A empresária Cátia Regina da Silva, de São Francisco do Sul, morreu há exatamente um ano, na noite de 24 de julho de 2019. Ela tinha 46 anos e havia desaparecido após voltar de uma viagem a São Paulo. O carro dela foi encontrado carbonizado na Praia do Ervino na manhã seguinte e o corpo de Cátia foi localizado horas depois do mesmo dia, às margens da BR-280.

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Na manhã desta sexta-feira (24), familiares se reuniram para homenageá-la e fazer orações em seu túmulo.

— A gente lembra todo o dia dela. Tem uma câmera na loja que era controlada pelo celular dela e sempre quando ela ia a São Paulo ela falava com a gente pelo microfone da câmera. “Estou vendo vocês, vão trabalhar”, ela brincava. Não tem como não lembrar dela. É o dia inteiro — conta a filha mais velha, Ana Paula.

As filhas agora tentam dar continuidade ao trabalho da mãe e aguardam justiça para encerrar o caso.

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— Parece que ela ainda não descansou porque ainda não conseguimos justiça. O sentimento é de tristeza, revolta — pontua.

Familiares visitaram o túmulo de Cátia nesta sexta-feira
Familiares se reúniram no túmulo de Cátia nesta sexta-feira (Foto: Arquivo Pessoal)

O que aconteceu?

As apurações da Polícia Civil demonstraram que Cátia voltava de uma viagem de ônibus a São Paulo, onde foi adquirir mercadorias para revender em sua loja, em São Francisco do Sul. Ela desceu na rodoviária de Joinville por volta das 22 horas e depois embarcou no próprio carro para fazer o trajeto para casa.

Cerca de 50 minutos depois da chegada, ela fez contato com a filha mais velha, de 24 anos, por meio de mensagem de áudio. Ela disse à jovem que estava a caminho de casa, “no Trevo do Sinuelo”, e chegaria em cerca de 20 minutos. Desde então, não deu mais notícias.

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Como ela não chegou, as filhas começaram a ligar, mas o aparelho celular estava fora de área. Durante a madrugada, os familiares foram às ruas para fazer buscas por Cátia. Pela manhã, quando o carro foi encontrado na Praia do Ervino, em São Francisco, o irmão dela reconhecido o veículo. No entanto, não havia sinais de que Cátia teria estado no local.

Segundo a Polícia Civil, durante o trajeto, na BR-280, a vítima foi abordada por um veículo Golf com dois ocupantes. O automóvel, que já estaria seguindo a comerciante desde Joinville, estava parado às margens da rodovia com o pisca alerta ligado. Os dois homens desceram do veículo e abordaram a vítima, portando um crachá falso da Receita Federal e um distintivo falsificado da Polícia Federal.

Qual é a suspeita da motivação?

O inquérito da Polícia Civil apontou três pessoas que foram indiciadas pelo assassinato da empresária. Foram identificados um casal e o compadre deles — para a polícia, os homens executaram o crime, que teria sido pensado pela mulher. A mulher indiciada era também comerciante e a polícia estabeleceu como principal linha investigativa a desavença entre os comerciantes com a vítima.

Segundo a investigação da polícia na época, a vítima relatou em vídeos na página da loja que estava sofrendo ameaças de órgãos como prefeitura e Receita Federal, além de outros comerciantes locais. As ameaças tinham relação com a atividade comercial desenvolvida por Cátia, já que ela comprava roupas na capital paulista para revender em seu estabelecimento com uma margem baixa de lucro. O delegado explicou que a situação passou a incomodar alguns concorrentes.

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Onde estão os principais suspeitos atualmente?

Das três pessoas indicadas, a mulher permanece em prisão preventiva domicialiar porque deu à luz a uma criança depois do crime. Ela ainda estava grávida quando foi presa no dia 2 de agosto. O marido dela permanece foragido. De acordo com a defesa, o processo foi suspenso em relação a ele porque ele não foi encontrado para ser intimado. Quando for localizado, ele deve responder à ação.

Já o terceiro indicado, compadre do casal, era um homem de 52 anos. Ele foi encontrado no dia 13 de agosto em Balneário Barra do Sul e permanece em prisão preventiva na Unidade Prisional Avançada (UPA) de São Francisco do Sul. Em razão da pandemia, a defesa fez um pedido de habeas corpus para prisão domiciliar, uma vez que o homem possui comorbidades. No entanto, o pedido foi negado pelo Tribunal do Júri de Santa Catarina e agora a defesa vai recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.

O que se sabe sobre as provas do crime?

Cátia foi atingida por um disparo de arma de fogo, mas a cápsula não foi localizada no local do crime. Durante a prisão da primeira suspeita, no início do mês de agosto de 2019, foi encontrado um revólver calibre 38 com a numeração raspada. A suspeita é de que teria sido usado para matar a comerciante. A arma foi encaminhada para perícia para ser realizado um confronto balístico, mas não foi possível afirmar se era a mesma arma do crime.

Segundo o advogado de defesa dos acusados, no processo nenhuma das provas trazidas são contundentes. Ainda segundo ele, algumas provas foram supostamente fraudadas.

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— Não estou sendo leviano, falando de inocência ou culpados. Me refiro às provas técnicas contidas nos processos. Aquela situação das roupas. Aquilo ali é tudo balela. Há fotos nas redes sociais de várias roupas iguais, inclusive da loja do acusado, que foram as primeiras postagens. Ou seja, pelas roupas, é forçoso da delegacia querer empurrar essa situação de que eles iam cometer esse crime e levariam as roupas para a loja — pontua o advogado Odilon Amaral Martins.

Já para a advogada de acusação, Indiara Mesquita, há indícios de que a arma pode ter sido utilizada no crime pelas caracteríticas da perfuração. Ela defende também que há diversos depoimentos contraditórios ao longo das apurações e que comprovam a autoria dos acusados.

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O que diz a defesa?

Segundo Odilon, a defesa trabalha com a tese de negativa de autoria da mulher e do compadre do casal pela ausência de provas no processo.

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— A defesa tem um sentimento de admiração e respeito pelo o que a família sofreu. Ninguém merece sofrer isso. Buscamos trabalhar com o maior respeito possível — considera.

O que diz a acusação?

Segundo a advogada Indiara, o processo encontra-se pendente de apresentação de alegações finais por parte da defesa dos acusados. Ela pontua que que a defesa fez pedido de diligências, mas que estão pendentes.

Indiara também considera que o Ministério Público e assistência à acusação já apresentaram as alegações finais, requerendo a pronúncia dos acusados.

Após a finalização das diligências requeridas pela defesa e apresentação das alegações finais, o juiz deve decidir pelo julgamento. A acusação ainda afirma que solicita júri popular e defende que, a partir da pronúncia e provas colhidas nos autos criminais, os três indicados cometeram o crime.

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