A delegação brasileira alcançou cinco finais no Mundial de Atletismo de Berlim, encerrado no último domingo. As melhores participações de atletas nacionais foram dois quintos lugares (revezamento 4x100m feminino e Fabiana Murer, no salto com vara), dois sétimos (Maurren Higa Maggi, no salto em distância, e o revezamento 4x100m masculino) e um oitavo (Jadel Gregório, no salto triplo). Na avaliação da Confederação Brasileira de Atletismo, a participação foi positiva – só faltou a medalha.

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O diretor-técnico da CBAt, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, declarou que todos os planos de treinamento exigidos pelos técnicos foram atendidos.

– Fizemos uma campanha exatamente igual a dos Jogos de Pequim, o mesmo número de finais. O que nos faltou foi a medalha. Quando não se ganha a medalha, as cobranças aparecem. O ano pós-Olimpíada é sempre o da ressaca e nós mantivemos o nível – declarou Arataca.

No Mundial de Osaka, no Japão, em 2007, o Brasil foi à final em oito provas e o melhor resultado foi alcançado por Jadel Gregório, prata no salto triplo. Para o ex-atleta medalhista olímpico e comentarista do SporTV Robson Caetano, o país precisa aprimorar a preparação para chegar ao atlíssimo nível de rendimento:

– Vigésimo sexto lugar está de bom tamanho. O Brasil vem há muitos anos melhorando a qualidade dos atletas, aumentando o número de finais em campeonatos mundiais, mas para a medalha é mais complicado. Não depende da confederação, mas do atleta e do técnico. O Brasil ainda carece de bons treinadores, não que não sejam competentes, porém falta o detalhe – explicou.

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O presidente da CBAt, Roberto Gesta de Melo, destacou que a entidade buscará um debate mais aprofundado com os clubes para estudar mudanças. Na opinião de Caetano, é importante que os clubes entendam e apostem no potencial do esporte como negócio:

– Se você tem uma equipe, como a Jamaica, que se colocou entre as três primeiras potências, começa a ter um reconhecimento. Isso chama anunciantes, parcerias. As cobranças em cima dos atletas também precisam ser maiores. Não adianta dar o dinheiro, se você não exige do atleta. É preciso haver cláusulas claras nesse sentido. Cobrança na aplicação do recurso – reterou.

Questionado se o problema do doping às vésperas da competição prejudicou o Brasil, o técnico Arataca minimizou. Segundo ele, a CBAt agiu rápido e resolveu a questão em cinco dias. Em Berlim, as lesões foram o que mais atrapalharam o desempenho dos competidores:

– Em função de nossos atletas não estarem na melhor forma física, não por não treinarem, mas em razão de lesões. Os nossos atletas com chances de medalha, com exceção da Fabiana Murer, não se sentiram bem fisicamente durante a competição – explicou.

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Mudanças e inspiração na Jamaica

O Conselho Técnico da CBAt se reunirá com o Conselho de Clubes para avaliar mudanças na preparação dos atletas, visando o próximo Mundial e o Pan-Americano, ambos em 2011. O Brasil mantém intercâmbio com Cuba e há um contato com o Leste Europeu. Ao falar do fenômeno Jamaica – segunda colocada no quadro de medalhas com sete ouros e 13 no total – Arataca salientou que o foco do país caribenho no atletismo é forte há anos:

– Eles têm um programa de treinamento de 14 anos, um grande centro de treinamento e se concentraram na área de velocidade. Não é algo isolado. Há um investimento muito forte do governo, não que no Brasil não tenha. Mas isso só vai alavancar aqui quando houver um investimento forte nas escolas – comentou.

Na opinião de Robson Caetano, outro fator que conta a favor da Jamaica é a valorização dos ídolos formados no atletismo. Situação rara no Brasil.

– A Jamaica respeita a história dos seus atletas. Há competições com o nome deles lá. Aqui, você coloca uma competição com o nome de José Telles da Conceição e vai ter meia dúzia de pessoas no estádio e um monte de atletas competindo. Falta um link entre o cara carismático e o público. Você não tem isso hoje no Brasil, como há o Usain Bol na Jamaica e Tyson Gay nos EUA – salientou.

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