Por volta de 14 horas de terça-feira, um grupo de dez crianças lanchava nas mesinhas do Centro de Educação Infantil Recanto dos Querubins, na unidade do bairro Costa e Silva. Rapidamente, os alunos voltaram para dentro das salas de brinquedos e as professoras fecharam as janelas. Não estava chovendo, não havia fumaça ou algum cheiro desagradável. As professoras fecharam a janela simplesmente porque queriam evitar que o barulho ultrapassasse os limites dos muros dos vizinhos.

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Uma família que mora ao lado está incomodada. Uma briga é travada desde outubro do ano passado entre o CEI, que pertence à entidade social dos Querubins, e os moradores. A situação se agravou esta semana, quando uma ameaça chegou por e-mail à Fundação do Meio Ambiente (Fundema) de que este impasse seria resolvido ao “estilo norte-americano” e “fazendo justiça com as próprias mãos”. A direção da entidade explicou que está planejando fechar as portas da creche, caso não encontre uma solução ou não entre em acordo com os vizinhos.

– Não se pode impedir que as crianças chorem ou falem alto. Se fechar, eu não tenho condições de pagar outro. E achar uma vaga em algum CEI público no meio do ano é uma tarefa impossível -, lamentou uma mãe que chegou na terça-feira para pegar o filho e soube da notícia.

No fim do ano passado, a direção chegou a pensar em fechar porque foram muitas reclamações para Secretaria de Educação, Fundema e Seinfra. Mas, a pedido do pais, não fechou as portas.

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– Mesmo assim, de 48 alunos, o número diminuiu em 2013 para 28 -, explicou a representante legal da entidade, Patricia Aparecida Ronchi.

Direção e APP registram BO

A direção e a Associação da Pais e Professores do CEI procuraram a delegacia, na segunda-feira, para registrar um boletim de ocorrência após a nova reclamação por e-mail.

– Estamos com medo. Esta pessoa aparece na sacada de sua casa e começa a berrar. Reclama do barulho, chama as professoras de burras -, observou a presidente da APP, Alessandra Aparecida Sell.

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– Teve um dia que precisamos levar as crianças para dentro. Duas delas ficaram muito assustadas e uma começou a chorar -, lembrou uma das professoras.

O morador já chegou a colocar caixas de som na sacada, com música alta, para atrapalhar as crianças.

– Quando ele notou que as crianças gostaram da música, ele começou a tocar elas ao contrário -, contou a diretora.

A rotina de aula e de brincadeiras precisou ser alterada após as inúmeras reclamações.

– As crianças brincam muito menos no parquinho do que poderiam -, disse uma das professoras do CEI.

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– Se fecharmos, eu não sei mais se quero continuar sendo professora. Se perdemos a nossa luta para uma pessoa que não gosta de crianças, então vou me desencantar -, lamentou. O CEI funciona somente até as 19 horas.

Supervisoras vistoriaram e aprovaram

As denúncias dos moradores também chegaram à Secretaria de Educação de Joinville. Mesmo que a administração do CEI seja particular, a secretaria supervisiona as atividades da entidade.

– Enviamos as supervisoras para avaliarem se o barulho é excessivo e elas me garantiram que não encontraram anormalidades. O local tem alvará de funcionamento e sua proposta pedagógica foi aprovada -, avisou a coordenadora da educação infantil, Marlize Martinelli.

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Mesmo assim, a Fundema orientou o CEI a apresentar um cronograma de obras para mostrar interesse ao menos em diminuir o problema do barulho. Aldo Borges, presidente da fundação, sugeriu a construção de paredes de vidro. Pais e professores vão se reunir para tratar da situação. A ideia é procurar parceiros.

“É muito barulho”, diz morador

Há uma pasta cheia de reclamações protocoladas na Fundema pelo morador vizinho do CEI. Na casa moram um casal e os dois filhos mais velhos. Um dos moradores contou que a situação é muito complicada e que o barulho é extremo.

– Todos dizem, ?ah, mas são só crianças?. Mas é muito barulho -, observou.

O homem de 38 anos disse que a família precisa usar protetores auriculares durante o dia.

– Não podemos abrir a casa, não conseguimos ver televisão direito por causa do barulho -, salientou.

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O homem ainda confirmou que colocou as caixas de som na sacada.

– Fiz isso durante uns três dias. Coloquei o som alto e ainda tirei o som grave. Deixei só o agudo, que incomoda mais mesmo. Se eles podem fazer barulho, por que eu não posso? -, questionou.