“Não natural, violenta e causada pelo Estado brasileiro”. É o que diz a nova versão da certidão de óbito do engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva, corrigida nessa quinta-feira (23). Emitida pelo Cartório da Sé, na capital paulista, a mudança atende uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 13 de dezembro de 2024. As informações são do g1.

Continua depois da publicidade

Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp

Procedo a retificação para constar como causa da morte de RUBENS BEYRODT PAIVA, o seguinte: não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964 e para constar como atestante do óbito: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)”, diz o trecho da nova certidão de óbito.

Na antiga versão do documento, de 1996, o ex-deputado era considerado desaparecido desde 1971. A conquista foi da esposa, Eunice Paiva, que passou anos em uma luta judicial.

Foto de Fernanda Torres em túmulo de Eunice revela homenagem silenciosa de “Ainda Estou Aqui”

Continua depois da publicidade

O filme “Ainda Estou Aqui”, que retrata a vida da família Paiva após o “desaparecimento” de Rubens, recebeu três indicações ao Oscar (melhor filme, atriz e filme internacional) e rendeu um Globo de Ouro à Fernanda Torres. Na trama, ela faz o papel da esposa e dona de casa que acabou se tornando uma das maiores ativistas dos direitos humanos do país.

Saiba mais sobre Ainda Estou Aqui

Cartórios do Brasil inteiro devem cumprir uma resolução aprovada por unanimidade pelo CNJ. São cerca de 202 certidões de óbito que devem ser corrigidas. Os 232 desaparecidos durante a ditadura terão, finalmente, direito a um atestado de óbito. Todos os registros terão que informar, ainda, que essas pessoas foram vítimas da violência cometida pelo Estado.

Foi a Comissão Nacional da Verdade que reconheceu o número total de 434 mortos e desaparecidos na ditadura.

Continua depois da publicidade

A entrega dessas certidões retificadas, no entanto, não será feita pelos cartórios. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania explicou que será a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) que deve providenciar as entregas dos documentos em solenidade, com pedidos de desculpas e homenagens.

— Elas não precisam vir ao cartório. Elas serão contactadas no momento oportuno já com as certidões em mãos para que elas possam ter seu direito de reparação consagrado — esclareceu Gustavo Renato Fiscarelli, vice-presidente do Operador Nacional do Registro Civil, ao g1.

Os estados que lideram a lista de vítimas são São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco e a região onde atualmente está o Tocantins.

Irmãs foram as primeiras a emitir a certidão de óbito em SP

Crimeia Almeida e Amélia Teles são irmãs, e foram as primeiras a emitirem a certidão de óbito de um amigo em comum, em São Paulo, após a resolução do CNJ.

Continua depois da publicidade

— Eu sempre tive esperança. A verdade sempre vence. E esse atestado anterior aqui era mentira — pontua Crimeia Almeida, que é enfermeira aposentada.

As duas irmãs foram presas, torturadas e viram Carlos Nicolau Danielli morrer sob tortura, no DOI-CODI, na capital paulista, em 1972. Na certidão de óbito, a causa da morte constava como “anemia aguda traumática”. O novo documento, retificado no dia 7 de janeiro, diz que a morte de Carlos não foi natural, mas violenta e causada pelo Estado.

— A violência que ele sofreu foi causada pelo Estado autoritário, um Estado ditatorial. Está escrito aqui. Isso é uma questão de justiça — diz Amelinha Teles, professora aposentada.

*Sob supervisão de Andréa da Luz

Leia também

Livros sobre a ditadura que foram adaptados para o cinema

Ainda Estou Aqui faz história e é indicado a melhor filme, principal categoria do Oscar