Independentemente do ramo escolhido para investir, o resultado é sempre o mesmo: sucesso conquistado em pouco tempo e reconhecimento mundial com alguma criação que chegou recentemente ao paladar do consumidor. Fundadores da Eisenbahn em Blumenau, os irmãos Juliano e Bruno Mendes que revolucionaram o mercado da cerveja artesanal no Brasil, erguem, agora, um “império” do queijo em Pomerode.

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Ambos os negócios eles começaram do zero, sem qualquer noção de como produzir ou fabricar a bebida e alimento em questão. Ainda assim, nas duas vezes, as ideias deram mais certo do que os blumenauenses esperavam e a pergunta que não quer calar é: será que existe alguma receita especial por trás de tantos acertos? O que dá para adiantar é que a “fórmula” aplicada pelos irmãos para avançar nas duas especialidades foi praticamente a mesma — mas isso foi só o começo de tudo o que ainda estava por vir.

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Donos da Pomerode Alimentos, Bruno, de 46 anos, e Juliano, 49, são os responsáveis pela produção dos próprios queijos. De início, eles optaram por dar continuidade ao legado da empresa adquirida em 2013 e que já era conhecida por produtos tradicionais na cidade, como o queijo fundido, vendido em bisnagas.

Não demorou, porém, para que os irmãos começassem a inovar, trazendo receitas da Europa para a “pequena Alemanha” e lançando, em 2017, a Vermont, primeira linha de queijos dos dois. Só que ainda assim, não parecia o suficiente. Eles precisavam se desafiar mais.

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— Em determinado momento a gente percebeu uma mudança no consumidor. O brasileiro começou a valorizar mais produtos fabricados aqui, com uma história brasileira e com nomes daqui. E, nos sentindo mais experientes, começamos a nos aventurar no mundo dos queijos autorais — conta Juliano.

Veja como é a fábrica por dentro

Foi a partir disso que, em 2019, os dois colocaram a mão na massa e produziram um queijo 100% dos “irmãos Mendes”, onde o processo de fabricação foi todo pensado pelos ex-cervejeiros. Surgiu, assim, o que é conhecido hoje como o melhor queijo do mundo: o Morro Azul.

Em abril de 2024, apenas cinco anos depois do “nascimento” do produto, o primeiro queijo autoral de Bruno e Juliano foi considerado o melhor do mundo em uma premiação internacional, que ocorreu em São Paulo.

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A competição contou, ao todo, com 1,9 mil produtos que passaram por uma análise de 300 jurados de diferentes lugares do mundo. No final, quem conquistou o paladar dos avaliadores, desbancando concorrentes brasileiros e do exterior, foi o queijo suave e cremoso dos irmãos Mendes — justamente o primeiro com receita exclusiva dos blumenauenses.

— Os tipos de produtos que a gente faz são os que a gente gosta. Se a gente não gosta, mas acha que ele pode vender muito, não fazemos. A gente procura confiar e se basear muito no nosso próprio paladar e gostos pessoais para definir que tipo de produto vamos colocar no mercado. Pode estar certo ou errado, mas é a maneira que escolhemos para fazer isso — revela Juliano.

Queijo Morro Azul sendo embalado (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

O nome do queijo que deu início à nova era da Pomerode Alimentos e que, hoje, também ajuda no crescimento desse “império” que os irmãos vêm construindo, pode ser explicado sem muitas delongas ao colocar os pés na fábrica dos dois. Em frente ao local em que a “mágica acontece” — ou seja, onde ocorre a produção dos queijos — um morro alto pode ser visto com nitidez enquanto divide espaço com as nuvens do céu.

Se a escolha do nome deu sorte aos ex-cervejeiros, não se sabe. Mas não há dúvidas de que o queijo ganhou ainda mais significado para os irmãos a partir de agora.

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— Com o queijo Morro Azul a gente atingiu um patamar muito difícil de alcançar. Ficamos muito satisfeitos com o que já aconteceu, mas é claro que a gente não pode parar por aí. Precisamos continuar pensando em coisas novas. Nós dois somos meio inquietos, na verdade. Agora estamos trabalhando com os queijos que já temos, mas eu tenho certeza que daqui a pouco já vai ter uma formiga que vai dar uma “coceira” e vamos ficar com vontade de criar um queijo novo. E a gente vai de cabeça — ressalta Juliano.

Assim como ocorreu 20 anos atrás.

Mas e se combinasse o queijo com a cerveja?

Apesar de terem comprado a Pomerode Alimentos em 2013, o interesse por queijos já se manifestava desde a época em que os dois tocavam a Eisenbahn junto com o pai. Juliano relembra, inclusive, que, assim como aconteceu quando decidiram se aventurar no mundo dos queijos, ao gerenciarem a cervejaria de Blumenau, em 2002, os irmãos também não tinham qualquer noção de como fabricar a bebida.

Assim, para levar o negócio adiante, eles tiveram de aprender o processo do zero e em pouquíssimo tempo. Em 2005, porém, a família já foi surpreendida com os primeiros prêmios na Alemanha por conta das cervejas produzidas em Blumenau e mal sabia que, décadas depois, passaria por experiência parecida, mas em um ramo bem diferente do que os irmãos estavam acostumados.

— Então, mais uma vez, foi tudo muito rápido. Mas eu acho que o que caracteriza a gente na hora de fazer as coisas é a busca por informação. Nós vamos a fundo, estudamos, procuramos entender o processo e virar especialistas para que a gente consiga tomar decisões e escolher os melhores caminhos — comenta Juliano.

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Bruno e Juliano com o pai, Jarbas, na época em que ainda comandava a Eisenbahn (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Mesmo sem ter em mente a produção de queijos para o futuro, Juliano explica que a família simpatizou com o produto ainda em 2006, depois que Bruno assistiu a uma palestra sobre a venda de cerveja como um acompanhamento para o queijo, nos Estados Unidos. Instigado já que, até aquele momento, ele só tinha ouvido falar da harmonização do alimento com o vinho, Bruno voltou para casa com o pai e compartilhou a ideia com o irmão.

A partir de alguns testes e do aprofundamento no assunto, os dois perceberam que a combinação realmente funcionava. Assim, eles passaram a colocar nos rótulos das cervejas quais eram os queijos que poderiam ser consumidos junto com a bebida. Até aquele momento, porém, os alimentos sugeridos pelos dois eram feitos por outros produtores, enquanto os irmãos focavam somente nas bebidas da Eisenbahn.

O destino mostrou, no entanto, que aquilo era só o começo do que o futuro ainda lhes reservava.

Início de uma nova era — e as lembranças do que ficou para trás

Em 2008, por questões de mercado, a família teve de vender a Eisenbahn e se redescobrir em um novo negócio. Apesar de algumas tentativas em diferentes áreas, a vontade de seguir no ramo do queijo parecia sempre falar mais alto na consciência dos irmãos, já que a paixão despertada ainda na época da cervejaria poderia ser, finalmente, levada adiante a partir daquele momento.

— E aí depois que a gente pesquisou bastante, pareceu uma boa ideia. De repente daria para fazer um trabalho no mercado de queijos parecido com o que a gente fez no mercado de cerveja. Que é levar informação para o consumidor, a história do queijo, como se harmoniza com a cerveja e tentar despertar esse interesse por produtos diferentes do que já havia na época — explica Juliano.

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Linha de queijos Vermont (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Dispostos a se aprofundar no assunto, Juliano e Bruno foram, em 2013, para os Estados Unidos com uma missão definida: aprender a fabricar queijos. Em um curso na Universidade de Vermont — nome que, mais tarde, também viraria parte da história dos irmãos —, os dois conheceram noções básicas sobre a produção do queijo e, logo depois, compraram a Pomerode Alimentos.

Em Santa Catarina, um consultor francês também os ajudou a entender melhor o que queriam naquele ramo que, até então, era totalmente desconhecido para eles. Mesmo que começassem do zero, Juliano e Bruno faziam questão de serem os responsáveis pela produção do próprio queijo.

— A gente não queria ficar preso à opinião de outros especialistas que já estavam no mercado. Então, resolvemos aprender, como a gente fez com a cerveja, para sabermos quais eram os limites — ressalta Juliano.

Hoje, Juliano e Bruno comandam a Pomerode Alimentos, comprada pelos irmãos em 2013 (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Isso não significa que foi um processo simples e fácil para os irmãos. Juliano explica que o queijo e a cerveja até possuem certas semelhanças, principalmente por ambos passarem pelo processo de fermentação — sendo alcoólica no caso da cerveja — e maturação, onde os produtos precisam de dias, meses ou, por vezes, até anos para alcançar o sabor esperado.

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O queijo Vale do Testo, por exemplo, necessita de ao menos 12 meses de maturação, segundo Juliano. O produto também chegou a ficar entre os melhores do mundo no World Cheese Awards, uma espécie de Oscar do setor, menos de dois anos após o lançamento da receita. À época, a competição ocorreu na Espanha e teve 4 mil inscritos.

Além disso, para Juliano, tanto o queijo como a cerveja são conhecidos por terem uma infinidade de tipos e possibilidades mundo afora. Ele ressalta, no entanto, que as semelhanças terminam por aí, o que também ainda causa nos irmãos um aperto no coração ao lembrarem dos tempos de cervejaria.

— A gente sente muita saudade. Cerveja é um mercado muito legal de se trabalhar, não só na questão profissional, mas na questão pessoal. A cerveja tem uma capacidade muito grande de gerar amizades e conexões. E era o mais legal daquela época, a gente não se esquece disso — confessa Juliano.

Cremosidade é uma das características predominantes do queijo Morro Azul (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Ele ressalta, no entanto, que trabalhar com queijo tem sido tão satisfatório quanto atuar com cervejas em Blumenau. Isso porque, para o empresário, o mercado do queijo também tem chamado cada vez mais a atenção das pessoas, despertando uma certa paixão pelo produto fabricado a partir do leite e se tornando até indispensável na vida de alguns admiradores.

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— São coisas que tocam o consumidor de formas diferentes, mas que têm a mesma capacidade de encantar as pessoas e tentar conquistar não só clientes, mas fãs. Tanto que tem muita gente que já nos diz que pode viver sem qualquer coisa, menos sem queijo — diz, aos risos.

E se depender do espírito inquieto e determinado dos irmãos Mendes, o que não vão faltar são ideias para atiçar ainda mais o paladar dos apaixonados por queijos daqui para frente e, quem sabe, conquistar outros tantos títulos de “melhores do mundo” no futuro.

Juntos, Bruno e Juliano constroem um “império” do queijo com a fábrica em Pomerode (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

*Sob supervisão de Augusto Ittner

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