 18 anos. O garoto de Florianópolis foi campeão sulamericano com a Seleção sub-20 e disputaria o Pré-Olímpico para os Jogos de Barcelona, em 1992.