Sidinei do Vale Motta postou-se ao lado do primeiro dos tapetes que coloriram o chão do Centro de Blumenau quinta-feira de manhã para assistir à saída da procissão de Corpus Christi, a partir da Catedral São Paulo Apóstolo. Assim que o Santíssimo, levado pelo administrador diocesano da Diocese de Blumenau, dom João Salm, passou em sua frente, fez o sinal da cruz e mal conseguiu disfarçar as lágrimas.

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A multidão seguiu adiante sem saber que fora ele, anônimo entre as centenas de fiéis, o responsável por aquele tapete, que exibia uma mão segurando a Eucaristia.

– Sempre vale a pena. São quase cinco horas de trabalho para Jesus passar por um segundo. A gente se dedica para fazer alguma coisa por Ele – disse Motta, após levar alguns segundos para se recuperar da forte emoção.

::: Católicos participam da procissão de Corpus Christi em Blumenau

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Por ironia, esse primeiro tapete foi o último a ficar pronto. Natural de São José dos Pinhais (PR), Motta, que é empresário, chegou às 4h10min para iniciar a confecção. Começou sozinho, até que outros dois, sem jamais tê-lo visto anteriormente, se juntaram a ele e ajudaram no trabalho, que só foi concluído às 9h15min. Foi uma corrida contra o tempo. E ver tudo pronto à espera da procissão comove Motta mais uma vez:

– Se não tivessem me ajudado, talvez não estivesse pronto. É inexplicável. Podia estar fazendo outra coisa, mas levantei cedo para vir ajudar. Isso me dá emoção.

A caminho do café oferecido pela igreja aos que participaram da produção dos tapetes, Alma Bona comenta que antigamente era mais fácil arranjar pessoas para ajudar na procissão. Mesmo com dores no braço e problemas no joelho direito, ela se negou a ficar em casa. Aos 73 anos, às 5h já estava no Centro com o grupo da Capela São Francisco de Assis.

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– Cada uma faz um pouco. Mesmo com o frio a gente veio. Gosto de ajudar, nem poderia mais, mas ajudo.

No mesmo grupo, responsável pelos tapetes em um trecho da Curt Hering, estava o casal Maria de Jesus e Ivo Chiarello. Era a primeira vez que Maria participava: aproveitou a folga no trabalho e, empolgada pelo que chamou de espírito de equipe, foi para o Centro com o marido. Já Ivo começou na procissão com os pais, há 30 anos:

– Acordar cedo não é problema. É um dia festivo.

Por determinação da organização, os trabalhos iniciaram às 5h. Adriana Conceição, por exemplo, nem dormiu. Saiu do trabalho às 5h30min, foi em casa buscar os dois filhos, que faziam questão de ajudar, e partiu para a Paul Hering:

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– Agora participo sempre.

Café alimentou quem ajudou a criar os tapetes

Desde as 5h30min um grupo de cinco mulheres preparava no salão da igreja o lanche para os fiéis envolvidos com a produção dos tapetes. Teve café, cachorro-quente e cucas para cerca de 200 pessoas. Entre as responsáveis pela cozinha estava Erna Bertoldi, há 35 anos ajudando no dia a dia da catedral:

– É muita satisfação se doar ao próximo. Feliz de quem pode.

Sentada a uma das mesas do salão, irmã Janaine Muniz de Brito, da Ordem das Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo, conta que a organização dos trabalhos começou há um mês. Ela explica que os temas dos tapetes são inspirados na Eucaristia e em outros temas ligados à igreja, como as missões evangelizadoras.

A procissão começou por volta das 10h, logo após a missa. Ao final, Maria de Lourdes Teixeira recolheu alguns ramos que tinham servido de decoração aos tapetes. Disse que, em forma de lembrança, daria um para cada um dos seus quatros filhos.

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– Tem que ter fé. Sem fé não adianta nada – contou ela, exibindo um rosário branco nas mãos.